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segunda-feira, 15 de junho de 2015

NIBBANA

Dos “conceitos” mais centrais, essenciais, apresentados pelo Buda, o que mais causa espanto ou desconcerto no ocidental, geralmente é o de Nibbana (Nirvana em sânscrito). Na verdade é um tema difícil mesmo para orientais budistas, mesmo para muitos monges. A palavra conceito está entre aspas porque Nibbana não é um conceito, mas exatamente o que não pode ser conceituado. Para ser mais fiel às palavras do Senhor Buda temos que reconhecer que Nibbana não é definível, só pode ser compreendido pela experiência direta dele (seja gradativa ou imediata). Nibbana é descrito como “profundo, difícil de ver e difícil de compreender, (...) que não pode ser alcançado através do mero raciocínio” (MN 26.19).

Muitos ocidentais gostam de equivaler Nibbana à ideia de um Deus (que apenas não seria criador como o dos monoteístas ocidentais), seria um deus transcendente, porém mais imanente do que propriamente um fazedor ou gerador de tudo; seria impessoal, como o deus de alguns gnósticos, por exemplo. Essa ideia não pode ser facilmente descartada ou admitida, afinal existem tantas diversas concepções sobre um deus absoluto no ocidente como existem concepções sobre nirvana no oriente; dizer que nenhuma delas se equivalha é no mínimo precipitado. Porém mais importante é saber que Nibbana, objetivo último do budista, não pode ser simplesmente entendido ou definido, mas sim que nós temos que conhecer pessoalmente, experimentá-lo gradualmente e não nos conformarmos com as primeiras visões que se nos apresentem ou que experimentamos.

Muito relacionado com esse termo temos anatta, traduzido comumente como não-eu, que se refere tanto à insubstancialidade de tudo quanto à impessoalidade; precisamente à ausência de um eu, ego ou egoídade; de uma entidade ou essência imutável e eterna em qualquer coisa, inclusive em nós, e, portanto também, de um possuidor de qualquer coisa. Mas Nibbana é a única coisa que transcende isso. É preciso que se diga que Nibbana é apontado pelo Senhor Buda como “o imortal”. Buda fala de Nibbana como sendo a outra margem, o fim do cativeiro, a praia segura, e outras tantas descrições, e em se tratando do tema em questão, ele é seguro porque é imutável, satisfatório, imortal. Buda não disse que tudo é transitório, insatisfatório e insubstancial, ele disse que tudo no mundo tal como vivenciamos é assim, porém que há uma esperança, uma saída dessa realidade condicionada, mutável, mortal, insatisfatória. Essa saída é precisamente Nibbana.

Um guia sobre a experiência de Nibbana é a descrição dada por Buda. Esse pequeno sutta trata disso. Ele mostra como Nibbana é a saída do cativeiro condicionado, limitado, insatisfatório, ilusório, mortal; do mundo que vivemos. Ele é uma adaptação das traduções encontradas no site www.acessoaoinsight.net e de alguns livros de Antônio Carlos Rocha.

Udana VIII.3
Nibbana Sutta
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Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatthi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Naquela ocasião, o Abençoado estava instruindo, estimulando, encorajando e motivando os bhikkhus com um discurso do Dhamma relativo ao Nibbana. Os bhikkhus – receptivos, atentos, focando toda a sua atenção, ouviam o Dhamma.
Então, dando-se conta do significado disso, o Abençoado nessa ocasião exclamou:
"Existe, bhikkhus, o não nascido, o que não é advindo, o que não é feito, o que não é condicionado. Se não existisse o não nascido, o que não é advindo, o que não é feito, o que não é condicionado, não haveria esperança de emancipação do nascido - do advindo, do feito, do condicionado. Porém precisamente porque há o não nascido, o que não é advindo, o que não é feito, o que não é condicionado, a emancipação do nascido, do advindo, do feito, do condicionado é possível."