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sábado, 6 de abril de 2013

Amor Sem Apego


Publicado por nalanda em July 2nd, 2012 em cuidando das emoções ~ 1 Comentário
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~Ajahn Sumedho ~

Bangkok, Thailândia – Manter-se fiel ao conceito buddhista do não-apego não quer dizer que você deva abandonar as pessoas que ama. Na verdade, você precisa abordar o amor de uma forma diferente da usual, afirma Ajahn Sumedho, um monge muito respeitado do Amaravati Forest Monastery.

Inicialmente, você deve identificar o apego e, então, abandoná-lo. É então que você compreende o não-apego. No entanto, se você assume a idéia de que não deve apegar-se, você se afastará do não-apego. O ponto não é posicionar-se contra o apego, como se existisse um mandamento contrário a ele. O ponto é observá-lo.

Ao formularmos as perguntas: “O que é o apego?” e “Estar apegado a objetos proporciona a felicidade ou o sofrimento?” – começamos a produzir insight, a entender o que é o apego e a poder, então, abandoná-lo.

Se você assume a perspectiva muito exigente segundo a qual não deveria apegar-se a nada, então você propõe idéias como: “Não posso ser um buddhista, pois amo a minha esposa e estou apegado a ela”; “amo a minha esposa e não posso deixá-la ir embora”; e “não posso deixar a minha esposa partir”.

Estes tipos de pensamentos surgem da idéia de que você não deveria apegar-se.

O reconhecimento do apego não significa que você deva se livrar da sua esposa. Significa que deva se livrar das suas idéias errôneas sobre você mesmo e sobre sua esposa. Assim, você descobre a existência do amor no casamento, porém um amor não-apegado, não-deformado e não-ganancioso.

A mente vazia é bastante capaz de preocupar-se com as outras pessoas e de amá-las, no sentido mais puro do amor. No entanto, qualquer apego sempre deformará essa capacidade.

Se você ama alguém e começa a agir de forma gananciosa, então as coisas complicam-se. Assim sendo, o objeto do seu amor causa sofrimento em você. Por exemplo, se ao amar os seus filhos você se apega a eles, então você realmente não os ama mais, pois você não está junto deles pelo que eles são. Você concebe todos os tipos de idéias sobre o que eles deveriam ser e sobre aquilo que você gostaria em que eles se transformassem. Você deseja que eles obedeçam a você, que sejam bons e que obtenham a aprovação nos exames escolares.

Com esta atitude, você não ama realmente os seus filhos, pois se eles não satisfizerem os seus desejos, você se sentirá colérico, frustrado e averso em relação a eles. Desta forma, o apego aos nossos filhos nos impede de amá-los.

Quando abandonamos o apego, descobrimos que nossa maneira natural de nos relacionarmos com os outros indivíduos é amando-os. Tomamos conhecimento de que somos capazes de permitir que nossos filhos sejam aquilo que eles realmente são, ao invés de sermos dominados por idéias fixas sobre aquilo que gostaríamos que eles fossem.

Quando converso com pais, eles afirmam o quanto existe de sofrimento em lidar com os seus filhos devido à presença de inúmeros desejos. Quando desejamos que nossos filhos comportem-se de uma determinada maneira e não de uma outra, criamos esta angústia e este sofrimento em nossas mentes.

No entanto, quanto mais abandonamos os desejos, mais descobrimos uma habilidade incrível para sermos sensíveis e conscientes em relação ao modo como nossos filhos são. Assim, é claro que esta abertura permite-lhes responder adequadamente ao invés de somente reagir ao nosso apego. Como sabemos todos, a maioria dos nossos filhos está apenas reagindo às nossas palavras: “Desejo que você seja desta maneira”. A mente vazia – a mente pura – não é um vazio no qual você nada sente e nem se importa com coisa alguma. É o esplendor da mente. É um brilho verdadeiramente sensível e receptível.

É a habilidade de aceitar a vida tal como ela é. Quando aceitamos a vida tal como ela é, podemos responder apropriadamente ao modo como nós a experimentamos, ao invés de somente reagir ao medo e à aversão.



© Ajahn Sumedho

© Centro Buddhista Nalanda, 2005


O Venerável Ajahn Sumedho é um monge sênior da tradição theravada thailandesa, e o mais antigo discípulo ocidental de Ajahn Chah. Ordenado em 1967, Ajahn Sumedho fundou em 1975, sob a supervisão de seu mestre, o Wat Pah Nanachat, a seção ocidental da sangha monástica na Thailândia. Na Inglaterra, fundou o Chitthurst e o Amaravati, dois dos mais importantes centros monásticos no ocidente. Aposentou-se recentemente da função de abade e voltou a morar na Thailândia.