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quarta-feira, 7 de março de 2018

Psicologia Budista Primeira Palestra

Por R Y O T A N  T O K U D A - do livro Psicologia Budista
Vamos começar as aulas sobre Psicologia Budista. Na verdade não existe uma Psicologia Budista, mas sim um estudo especial, que nós podemos considerar como se fosse uma Psicologia, a isto chamamos em japonês Yuishiki e em sânscrito Vijna Matravada. Praticantes Zen com muita experiência de meditação chegaram à conclusão de que este mundo é visto através de uma consciência que abrange um ponto de vista totalmente diferente. O Yuishiki é estudado através da prática da meditação e sempre junto com a prática da meditação. Essa teoria diz que todo este mundo é consciência e, para entendê-la, são necessários vários anos de treinamento e pesquisa. O Budismo não tem dogmas, baseia-se em algumas teorias fundamentais. A primeira delas diz respeito às características da existência. Que são em número de quatro. A primeira característica é Anikka, que, em sânscrito, significa impermanência. Todas as coisas deste mundo estão em constante mutação, tudo se transforma. Entretanto as pessoas estão querendo segurá-las pelo apego, mas nunca conseguirão, por isso o Zen diz que a vida comum é sofrimento. A segunda característica da existência é o sofrimento proveniente do apego. Em sânscrito, esta segunda característica se chama Dukkha. Toda a impermanência é insatisfação e dor, a dor é proveniente do apego que pro- 9 duz o sofrimento. Assim, nós podemos saber a terceira característica da existência, que é Anatman. Não há nada de permanente, é o que significa Anatman. Atman é o ego. Anatman é a negação do ego. Não existe ego, tudo é sem um ego permanente e nada tem identidade. Não se pode chamar eu, meu ou minha. Não somente as coisas todas não pertencem a você, mas o teu corpo também não pertence a você. A quarta característica da existência é, portanto, Nirvana. Existe um estado de extinção da dor, e existe uma paz que o mundo não pode dar nem tirar. Exatamente quando se chega a este estado de não-ego, não há nada para segurar, para pedir, é o vazio e com isto nós podemos encontrar tranqüilidade ou paz. Estas são as Quatro Características da Existência, mas seres humanos muitas vezes não entendem essa teoria e continuam ano após ano apegados às coisas não se dando conta que não podem possuí-las para sempre e sofrem com isso. Falaremos agora de outra teoria Budista fundamental. Esta teoria é considerada como o primeiro sermão do Buda depois de seu iluminamento. Quando ele estava analisando sua experiência do iluminamento, a primeira coisa que descobriu foi esta teoria, também chamada de As Quatro Nobres Verdades, a qual diz o seguinte: toda existência é dor; toda dor provém do apego, da ignorância; existe uma maneira de se extinguirem o apego e a ignorância e essa maneira é a prática do Caminho. Toda a existência é dor, sofrimento - Dukkha. No Budismo, os quatro sofrimentos principais são nascimento, velhice, doença e morte, porque todas as fases da existência humana encaradas sem sabedoria são sofrimento. Vi- 10 ver neste mundo é sofrimento, é adoecer e morrer. Existem também os sofrimentos secundários: primeiro, aquele proveniente da separação daqueles a quem amamos; em segundo lugar, o proveniente do encontro com aqueles a quem odiamos; em terceiro lugar, não conseguir alcançar aquilo que se deseja; finalmente, não se conseguir ficar longe daquilo que se odeia. Temos os Skandhas. Os cinco Skandhas são o corpo, as coisas materiais e a consciência. A nossa existência. Nós temos cinco sentidos e com isso estamos vivendo neste mundo. O desejo sempre funciona através dos cinco sentidos visando a satisfação. Existem cinco tipos de desejos que são dormir, comer, sexo, poderes e bens materiais. Essas coisas são necessárias para vivermos neste mundo; não podem faltar, mas existe um limite, o querer sempre mais, é como uma faca com mel, a pessoa lambe, lambe o mel, e aí corta a língua com a lâmina da faca. Hoje em dia no mundo, o nível espiritual está muito baixo e as altas sociedades estão cheias de coisas apodrecidas. Há, por exemplo, o sexo livre, juntamente com drogas, mas quem pode utilizar essas drogas são bilionários, porque são caras e se não for para quem tem muito dinheiro acabam acontecendo crimes e assassinatos. As pessoas dessas sociedades possuem muitos bens materiais, mas espiritualmente estão decadentes, isto tudo é Dukkha, sofrimento. Qual é pois a origem do sofrimento? É o apego e a ignorância. Como é que se pode acabar com o sofrimento? Acabando com o desejo ou apego, pode-se chegar ao Nirvana. O Nirvana é o Caminho para atingir a extinção do sofrimento, é como o método do médico diante do doente. O médico pergunta: "Qual é o problema? Dor de cabeça, dor de 11 estômago. Por que foi surgir esta dor? Estava muito tenso, ou estava muito nervoso?" Descobrindo a origem do mal, então se receita o remédio, e é o remédio que cura. É sobre este método de médico que estamos falando aqui. Qual é o Caminho para extinção do sofrimento? O Caminho para extinção do sofrimento é o Óctuplo Caminho, que são: Compreensão Correta, Pensamento Correto, Palavra Correta, Ação Correta, Vida Correta, Esforço Correto, Atenção Correta e Concentração Correta. Se nós formos capazes de viver neste mundo com o Óctuplo Caminho, nós nos desvinculamos do sofrimento. O Budismo tem uma outra teoria um pouco mais complexa, que é a teoria dos Doze Nidanas. A teoria dos Doze Nidanas é mais ou menos a seguinte: por que é que existe o envelhecimento, decadência e morte? Por que tudo isto é sofrimento? Por que foi que nascemos? Por que existimos? Essa teoria diz o seguinte: o que existe? Tato, sensação, percepção, todas aquelas funções da consciência. Por quê? Por que possuímos mente? Porque temos apego. Prosseguindo nesta cadeia de causas, quando se chega na última, essa teoria diz que tudo é ignorância. Ignorância não tem luz, ou seja, é ausência de sabedoria. Não vemos as coisas claramente, como elas são realmente, isto é a ignorância. Partindo agora do contrário, se não houver ignorância, se se conseguir sabedoria, não há a corrente de causas, e se não tem isto então não tem aquilo, assim vem o não ter nascimento e por isto os Budistas descobriram que o fundo da nossa existência, o fundo do nosso sofrimento é a ignorância. 12 Nós precisamos estudar a raiz do problema que é a ignorância. Esta pesquisa de Yuishiki, (Vijna Matravada) é estudar a ignorância, através da prática da meditação. Agora, voltemos ao Óctuplo Caminho: compreensão correta, pensamento correto, palavra correta, ação correta, vida correta, esforço correto, atenção correta, concentração correta. Praticando o Óctuplo Caminho, pode-se evitar criar o Karma. A palavra Yuishiki significa apenas consciência, este mundo é consciência. Isto é baseado na teoria do Anatman (não-ego). Nós temos vários tipos de desejos e o primeiro é o ego, a compreensão errada, isto é, pensar que existe este corpo, assim se fica apegado ao corpo. Com isso vem o orgulho e assim se inicia o processo de amar a si próprio. Ama mas não pode satisfazer totalmente os desejos, produzindo o sofrimento. A teoria Budista fundamental é o Anatman, isto é, não existe um ego. Então pergunto, como é que se pode explicar a reencarnação e coisas deste tipo? A teoria Yuishiki explica: não existe uma identidade que mantenha o corpo constante e eternamente, apenas existe um corpo de continuação do eu, nascendo e morrendo a cada momento, e isto pode ser explicado através da comparação com uma vela. Quando se acende uma vela, ela continua acesa: esta chama é a mesma chama, mas ao mesmo tempo não é a mesma chama, isto é o que acontece também com os seres humanos. Assim o Budismo chega ao fundo da consciência, da 6ª consciência. Mais profundo ainda há a 7ª e a 8ª consciências, isto é, três a quatro consciências antes daquelas explicadas por Freud ou Jung. Isto nós chamamos consciência de Alaya e 13 substância da reencarnação, porque Alaya forma o corpo do ser humano, a consciência, a mente e ao mesmo tempo as estrelas, montanhas, rios e árvores e tudo mais. Por isso não pode apegar às coisas. Geralmente a pessoa pensa: eu estou aqui e estou vendo montanhas, mas os Budistas vê- em que no fundo isto é uma coisa só, não há uma parte que fica com a substância eu e uma outra parte separada como uma coisa, um objeto: montanha. Em Alaya Vijnana a pessoa se vê como se estivesse existindo fora de si mesma, então, todas as existências fora de si próprias não estão separadas de si próprio. Isso pode assustar. O que seria neste caso a Ciência? Ela estuda os materiais para descobrir a realidade. Hoje em dia os cientistas descobriram barreiras ou obstáculos muito grandes. No Brasil, muitos físicos já estão praticando Zen, também conheço cientistas na Inglaterra e na Itália que começaram a praticar o Zen. Do ponto de vista Budista, os seres humanos, nós e a natureza, não somos duas coisas separadas e contrárias. Fora da nossa consciência não existem montanhas ou natureza, no fundo é uma coisa só. Hoje em dia o pensamento moderno está contaminado com o mito da Ciência, mas essa apresenta dificuldades em muitos aspectos. Também a Psicologia chegou a grandes obstáculos por pesquisar a mente através do método científico. As teorias podem ser muito bonitas, mas ninguém sabe como explicar as coisas. Depois de Freud, por exemplo, surgiram muitas outras linhas de Psicologia, a Yungiana, a Gestáltica, a da Psicologia Transpessoal, Reich, etc., todas buscando a compreensão da mente e algumas vezes aplicando métodos orientais, com isto está se querendo chegar até o fundo. Essa questão o Yuishiki es- 14 tudou dentro da consciência e, analisando, chegou à conclusão de que estas coisas, a nossa existência e os fenô- menos no mundo, são uma só coisa, apenas facetas de Alaya Vijana, a qual separa e junta as duas coisas. Há uma relação dos estados de consciência. Existem cinco pré-consciências, que são: visão, audição, olfação, gustação e tato e, uma sexta que nós chamamos de mente, pensamento, conhecimento, emoções e sentimentos, aquilo que pensa, aquilo que sente dores ou é triste ou alegre. Para os Budistas, entretanto, existem ainda outras consciências, a sétima consciência ou Manas Vijnana, a consciência do egocentrismo, e a oitava consciência, a Alaya Vijnana. Geralmente a nossa percepção funciona desta maneira: há um limite que origina o nome. O nome indica o objeto com palavras. Quando termina isto, termina a percepção. Isto é uma mesa. Isto é uma cadeira. Assim nós pensamos que entendemos o que isto é. Este limite é a forma e tem duas características: a primeira é a aparência. A mesa tem 4 pés, tem gavetas, mas, olhando bem, não é mesa, é madeira, e a madeira são moléculas e átomos, e por aí vai. Aparentemente é, mas olhando bem, o que é? Sempre existem as palavras. Hoje em dia a Ciência está penetrando dentro da função da mente. Através da anatomia do cérebro, descobriu-se que nós temos o cérebro direito e o esquerdo, cada parte tem uma função. O direito não tem nomes e o esquerdo é com palavras. As pessoas aprendem as coisas através de nomes, palavras, frases, tudo com a parte esquerda, mas a intuição direta e a criatividade estão no lado direito. Por isto o conhecimento, o computador, 15 isto pode desenvolver a parte esquerda, mas nós precisamos também do lado direito funcionando bem, para podermos ter sentimentos quando escutamos uma música bonita e coisas assim. Em cada parte do cérebro já se estão localizando as consciências, como a fome, o desejo, o olfato, o tato, cada parte é responsável por certas consci- ências. Por exemplo, se cortar uma das partes do cérebro de um gato, ele pode começar a comer e com isto não ter a sensação da barriga cheia, come, come, até morrer. Se cortar a outra parte então não tem mais fome e aí fica sem comer, até acabar morrendo. Depois da aparência, a segunda característica da forma é o nome, a origem de surgir a ação da língua, pois com a forma a pessoa coloca nome. A forma tem esta característica. Esta mesa ocupa espaço e outros materiais não ocupam o mesmo espaço, com isto julga-se entender as coisas quando se coloca o nome. Na vida cotidiana nós estamos dentro deste mundo, mas os Budistas de Yuishiki colocam isto como sendo uma falsa discriminação ou uma discriminação ilusória, porque a nossa função de percepção está toda limitada, de acordo com a sétima e a oitava consciências. Por isso, para se perceber este mundo é necessário uma outra maneira, chamada em sânscrito SamyakuVijnana. Esta é a verdade última e pode ser percebida por sabedoria correta. A palavra Tathagata significa ser como eles são. Vocês se lembram daquela palavra Tathagata, o nome do Buda. Buda tinha dez tipos de nomes, Namo Tassa, Bagavato, Arahato, Sama Sambudassa, Arahat, Tathagata. Ele mesmo chamava a si próprio de Tathagata. Tathagata significa Tata-a-ta, aquele que vem assim como vem, ou aquele que vai indo assim como vai indo. 16 Este assim é o que estamos tratando hoje. No Brasil há uma gíria, é isto aí bicho. É exatamente isso; Tathagata é isso mesmo, vem assim, vai assim, nesta verdade absoluta e presente. Através da sabedoria correta podemos ver as verdadeiras formas das coisas sem as distorcer, mas essa percepção não é uma coisa externa e sim uma coisa do mundo do Dharma. Por exemplo, nós estamos andando de noite e de repente vemos uma cobra, e levamos aquele susto, e pulamos para trás. Ao melhor observar, percebemos que aquilo não era cobra, era uma corda. É parecido, não? Nós estamos trabalhando em cima dessas coisas. A cobra é um nome, não é cobra, é corda, mas este nome corda também não é uma verdade. Não é corda não, são simplesmente fibras de plantas que estão trançadas, nisto é que colocamos o nome de corda. Mas a fibra trançada não existe, a Ciência chegou até este ponto, descobriu moléculas e os átomos. As plantas são formadas com átomos. Os Budistas também pensaram nesse átomo e o chamaram Gokubi que quer dizer aquilo que não pode mais ser dividido. Os cientistas e físicos também chegaram até esse ponto. A palavra átomo significa aquilo que não pode ser dividido, a-tomo, com o prefixo de negação a, mas hoje em dia todos sabem que o átomo não é o último, pode também ser dividido, como o nêutron, o elétron e tudo mais. Quando se conseguiu entender isso surgiu a bomba atômica, a arma nuclear. Nós estamos neste momento com o perigo da destruição do mundo. Até agora sempre houve guerra, mas somente guerra convencional, ganhando ou perdendo, a guerra termina, mas se acontecer a 3ª Guerra Mundial, então será o fim. A energia de uma bomba atô- 17 mica é de 100 ou 1000 vezes maior do que a da bomba de Hiroshima e Nagasaki e países como a União Soviética ou os Estados Unidos têm mais de 1000 mísseis. Este é o resultado da Ciência moderna, com isto todo mundo fica assustado; então há o mito da Ciência. Alguma coisa está errada. O átomo não pode se dividir mais, mas, se não pode se dividir, então não existe. O átomo, o nêutron e o elétron, se forem quebrados, o que irá acontecer? Haverá liberação de uma enorme quantidade de energia. Voltando agora à prática do Caminho. Os cientistas sempre procuram a verdade, sentem aquela emoção de encontrar a verdade, mesmo cientes do perigo que suas descobertas podem trazer. Quando surgiu a teoria atômica, outras pessoas que nada tinham a ver com isto,como os militares, por exemplo, lançaram mão e dela fizeram uso. Então o que acontece? Se liberar esta energia proveniente da quebra de núcleos, prótons e elétrons, o que vamos encontrar? Teoricamente, se existe uma coisa material, ela pode ser dividida. Dividindo, dividindo, chega-se até uma coisa muito pequena, mas no pensamento, pode-se ainda imaginar a divisão, partículas infinitamente menores. Há os quatros pontos cardeais, mais o ponto que está em cima e o que está embaixo, ao todo seis pontos cardeais. Isto é o átomo, a menor coisa que existe, mas se existe, tem ainda estes seis lados, referentes aos pontos cardeais. E se existem esses seis lados, ainda se pode dividir e com isto se encontra o vazio. O Budismo chegou à conclusão de que tudo é vazio, mas os cientistas não podem aceitar o vazio. O vazio é o zero. Multiplique o zero cem mil vezes, mas ainda continua sendo zero. A Ciência hoje é isto, para criar algo tem que ter 1, 2, 3, somente assim pode-se criar. A química pode criar a vida através das proteínas, pode criar uma 18 vida primitiva, mas sempre a partir das coisas que já existem. Entretanto o nada é sempre nada, o vazio é sempre vazio. O Budismo é o vazio total, dentro do vazio aparecem as existências maravilhosas. Este mundo é exatamente isso, tudo é vazio, só se vê o vazio, as coisas existem, mas não têm identidade. As coisas se formam provisoriamente com a união dos elementos, mas estão mudando totalmente. Isto era árvore, agora é madeira, amanhã mesa e depois pode queimar ou apodrecer.