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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Uma Sessão de Perguntas - parte 1

Uma sessão de perguntas feitas pelos estudantes a Ryokan Hiroshi

Estou aqui hoje à disposição da ordem para todo o tipo de pergunta. Comecemos sem delongas!

1. O senhor sendo um roshi ou um mestre zen apresenta alguma visão para nós que não somos do zen e mesmo que não são budistas que nos convenceria a praticar a psicologia budista ou a didática ou a meditação? Que vantagens temos nós da ordem em praticar isso?

[Um momento de riso]

R. Bem, eu já sabia que essa pergunta surgiria... Mas veja que o senhor colocou de uma forma que são muitas perguntas em uma. Tenho muitas observações sobre ela. É uma pergunta importante.

Primeiro, eu não sou um mestre zen, não uso mais esse termo (ou título) de roshi, e aqui na ordem, nessa fraternidade pelo menos uma regra é que não há mestre, ninguém pode ser chamado mestre, se eu ainda fosse "mestre zen" é um erro você me chamar de mestre mesmo assim, já que também ensino aqui na ordem. É uma reverência para comigo e irreverência para com a ordem, está invertido aí, é errado. Então saiba que não é porque não uso o termo simplesmente, mas você conhece a regra, eu estou aqui ensinando, ensino aqui, então jamais poderia me chamar de mestre. Por outro lado compreendo que você não me chamou no presente, que sua intenção não era dizer que sou "sendo", mas que fui ou fui tido como, no passado, "tendo sido". Mas é preciso que eu esclareça para outros, mas você se referiu a minha posição no zen, na sua pergunta, então devo explicar para todos.

Segundo, que depois que deixei as obrigações da ordem zen ingressei numa ordem que prepara pessoas de qualquer religião, para o zazen e para ser um "mestre zen", ou seja, um professor zen, seja qual for sua religião ou escola (não vou citar o nome porque apesar de existirem algumas escolas assim no Japão vou fazer algumas críticas construtivas a essa escola aqui). 

Eu não vim aqui convencer, só apresentar algumas ferramentas nas quais sou especialista, diga você; outros professores vão apresentar outras; você é que vai avaliar a que é que vai ser útil para o seu objetivo.

No objetivo geral da ordem, tem relação com o aprimoramento do uso de uma ferramenta fundamental, que você já tem e mal utiliza, a principal ferramenta de todas eu diria, a consciência, que você vai estar mais consciente pela atenção, pelo tipo de atenção, pela concentração, e assim por diante.

Esqueci o resto da pergunta...

[Alguém lê uma anotação pessoal da pergunta]

Ah sim!

O mais importante vou dizer agora. Mas primeiro preciso dar uma breve advertência. No mundo hoje as pessoas estão com pressa e muito contaminada com um pensamento mau, danoso, "que vantagem eu terei nisso", é isso que o pensamento, o marxismo cultural, incutiu em todas as pessoas, porque ele diz que as pessoas pensam em termo de vantagem, mas isso não é verdade. Você tem que perguntar a essas pessoas, já que elas pensam que é assim, qual é a vantagem que ela está tendo em pensar assim, que vantagem quer tirar para si em lhe ensinar tal coisa estúpida? Porque nós somos algo, não somos? Qual a vantagem disso? Porque o insatisfeito com a vida não então se mata? Não estou dizendo que se mate hein! Porque o insatisfeito consigo mesmo resolve fácil, se mata e pronto. Não. Nós estamos num determinado estado de consciência. Nós somos algo e você faz assim, muita coisa, porque é o que você é, porque é o que você é agora, porque você é gente, porque você se tornou meditativo, simplesmente por isso. Por que eu me tornei meditativo? Porque eu me tornei meditativo. Pronto. No zen dizem porque meditamos: porque meditamos. Não é para que. Essa é a resposta. Essa pseudo inteligência que quer sempre ganhar algo é o caminho oposto, é estupidez. Você faz e pronto, porque você quer, porque você gosta, porque você é, e pronto. No zen não se procura vantagem, não procura provocar algo, é o contrário. Você falou de zen, então eu digo isso, no zen é o contrário, você aquieta. Tem um cara que chamam mestre, não é porque ele é o sábio, é como a brincadeira de "o mestre mandou", tem o mestre para você não precise se preguntar por que, você obedece e pronto. Hora de levantar, hora de trabalhar, hora de comer, hora de sentar [zazen], hora de andar, hora de deitar, hora de começar tudo de novo...

Perguntaram a um mestre zen porque ele andava de uma lado para o outro [praticando a meditação andando] se já era iluminado, ele disse, "porque já sou iluminado". A pessoa surpresa e sem entender perguntou porque ele andava assim antes, ele disse "porque eu não era iluminado". Entende?

Então, essa é uma razão para praticar. 

Mas se você é agnóstico, ateu ou cético você precisa praticar para ver isso, para ter uma experiência pessoal convincente e uma compreensão da realidade tal qual é ou expandir sua visão, seu meio de investigação. Não se trata de zen ou de budismo, se trata da verdade, você precisa de ajuda, para vê-la. Alguns irmãos aqui, muitos, eram assim e entraram na ordem para isso, para descobrir isso, uns pela fé, uns pelo observação empírica, outros pela lógica ou por tudo isso somado, que é o certo, eles mudaram de ideia. Uma razão é para ver isso, que ensina a escola.

Veja que Buda não ensinou isso diretamente, mas se juntar algumas partes do que ele disse sobre isso, você tem esse resultado. Ações que fez têm um significado nisso. Seria muito longo e complexo mostrar isso aqui e agora, que envolve vários textos, e ainda mais não seria suficiente. 

Não ser suficiente entender o que está escrito é outra razão. Para muitos é assim. 

Você precisa apreciar por si mesmo. Aí você pode argumentar que Buda não explicou, mas alguns patriarcas e autores zen, e até de outras escolas explicou isso muito bem e que você já entendeu e já está satisfeito. Não está. Lá no fundo, numa madrugada escura ou no meio da depressão ou das notícias ruins do mundo vai surgir uma dúvida, dependendo do seu estado de consciência você não vai satisfazer aquela dúvida, ela existe. Então isto é outra razão, para que não reste dúvida, porque a dúvida é um obstáculo. E vocês aqui sabem que com dúvida não se vai longe, não se dá um passo significante.

Você pode dizer que está bem na sua religião sem interferência do método de outra ou que se contenta com a sua fé e que ela é suficiente. Isto é bom, mas depende da fé em que. A fé é bom, e suficiente, mas só se ela estiver na coisa certa. Se ela estiver errada? De nada serve, é lixo, enganação. Se, digamos, coincidentemente, aquilo que você tem fé é verdadeiro você acertou o grande prêmio. Mas se você colocou ela em coisa errada, de que adianta? Você está perdido. Suponha que você depositou a fé num totem de pedra e seus amuletos e talismãs sua vida toda, você teria perdido uma vida numa mentira. O que ganhou com isso? Que experiência? Lamentável. Então para eliminar essa dúvida essa prática também é recomendada, é útil. Não é duvidar da sua fé, mas imagine algumas fés erradas que existem e logo você vai entender, é uma coisa prática, não é filosófico-dogmático, você vai se dirigir para uma certa coisa, não para os objetos de sua fé, a princípio é outra coisa e no final só é que você vai constatar que é igual. A procura do verdadeiro.

Ainda eu poderia falar dos outros usos na ordem, um ´por um. Mas vocês devem saber. O primeiro é a questão do estar consciente, você foca no espírito, na consciência, sua mente se liga à realidade das coisas, a realidade é espiritual, não é material. Do contrário você estaria ligando a mente às impressões mais fortes, a materialidade e qual o resultado disso? Você sabe o que acontece com a matéria. 

O segundo motivo é que é uma psicologia. As outras escolas, inclusive de budismo, acreditam que você vai limpando o espelho até ele ficar limpo e depois ele está limpo para sempre. Mas isso não acontece, você precisa estar vigilante o tempo todo e não deixar a poeira assentar no espelho de novo, ou seja, as impurezas mentais, mesmo quando arrancadas totalmente, elas voltam, pois o espelho sempre reflete a imagem, e o espelho está no mundo agora, e no mundo tem poeira, e se você permitir tudo volta novamente, então é um treino, vigilância e limpar o espelho. Você precisa tomar banho todos os dias. É simples. Você precisa limpar a mente todos os dias. Isso é um auxílio, um processo intencional e racional, que vai colaborar com o trabalho espiritual na ordem, e em qualquer religião verdadeira inclusive. Veja que não estou nem falando do produto final, só do processo.

E por último, o mais mundano de tudo, é uma terapia. Aí entramos em longos detalhes e inúmeras aplicações que não cabe aqui, mas para cada pessoa um caso. A pessoas estão doentes, a humanidade está doente, e não é agora, é sempre, isso é um desvio de Nirvana, as pessoas poderiam estar numa vida de harmonia e conhecimento, mas estão num mundo de caos e ignorância que tem pouca sabedoria. Cobiça, aversão e ignorância são a causa desse estado de coisas, de mundo, de seres. Em última análise a terapia vai curar essa doenças, esse desvio. Mas ela começa com passos que vão curar os derivados desse trio maléfico aqui agora. 

Isto é bom para a vida, a convivência, a compreensão, a liberdade, o trabalho bem feito, a família equilibrada, a saúde, a paz, e o desenvolvimento de seus potenciais. Você não precisa se apegar a isso, pois isso não é tudo, é só uma pequena coisa, uma pequena parte, um barquinho, uma ferramenta, mas se toma isso como religião, o barquinho, você estará errado, é uma terapia, uma ajuda para a cura.

Então você tem que estar um tempinho do dia numa tarefa atento, olhando a consciência, como tudo estando e sendo fenômeno na consciência, estar ciente disso, lembrado, e observando tudo, vigilante, ao que acontece na mente, vendo os fenômenos na mente. Isso é só um início, um treino, mas que tem que funcionar desde a primeira vez, não é para o futuro. Em muitas escolas é para o futuro, mas para a nossa é agora. Isso então é duas coisas: instantâneo e gradual (as duas escolas zen se dividiram e cada uma ficou com só uma metade, sem entender o zen, sem o zen). Por isso eu sou zen e por isso eu não sou zen. [Zen porque ficou com tudo inteiro, não-zen porque o que se chama zen ficou só com metade].

Muitos aqui sabem como ensino a meditar andando, e sabem que existe o zazen, sentado. Sentar é apenas para aquietar o corpo, o corpo é o balde, a mente é a água. Mas você não é nem o balde nem a água, então porque se preocupar com isso? Bem, essa era uma questão inicial da escola da não-mente. Nós falamos apenas de costume, não vamos entrar aqui nessa questão. Mas se você só meditar sentado vai demorar, porque você ainda está se identificando com a mente, você é o que olha para o fundo do balde através da água, não é o balde, nem é a água. É claro que vai precisar aquietar um pouco para ver o fundo do balde no início, mas depois que você já o viu, já o conhece, para que vai ficar olhando para o fundo do balde? Não tem nada aí! Você já viu o fundo, os lados e já viu a uma refletida na água. Mas você já viu seu próprio rosto? Você já viu todo o resto que o balde com água pode refletir se você sai andando? Então meditar andando é um treino para a vida. Você precisa olhar para fora do balde, para si mesmo, para o universo todo que existe agora e antes e depois, descobrir as leis, descobrir o desconhecido. Então se desapegue desse balde com água pelo amor de Deus!

Foi isso que Buda ensinou na minha concepção. 

Ele ensinou a olhar para fora, fora do seu ponto de vista habitual, de balde ou de água, de um novo ponto de vista, solto, livre, do ponto de vista do espelho que pode refletir o infinito, infinitamente, do ponto de vista da consciência infinita. O zen está dizendo que Buda ensinou a olhar para dentro, mas não é só isso, isso é uma ínfima parte. O zen está dizendo como Hermes, que tudo que tem fora está também dentro, mas vai demorar muito de você só olhar para esse lado, se desapegue dos lados, do sujeito-objeto, você acredita mesmo que vai sustentar isso vidas e vidas? Por isso o zen verdadeiro ensina uma iluminação para já, não é esperar um satori no futuro. Na verdade não existe dentro e fora. Tudo é consciência, tudo é na consciência, olhe para você ver se não é, aí me diga. Isso é iluminação.

Muito depois você vai ver que isso são mensagens, esses reflexos, aí tem coisa do agora futuro também, que tudo tem um significado, mas agora não, agora isso é tudo e por muito tempo você só precisa disso e de estar voltando ao seu professor e trocando experiências, ele vai orientar o que for preciso. São dessas maneiras que esse ensinamento ajuda, não há que convencer, a pessoas vai se quiser quando estiver conhecendo. O convencimento não é algo que devamos tentar com isso e a vantagem é: pare de procurar vantagens, vantagens são tolices, não existem vantagens. Assista. Aquiete.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A Prática Incessante

Gyoji, a prática incessante

Seshin de Rohatsu de 1986

por Ryotan Tokuda

"Os rostos originais dos Buddhas e Patriarcas não podem ser vistos. O rosto original, ossos e medula dos Buddhas e Patriarcas também, como também não parecem ir ou vir. Devemos examinar a prática incessante de um só dia. Portanto, cada dia é precioso. Se vivermos em vão durante 1.000 anos, acabamos nos aborrecendo com os meses e os anos. Isto é um tris-te desperdício de tempo. Mesmo 1.000 anos de escravidão dos sentidos são redimidos por um só dia de prática incessante. Uma vida corporal de um só dia é a possessão mais valiosa de todas. Portanto, se vivermos somente um dia e possuirmos a função de todos os Buddhas, um dia é mais útil que reencarnar durante incontáveis vidas. Por isto, se o problema da vida e morte não foi decisivamente resolvido, não devemos desperdiçar um só dia sequer. Um só dia é um grande tesouro a ser altamente cotado, é melhor, muito melhor que um pe-daço de jade ou as jóias de um dragão. Sábios do passado contavam um só dia mais que seus próprios corpos e mentes. Devemos refletir calmamente sobre isto. E descobrimos algo de mais precioso que a jóia que concede todos os desejos ou riquezas. Mesmo um só dia em uma vida de cem anos não pode ser devolvido ou tomado de volta. Existirá algo que possamos fazer, alguma ação, algum método para que o recuperemos? Tal não existe. Se desperdiçamos tempo, somos enredados como a pele enreda o corpo. Santos e sábios davam mais valor a cada dia e a cada mês que às suas próprias vida e ao seu país. Se o tempo for desperdiçado, seremos cativados pelo status e pela fortuna do mundo impermanente. Se evitarmos, viveremos no Caminho. Se tivermos determinação, não passaremos um só dia inutilmente. Pratiquemos e proclamemos o Caminho! Portanto, tenha em mente que os Buddhas e Patriarcas não gastam um dia sequer em prática inútil. Durante os dias tranqüilos de primavera, sentemos perto de uma janela cheia de luz e reflitamos sobre tal. Em noites de outono, de chuva fina, fiquemos em um choupana simples de floresta e nos concentremos na prática. Sentimos falta de tais tesouros porque não temos a prática. Como pode a virtude da prática ser tempo roubado? Nada nos é roubado. A virtude de muitos kalpas é roubada? O que causa o conflito entre o tempo e nós mesmos? O ressentimento, porque a nossa prática é insuficiente. Não devemos nos permitir sermos condescendentes demais conosco mesmos. Isto causa auto-ressentimento. Os Buddhas e Patriarcas também têm ligações de gratidão e de amor. Eles, contudo, as abandonam. Eles têm muitos relacionamentos, mas os abandonam. Mesmo que lamentemos, não podemos nos aborrecer com nossas relações com os outros. Se não cortarmos os liames de gratidão e de amor, os laços de gratidão e de amor nos cortarão fora. Se temos apegos com a gratidão e com o amor, devemos assim proceder. Ter apegos nos mostra que devemos cortar tais coisas.

Esta é a continuação do capítulo do Sobogenzo , capítulo Gyoji, a prática incessante. Aqui, vamos passando rápido, ele está falando sobre a importância da prática. Como se estivesse dizendo: falar sobre Zen, depois de algumas leituras, uma pessoa inteligente consegue falar, por isto existem vários tipos de Zen. O "Zen de salão" para os ocidentais. Às vezes leram alguns livros sobre o assunto e gostaram muito. Parece piada, né? Koans, etc., estas coisas são impressionantes! Fica-se impressionado e narra-se estas coisas num salão qualquer de sociedade. Com as damas, tomando café, tomando chá, batendo papo, e aí falando sobre Zen. "Isto é Zen!" Parece muito bonito, mas o fato é que nada tem a ver com ele. Por isto, às vezes precisamos em vez de boca, falar com o corpo. A boca pode mentir. Mas o que corpo está fazendo é que esclarece as coisas completamente, ao invés da fala. Então, pratiquemos quietos, mas sem cessar. O praticante Zen falante, principalmente durante o sesshin, guarda o silêncio com aquela cara... Mas se começa a falar muito, então prejudica não somente a si mas aos outros também. Depois do seshin pode-se falar, ao terminar o retiro. Assim é o Mosteiro Zen e a prática com os colegas. Depois, aqui no texto, fala-se sobre o tempo, sobre a impermanência; nós os sentimos muito pouco em muito poucas ocasiões. Quando há jovens, eles não entendem o sofrimento dos mais velhos. Quando se tem saúde, não se entende o sofrimento dos doentes. Quando tem-se força, saúde e beleza, tem-se orgulho e vaidade e não se entende o sentimento de outras pessoas. Mas estas coisas todas não dependem de si mesmo. Apenas acontecem, mas isto não é algo que dure para sempre. Logo depois... até ontem era um rapaz moço, mas hoje já está de barba branca. Isto nunca mais se pode ter de volta. Todos sabem disso. Mas sentir na alma, poucos podem.

Mestre Dogen coloca os quatro tipos de cavalos: 1) O que vendo a sombra do chicote, já começa a cavalgar; 2) O que o chicote tem que tocar a pele; 3) O outro cavalo, o chicote tem que cortar até a carne; 4) O último, o chicote tem que cortar a carne e chegar até o osso, senão, ele não sente. Isto significa que quando a pessoa encontra a morte num jornal todos os dias, é um problema dos outros. Mas se encontrar a morte de alguém mais próximo, lamenta-se: "Ele era jovem, não deveria ainda ter morrido." Depois, quando é um parente, pessoas mais íntimas, sente-se, sente-se muito e se chora. Mas depois de algum tempo, se esquece novamente. Agora , ele é aquele cavalo que só sente quando o chicote corta a carne ou o osso quando chega o seu momento. Tem que morrer amanhã. Não adianta. E assim temos os quatro tipos de cavalos.

Neste caso, o Buddha Gautama era uma pessoa muito sensível. Apesar de ser um príncipe, estava passando na cidade e vendo tudo. O Rei, seu pai, preocupado, lhe falou: "Vá passear para se divertir." E passeando, ele encontrou um velho. "Quem é este?" Um camarada respondeu: "É um velho!" Com as costas curvadas, não conseguia andar, era um velho. "O que é velho?" "Ah, todo mundo fica velho com a idade, ninguém disto escapa." "E eu também vou ficar assim?" "Pois é claro que sim! Aqueles que são nascidos, envelhecem." "Ahhh!" Sentido, ele voltou ao palácio. No dia seguinte, passeando por um outro lado, se deparou com um doente sendo carregado, suportando dores, e perguntou novamente: "O que vem a ser?". "Isto é um doente". " O que é um doente?". "Enquanto temos físico, ficamos doentes". "Então eu também vou ficar assim?". "É claro! Como todo mundo". Isto é muito simbólico, mas ele, perfeito, com saúde, jovem, viu a doença e o envelhecimento dentro de sua juventude. Encontrando com mortos sendo conduzidos ao cemitério: "O que é isto?" "Isto é a morte." "O que é a morte?". "O que é a morte? Todo mundo morre, nasce e morre." . "Eu também?". "Claro, todo mundo morre". E a quarta vez, saindo do castelo, encontrou-se com um monge, andando tranqüilamente. "Quem é este?". "Este é um monge". "Ah, talvez este seja o meu caminho". E assim o jovem príncipe estava traçando a direção de sua vida. Abandonar, renunciar. Até um dia sair do castelo. Este relacionamento amoroso, pessoal mais forte, pai e mãe, esposa, filho,etc., é uma coisa bonita, mas ao mesmo tempo agarra e amarra. Existem leigos que vivem sozinhos, solteiros.

Hoje em dia monges também podem casar. Mas antigamente, realmente se dedicando ao Caminho, todos pelo menos uma vez cortavam todas as relações. Este tipo de coisa é muito difícil. Existem koans para isto: " o dedinho mindinho". O dedinho está amarrado com uma linha de costura, uma linha vermelha. Porque é que não se pode cortar a linha? O koan é este. "Porque não se pode cortar uma linha vermelha?" Puxando um pouco se pode romper esta linha. Aqui existe um relacionamento com as pessoas. Cortar requer força. Mas havendo sentimento, desligar-se é difícil. É realmente difícil. Mas o mundo é assim. Na vida de monges, se renuncia. Abandona-se. Neste momento é a própria força ou a força dos outros. Um fio vermelho significa a relação com a família, a mulher; é real-mente difícil cortar. Mas o tempo que é tão precioso é uma coisa do mundo, mundana... Por isto, uma vez despertado surgirá esta necessidade. E quando sentir, aí surgirá o impulso de tudo largar. O trabalho, suas tarefas e funções; mas a barreira é sempre este relacionamento mais íntimo... Esta questão é mais para monges... Hoje em dia, os monges casam, mas eu digo que o casamento de um monge não é um casamento qualquer. Claro, todo mundo é assim, principalmente monges, não é uma questão de casar por acaso. Tendo-se uma certa idade, aí se deseja casar. Por que casar? Porque ficar sozinho é muito chato. Fica-se solitário. Ou talvez para alguns seja uma questão de confiança dada à sociedade. Isto é a resposta, o casamento. Mas não, aqui se trata de um amor mais profundo. Depois disto, existe alguém mais além, e isto não é por acaso. Aqui são poucos os monges, mas despertando, assustam-se com alguma coisa mais profunda, talvez a impermanência. Quando se está realmente com este sentimento, uma energia enorme leva-nos em frente.

De certa maneira, as pessoas se tornam enfim escravas dos cinco sentidos. Comida boa, escutar música, ver coisas bonitas, ler livros preciosos, arte, teatro. Mas o que acontece é que o tempo passa tão rápido que assusta. Se morrer aos setenta, oitenta anos, até que tudo bem, mas às vezes morremos tão jovens, até os bebês podem morrer. Neste momento nós realmente reagimos: "O que é isto?". O monge Ikkyu, muito cínico, andava com um crânio na ponta do bastão de peregrinação durante o Ano Novo. O ano Novo no Japão é como o Natal aqui. Aqui todo mundo fala "Feliz Natal"; ou então, "Feliz Ano Novo". Mas porque razão "feliz"? Completando o ano, a morte está chegando mais perto. "Ah, não fale isto sobre o Ano Novo! Ano Novo é uma coisa boa, você está falando em morte? Por favor, fale uma coisa alegre, mais agradável." Então ele disse: "Primeiro morre o avô, em seguida morre o pai e em terceiro lugar morre o filho." "Ah, morre todo mundo?" . "Sim, mas morrendo nesta ordem, avô, pai e filho, está muito bom. Se o filho morrer primeiro do que o pai ou o avô, isto seria uma tristeza". Por isto, os monges para sentirem a impermanência, faziam certos tipos de meditações no cemitério, vendo cadáveres; quando vinham desejos sexuais, iam lá e olhavam. Viam os corpos e os cadáveres.

Na Índia jogavam-se os cadáveres no cemitério, não enterravam, não faziam cremação. Aquela moça bonita morreu, ela ainda pode despertar desejo, mas logo depois, um dia, quando está quente, não leva nem 24 horas, começa a correr líquido, um sangue meio aguado, e começa a inchar e a mudar a cor, vermelho meio roxo, manchas; se morreu acidental-mente com água ou com fogo é mais terrível. Como eu sou monge, já encontrei vários tipos de mortes. Fui várias vezes ao Instituto Médico Legal. É uma coisa terrível. Os corpos ficam nas gavetas, na geladeira. Totalmente nus. E geralmente todo mundo está cortado de cima abaixo e mal costurado. Todos iremos para lá. Não importa se ricos ou pobres. Nem se é inteligente, não importa, tem que passar por lá, tirar todo a roupa e so-mente uma etiqueta no peito. Este corpo cheira, cheira, e passa lá um dia, três dias, uma semana... com mau cheiro. Comendo depois peixe assado, grelhado, a carne não entra mais na boca. É o mesmo cheiro, nós nos lembramos. A carne, coisas inchando e começando a abrir, com bichos; começam a vir moscas, aparece o osso, um cachorro vem e leva um pedaço. Daqui a pouco vem o vento e leva tudo. Neste momento, com o que você está apegado? Este é o outro lado da realidade. Aí vem aquele susto, a questão: "O que é a vida e o que é a morte?". "O que é o amor?". "O que é a eternidade?". "O que é o absoluto?". Estes tipos de perguntas, quando uma vez surgem, não passam mais. Se não resolvemos este sofrimento espiritual, não encontramos a paz. Mas raramente este tipo de questionamento acontece, porque neste mundo há tanta coisa bonita, tanta coisa boa, tanta coisa divertida.

Um viajante encontrou com bichos, uma onça, um tigre, leões, panteras; aí fugiu para dentro de um poço que ele por acaso descobriu. E se segurou ali dentro em um cipó; quando olhou para baixo, havia um outro bicho, uma serpente venenosa, esperando de boca aberta. Desesperado, segurava apenas a corda. E aí apareceram dois ratos, um branco e um preto, e começaram a comer o cipó. Quando acabaram de roer, ele caiu. E lá no fundo do poço encontrou uma flor aberta, que deixava cair néctar; aí ele recebeu o mel com a língua: "Ah, que doce!" E naquele momento o viajante esqueceu todos os perigos. O que é isto? Estes quatro bichos são os pontos cardeais, são os quatro sofrimentos: 1) a vida é sofrimento, 2) o envelhecimento é sofrimento, 3) a doença é um sofrimento, 4) e a morte é um sofrimento. E o cipó, ao qual ele estava agarrado, é o tempo; o dia é o rato branco e a noite é rato negro. Dia e noite. E os outros animais... A flor no poço o que é? A flor é a vida que dá as sensações para satisfazer os desejos: comida, música, estes tipos de desejos de bens materiais, sexo, etc, etc. Os jovens estão procurando alguma coisa, mas não sabem o que. Não sabem onde encontrar. Sexo, suspense. Com estas sensações instantâneas, estão esquecendo certas coisas e, inconscientemente, estão querendo fechar os olhos para outras. Então, cada vez mais estas outras coisas são mais fortes. Com isto eles querem esquecer a realidade. Mas quem despertou não pode esquecer. Naturalmente, sozinho ele começa a se afastar das pessoas e começa a meditar sozinho. Porque dentro dele aconteceu alguma coisa errada. Alguma coisa errada. Com o que realmente se pode contar? Começa a pensar: sobre seu pai, dinheiro, casa, carro, esposa, filho. Para certas pessoas a resposta é positiva: "eu tenho dinheiro, eu tenho casa, eu tenho pai." Mas para alguém mais esclarecido, realmente com que se pode contar? Nem a nós mesmos podemos conduzir livremente. Tudo despende uma força enorme. A isto se chama impermanência. Nós batemos o han, o han é um tambor de madeira, não sei se vocês notaram, primeiro bate-se sete vezes com o mesmo distanciamento entre cada batida, depois carreira rápida, depois bate-se cinco vezes, depois carreira, depois três vezes mais. E assim o nosso tempo é cada vez menor: 7,5,3,1,0. Zero. Zero! Quando é zero é a hora do adeus. Aí se vai embora. Falando desta maneira, as pessoas podem pensar: "O Budismo é tão pessimista! Por isso que eu não gosto. Tem cheiro de morte". Mas não é. Para realmente vivermos neste mundo, pelo menos uma vez ou outra, ou em alguma ocasião, é bom pensar um pouco. Pensamos que temos muito tempo pela frente. Não! Metade já se foi, passou. 2/3 já se passaram. Dentro da história japonesa, dentro da literatura, há uma palavra, goavai, que significa: as coisas lamentáveis deste mundo. Sentindo a impermanência, mais lamentável ainda. É um sentimento. Mas esta filosofia quando chega a ser mais profunda, através dos monges Zen, fica ainda mais acentuada. Como eu expressei, vendo as coisas que vi no limite deste mundo, até onde se pode gozar?

Ainda temos um pouco de tempo. Têm perguntas, sobre este assunto?... É por isto, dentro da história do Zen, que os monges abandonam suas famílias. Isto é perigoso. Este pensamento e esta filosofia, são muito perigosas hoje em dia, para os jovens principalmente, que tão facilmente se separam. Antigamente, o Sexto Patriarca cuidava de sua mãe com muito amor e ainda assim abandonou tudo. Difícil de abandonar e abandonou. É isto. Não é como hoje, que as pessoas estão tão pouco ligadas, tão irresponsáveis. Não é neste sentido. Por isto, se for uma pessoa qualquer, então não deve brincar, "ah, eu agora sou monge!". "E agora novamente vou voltar a ser leigo!". "Ah, não deu certo, então eu sou monge novamente". É desta forma que as pessoas estão brincando, quando na verdade isto é uma coisa muito séria. Por isto até agora, os grandes mestres são realmente heróis. Cortaram aquilo que não podia ser cortado. Por isto naturalmente, o treinamento deles dentro do mosteiro é diferente dos demais monges. Porque cobram de si mesmos e dos outros também as situações e as mudanças bruscas. Tem que ser sério mesmo. É assim a teoria que diz que nós devemos dedicar 99% ao treinamento; agora cortando, depois renunciando ao mundo. Amor todo mundo tem, mas este amor é limitado, apenas à sua esposa, apenas ao seu próprio filho; se o filho brigar com o filho do vizinho, em seguida começa a briga dos pais. Falam muito também, especialmente os militares, em amor à pátria, e o que é o amor à pátria? Amar a sua pátria... então começa a guerra, e gritando no campo de batalha, os filhos se vão. Vejam o resultado da Argentina: a guerra das Malvinas. É o amor limitado a si mesmo ou aos vizinhos, pátrias, estados; mas o verdadeiro amor é muito mais, uma coisa universal. Os monges, cortando estes amores particulares, penetram no amor universal ou fraternidade, uma coisa maior, e vivem neste mundo mais amplo. Esta é a missão dos monges. Não é apenas fugir da responsabilidade deste mundo. Vem agora uma outra espécie de responsabilidade de não acabar com este treinamento, a prática incessante de todos os Buddhas e Patriarcas que chegou até nós. Neste caso, isto se chama grande compaixão, já não é mais amor. É grande compaixão. É em cima disto que monges vivem. Se os monges não a tiverem, apenas quiserem ganhar uma iluminação particular, sabedoria, não terão verdadeira compaixão. No fundo, no fundo, há que se ter esta grande compaixão. Neste caso, ela não tem limites de espaço, ocidente ou oriente, sul ou norte, um país ou outro país. Não tem esta diferença de país, distância, de espaço e não tem limite de tempo, passado, presente e futuro. Aquele amor de Jesus Cristo, até agora vive. Quantas pessoas foram salvas com isto? Buddha, Confúcio, Sócrates, estas grandes figuras da humanidade, apareceram, sacrificando as suas vidas particulares e se ofereceram a todos os seres e, com isto, estão numa outra dimensão, num outro nível de pensamento, ajudando fora das coisas do mundo, em outro mundo sagrado. Este é o mundo do Dharma, como nós o chamamos; neste caso, a grande compaixão sem limites cobre tudo, todos os seres humanos, todos os seres viventes, inclusive as plantas. Esta é a filosofia fundamental budista, por isto este trabalho ecológico, com o meio ambiente, voltado para a natureza, no fundo está baseado nesta filosofia; não somente seres humanos, mas o amor, a compaixão, alcança até os bichinhos, até as plantas. Não matar, mas dar a vida pelas coisas, até as coisas materiais, insensíveis, até os bens materiais. Até isto: dar a vida até por estes objetos. Se maltratar, isto quebra, precisa então consertar. Mas se tratar bem, este relógio funciona por anos e anos sem quebrar. Então está se dando a vida, para o gravador, para o cobertor, colchões, esteiras, tapetes, etc, tudo. Não matar, significa dar a vida para as coisas. Então, deste jeito, mudam-se todos os conceitos e muito mais além ainda, mais além. Então, este amor sem limites cobre tudo, passado, presente e futuro e o espaço também, e ainda é incansável. Incansável, significa que es-tamos querendo ajudar e salvar, mas não querem aceitar, porque estão bêbados e estão adormecidos. Queremos ajudar, mas não aceitam, porque estão apegados às coisas do mundo, não escutam, não reconhecem. Não desanime, não pare, vá, vá, mesmo com muito sacrifício e muitas dores, mas não canse, vá, constantemente. As pessoas não têm natureza de Buda? Como salvar este tipo de gente? Não quero abandonar ninguém. Todo mundo tem que ser salvo. É a filosofia do Bodhisattva. Esta filosofia do Bodhisattva é incansável. Corajosa. A qualquer tipo de dificuldade pode-se fazer frente. Sozinho. Esta é a dignidade dos monges. Se não a tiver, é melhor voltar para casa. Morar com sua família, lar, aquela comida quentinha, música, aquele sorriso bonito, é bom. Depois daquela grande negação, vem esta grande aceitação, a constatação de que o mundo é todo maravilhoso. Tudo é maravilhoso. Depois de passar por isto, nós sentimos claramente. Senão, com pouco treinamento, brigando sempre, vamos nos separar. Deixemos de brincar com estas coisas agora. O Shobogenzo, a prática incessante, é para isto, não é para saber de nada mais. Zen, aqueles koans interessantes, isto não é Zen de salão, tomando chá, não, é algo que parece estar abrindo a sua barriga, saindo dos intestinos e andando, arrastando-se a dor. Senão é melhor ficar parado e viver neste mundo. Tomar banho, ir para o cinema.

Temos um pouco mais de tempo. Têm perguntas? Não sei se entenderam, perguntem para não haver mal entendidos nesta parte de renúncia ao mundo. Por favor, as senhoras aqui ficam muito preocupadas, não é isto. O Budismo Mahayana é muito amplo com a compreensão de suas famílias. Podem seguir o Caminho, não necessariamente sozinhos. O caminho é muito amplo, muito amplo, pode-se ir com 2, com 3, com um grupo, todos juntos. Mas algumas pessoas, realmente poucas, levaram aquele susto... estes homens não tem jeito, despertam. Se não houver perguntas sobre este assunto muito sério... Desculpe, mas temos que encarar esta seriedade, porque está no texto.





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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Apresentação do ciclo de palestras do retiro longo

Do livro, sendo transcrito, PALESTRAS DE UM MESTRE ZEN NÃO-ZEN E NÃO MESTRE
Por Ryokan Hiroshi

Apresentação

Amigos, irmãos, frati. Eu estou aqui nesse círculo de palestras e retiro longo da ordem para falar sobre vários temas relacionados a dhyana. Primeiro é sobre o próprio dhyana, dhyana escola, dhyana processo, e dhyana estado. Como na visão da nossa escola. Então falar de duas ordens que agora se interpenetram, especialmente nessa ocasião, e parte dos estudos, a ordem dhyana e a ordem O.I.T.O. aqui diante dessa fraternidade. Então, segundo sobre a ordem e a fraternidade que quase todos vocês aqui estando fazem parte.

Terceiro, também sobre a influência da que se chama matriz, nesse caso especificamente a matriz cultural, seus obstáculos, seus não-obstáculos, suas facilidades e dificuldades e um pouco como aproveitar bem isso. Também sobre os princípios e fundamentos disso, do que é o mundo no que coincide a visão da escola dhyana com a visão da escola da ordem O.I.T.O.. Do que é o mundo e sua origem e seu final e sua finalidade, então qual a relevância disso para os outros que são cristãos, gnósticos, hermetistas, kabalistas, taoistas e yogues, rosacruzes, não só budistas. 

Situando o ensinamento 

A ordem 8 costuma agora apresentar quatro ou cinco pontos de vista religiosos autênticos, mas eu, e recomendo isso, costumo apresentar nesses sete, porque você não pode dizer que o gnóstico-cristão, o cristão e o gnóstico sejam uma visão, são diferentes, e em cada um [desses tipos] as várias subdivisões também diferentes; também você não pode enquadrar todos os kabalistas como somente herméticos, somente, cristãos, somente gnósticos...

O que torna essas vias iguais não é também a visão, mas sim o objeto visado. Embora cada uma tenha uma visão desse mesmo objeto e é o mesmo objeto, queiram ver os teóricos perdidos no espaço, na subjetividade do ponto de vista humano, histórico, cultural, queiram ver ou não, nada altera. O objeto visado é:
1. A verdade
2. O incondicionado
3. O eterno

Cada linha de pensamento tem uma ideia e um nome de como seja isso: Deus para os cristãos, o Uno para os gnósticos, o Um para os hermetistas (ou Nous), Ein soph para os kabalistas, o Tao dos taoísatas, o Eu para os yogues, o Dharmakaya para os budistas (por isso eu e alguns dividimos em sete grandes religiões "da ordem"). 

Para todos esses o objeto tem esses três elementos, é [1]verdadeiro, é certeza, é verdade, não existe sombra, nenhuma ilusão, nenhum engano nele, então para nós é onisciente. Outros discutem teorias, como se a perfeição pudesse incluir inconsciência, acaso, não intencionalidade, ser levado a; pelo que apresentam as pessoas ficam iludidas e não veem o que não apresentam, essas lacunas, esses absurdos. 

É [2] incondicionado, não depende de nada, ele mesmo é o princípio de tudo, não é fruto de nada, não é composto, não é surgido, e para nós [da escola dhyana e da ordem O.I.T.O.], só é condicionado a si mesmo, portanto é algo em si, um eu verdadeiro, substancial, imutável e sendo imutável é [3] eterno. É eterno no tempo e antes do tempo e se houver um depois do tempo e no atemporal, estável, constante. Buda fala isso, tanto no cânone theravada como nos outros. Mas no theravada há controvérsia se o Nirvana é eu ou não-eu também. Para nós não há dúvida porque para a escola dhyana é absurdo que Nirvana seja igual à ilusão, igual ao mundo, ou seja, não-eu.

No ensinamento do Buda como é Nirvana?

Portanto budisticamente falando é "substancial", real, eu; é imutável, e é satisfatório, ou seja, o contrário das três características da existência, bem parecido com o que propõe a escola jonang, e a yogachara e a cittamatra (que pensam que é a mesma escola essas duas). 

É Nirvana, Nirvana só pode ser o oposto do que é a existência condicionada, pois é incondicionado, tudo que vemos é insatisfatório, Nirvana e completamente satisfatório, tudo que vemos é mutável e transitório, Nirvana é eterno, até aí Buda disse com certeza, mas também tudo que vemos é insubstancial, não-eu, e Nirvana é verdadeiro e verdadeiro eu. Só algumas escolas falam que Buda disse isso, outras que só os tantras, ou a forma espiritual de Buda, ou só nas entrelinhas porque não pode ser dito. Não sei.  Fato registrado para todas as escolas é que Buda disse que a obsessão pela ideia de não-eu é tão errada quanto a da ideia de eu e conduz ao pior tormento, a vida no mundo sem forma, do qual é muito difícil sair. Você quer ir para o mundo sem forma? Então quem está meditando para atingir o não-eu tenha cuidado, pare, estará se condenando se continuar.

Por isso o zen fala de eu verdadeiro de achar o nosso verdadeiro eu, porque ele vem de nossa escola dhyana, nós dizemos isso. Dhyana é estar no nosso verdadeiro eu, estar no espírito, uno com Nirvana. Entenda que não existe dualidade na realidade última, então não existe dualidade entre Nirvana e dharmakaya, é uma coisa só, essa é a visão da escola dhyana que é a visão filosófica consciência apenas (cittamatra). 

Veja, consciência apenas, não inconsciente apenas. Essa consciência é onisciente e tudo que podemos ser e fazer é ver que somos parte dela, unos com ela, ela é incompreensível para nós assim como o Ein ou Ain dos kabalistas, como o Tao, como Deus. Não é como os tântricos dizem, não! Primeiro eles vão se tornar super poderosos, primeira ilusão, segundo eles vão se tornar Budas, segunda ilusão e terceiro eles vão diluir e desaparecer no dharmakaya se tornar o próprio dharamakaya, terceira ilusão (O dharmakaya já está completo e perfeito, já tem todos nós que buscamos a verdade, nós precisamos aprender [a] ver isso em vez de estar discutindo o que Buda disse). Você se identificar com uma coisa é se ligar a ela não se transformar nela, muitos no mundo estariam transformados em carros... ou cargos... [ri da piada e do trocadilho] 

Nós somos budas é agora, não é amanhã, nunca é amanhã, só precisamos ver isso. Mas não quer dizer um Buda Shakyamuni, quer dizer um buda, o buda você mesmo. Nós somos budas e nós não somos budas, simultaneamente. Na ilusão não somos, mas é só ilusão, na realidade, e só é de fato a realidade, já somos. É o paradigma da simultaneidade proposto aqui pela ordem nossa, de vocês, sim. Mas não estou dizendo como os vajrayanas que todos já somos ou inevitavelmente seremos. Não. Quem disse isso? Muitos perdidos na roda do samsara, muitos no inferno, muitos rodando... não sei para onde vão. Eu sei para onde vai quem busca uma direção, ele vai nessa direção. A personalidade morre, nosso negócio é agora.

Essa é a ideia de nossa escola e veja porque se encaixa bem com a ideia da  escola [da ordem]. Existem teses, inclusive de pessoas aqui presentes sobre isso. Agora vejamos isso na visão geral da ordem... Será nossa próxima aula?