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sexta-feira, 9 de julho de 2021

Em poucas palavras o que é o Daimoru

P. O que é daimoru?

R. (Por Ryokan Hiroshi)

Já falei sobre a compreensão e a minha compreensão. Agora vou falar em terapia. Primeiro é o que se pode chamar "cortar pela raíz".

Existem raízes principais e os rizóides, existem uns grossos outros finos. O normal é combater raíz por raíz. Isso pode ser muito improdutivo. Porque enqunto você corta rizóides de um lado outros crescem do outro sem que veja. Mas combater raíz por raíz é bom também, desde que dedique mais tempo em cortar a principal. E leva tempo, muito tempo.

Outra coisa é cortar pela raíz. Você vai demorar, mas quando começa a atacar a raíz principal, as menosres comecam a morrer. É assim no zen, no Tao, com o wo wei ["não ação"], você ataca a raíz principal e destrói toda a árvore do mal.

Dizem aqui que a principal raiz é o orgulho, outros que é a soberba, não deixa de ser certo. O que fez Adão comer o fruto perigoso? Aí outros dizem que o pecado original é o sexo: quando não conhece a religião que professa dá nisso. A raiz principal é isso, é a presunção do eu como Buda chama. É a soberba do eu. O confiar no eu e querer ser igual a Deus, seu eu de inexiste a superestimado, foi o que fez Adão comer a fruta. Sim! Nao foi satã, ele teve a escolha.


E se você escolher agora cortar essa raiz? "Negue-se as si mesmo", Jesus disse. Cortar a presunção do eu demora, mas enquanto faz isso as demais raízes que depedem dessa, a principal, vão enfraquecendo, se extinguindo.

E o que é uma terapia baseada nisso? Este é o segundo aspecto! O mais importante no encontro terapêutico. É triturar. Esmagar e triturar é fazer em pedaços, em pedaços pequenos, tudo fica claro e desfeito, sem a força daquela unidade, daquele bolo alimentar. Não dá mais para emendar e as raízes cortadas morrem.

Na terapia uma parte é ensinar como se faz isso. E enquanto a libertação total não acontece vai ensinando a estar consciente e conhecer o funcionamento de todo o resto e dos problemas como realmente são, e quais suas reais causas, e como lidar com eles e se libertar deles enquanto a libertação plena ainda não acontece. E isso vai liberando o caminho. Vai levando à libertação final mais cedo!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Da Ilusão do Eu e da Consciência



Do livro O Caminho para Cristo 

JACOB BOEHME

Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. -

Mt. 16,24; Mc. 8,34; Lc. 9,23; Jo.12,26.

Pedro disse a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. - Mt. 19,27; Mc. 10,28; Lc. 

18,28.

A VERDADEIRA RESIGNAÇÃO

CAPÍTULO I

Lúcifer e Adão, o primeiro homem, constituem um claro exemplo do que o eu é capaz quando toma a luz da natureza como sendo sua, passando a caminhar preocupado com o seu próprio domínio. Da mesma forma, pode-se observar os expertos das artes e ciências: quando adquirem a luz deste mundo ou natureza exterior, como posse da razão, nada resulta disto senão orgulho próprio. Ainda assim, todo o mundo busca e deseja veementemente esta luz, como se fosse o melhor tesouro; de fato, este é o melhor tesouro que este mundo pode oferecer, se usado corretamente.

2. Porém, enquanto o eu ou a razão estiver cativo e firmemente limitado a uma prisão sólida e cerrada, ou seja, na cólera de Deus e na materialidade, torna-se muito perigoso para um homem fazer uso da luz do conhecimento no eu, como se ela estivesse em sua posse.

3. Pois, a ira do eterno e da natureza temporal logo irão tomar o gosto por isto, então o eu e a própria razão do homem irão surgir no orgulho, deixando de lado a verdadeira humildade resignada para com Deus; não mais irão comer da fruta do paraíso, mas da propriedade do eu, ou seja, daquele domínio da vida onde o bem e o mal estão misturados, como fizeram Lúcifer e Adão. Ambos adentraram, novamente o original, de onde surgiram todas as criaturas, com o desejo do eu. Lúcifer no centro e na natureza colérica, na matriz ou ventre de onde surge o fogo; Adão, na natureza terrestre, na matriz do mundo exterior, ou seja, na cobiça do bem e do mal.

4. Isto se passou, porque eles tinham a luz da compreensão brilhando no eu; assim, puderam olhar para si mesmo, o espírito do eu pôde adentrar a imaginação (num desejo de conseguir o centro), puderam se exaltar na potência, força e conhecimento. Lúcifer buscou a mãe do fogo em seu centro, pensando reinar ali sobre o amor de Deus e de todos os anjos; Adão também desejou experimentar na essência, o que era a mãe ou a raiz, de onde surgiu o bem e o mal, colocando ali seu desejo, propositalmente, a fim de se tornar instruído e cheio de entendimento. Mas, com estes atos, ambos foram capturados em seu desejo falso ou mal, na mãe, separando-se da resignação proveniente de Deus, com isto foram apanhados pelo espírito da vontade, através do desejo na mãe. Este desejo tomou o domínio na natureza, imediatamente; o resultado foi que Lúcifer se fixou na colérica fonte do fogo e que o fogo se manifestou no espírito de sua vontade, com isto a criatura com seu desejo se tornou um inimigo do amor e da suavidade de Deus.

5. Adão, da mesma forma, foi imediatamente capturado pela mãe terrestre, que é o bem e o mal, criado da cólera e do amor de Deus, compactados numa mesma substância. Com isto, a propriedade terrestre dominou Adão instantaneamente; o resultado foi que a partir de então, o calor e o frio, a inveja e a cólera, e toda a malícia e contrariedade de Deus se manifestou, dominando o homem.

6. Mas, se eles não tivessem trazido a luz do conhecimento para o eu, então o espelho do conhecimento do centro e do original da criatura, ou seja, do poder que tinha em si mesmo, não teria se manifestado, não dando surgimento à imaginação e à cobiça.

7. Vemos que freqüentemente, nos dias de hoje, o mesmo erro traz o perigo sobre os iluminados filhos de Deus; quando o sol da grande presença da santidade de Deus brilha neles, fazendo com que a vida triunfe, a razão se enxerga como que num espelho, a vontade invade o eu, buscando a si mesma, experimenta o que é o centro, de onde brilha a luz; a vontade com seu próprio movimento e força se lança neste centro, de onde surge o abominável orgulho e o amor próprio; esta é então a razão própria da criatura, não é senão um espelho da Sabedoria eterna, julgando-se maior do que realmente é; depois disto, o que quer que faça, pensa ser a vontade de Deus que faz através dela e nela, continuando com seu desejo próprio; esse desejo próprio surge, prontamente, no centro da natureza, adentrando aquele falso desejo do eu contra Deus; a vontade entra então num auto-conceito e exaltação.

8. Com isto, o demônio sutil se insinua na criatura, separando o centro da natureza, trazendo o mal ou falsos desejos para dentro dela, fazendo com que o homem fique como que bêbado no eu; e ainda o convence de que está sendo guiado por Deus; com isto o bom princípio, onde a luz divina brilha na natureza, começa a se deteriorar e a luz de Deus deixa o homem.

9. Apesar disto, a luz exterior da natureza exterior ainda permanece brilhando na criatura. Pois, seu próprio eu se lança nela, acreditando ser a primeira luz de Deus; mas não é bem assim. Nesta auto exaltação na luz de sua razão exterior, o mal se pronuncia novamente (embora na primeira luz, que era divina, ele foi forçado a partir), retornando com um desejo setenário, do qual o Cristo falou dizendo: “Quando o espírito impuro deixa um homem, ele vagueia por lugares secos, buscando o repouso, mas nada encontra; então toma para si sete espíritos piores do que ele, retornando para sua primeira casa; encontrando a casa limpa e adorada, ali faz sua morada, sendo pior para o homem do que antes”.

10. Esta casa que está tão limpa e adornada, é a luz da razão no eu. Pois, se um homem traz seu desejo e vontade para Deus, fazendo abstinência desta vida fraca, desejando em seu coração o amor de Deus, esse amor irá, certamente se manifestar ao homem, com seu mais doce e amigável semblante, pelo qual a luz exterior também é acesa. Pois, onde a luz de Deus é acesa, lá haverá luz; ali o mal não pode ficar, deve partir; então ele busca através da mãe original da vida, ou seja, o centro, mas este se tornou um lugar seco e débil. Pois, a cólera de Deus, ou o centro da natureza, em sua própria propriedade se encontra débil, estéril e seca, não podendo dominar em seu próprio princípio colérico. Satã procurou encontrar nestes lugares, uma porta aberta, a fim de entrar com seu desejo e assim separar a alma, exaltando-se a si mesmo.

11. Se o espírito da vontade da criatura lançar a si mesmo, com a luz da razão, no centro, ou no eu, num processo de auto exaltação, deixará novamente a luz de Deus, abrindo uma porta para que o mal entre numa bela casa para habitar a luz da razão. Então o mal toma para si as sete formas da propriedade da vida no eu, ou seja, as exaltações que abandonaram a Deus e se encontram no eu: Ali ele entra, coloca seu desejo na luxúria do eu e das más imaginações, onde o espírito da vontade vê a si mesmo nas formas das propriedades da vida na luz exterior, então o homem se afunda em si mesmo, como se estivesse bêbado, as estrelas se apegam a ele, trazendo suas fortes influências (na Razão exterior) a fim de que ele ali possa buscar e manifestar as maravilhas de Deus. Pois, todas as criaturas suspiram e almejam a Deus, e ainda que as estrelas não possam apreender o espírito de Deus, é preferível ter um lugar de luz onde possam se regozijarem, do que uma casa fechada onde não possam ter descanso.

12. Assim caminha o homem, como se estivesse bêbado, na luz da razão exterior, chamada de estrelas, apreendendo grandes e maravilhosas coisas, contando com uma orientação contínua. O mal, presente, observa se alguma porta permanece aberta para ele, através da qual pode acender o centro da vida, para que o espírito da vontade possa atingir o topo do orgulho, do alto conceito ou da cobiça (de onde surge a arrogância, a vontade da razão desejando ser honrada); pois se supõe ter atingido toda a felicidade, ao adquirir a luz da razão, podendo julgar a casa dos mistérios ocultos que está fechada; a qual Deus pode facilmente abrir. O homem iludido, acredita ter alcançado o marco, que a honra se deve a ele, pois ele adquiriu a compreensão da razão, não passa pela sua cabeça que o mal o fez casar com seu desejo nas sete formas da vida do centro da natureza, nem que cometeu um erro abominável.

13. Desta compreensão da razão surgiu uma falsa Babel na Igreja Cristã, onde os homens ensinam e criam regras baseados em conclusões da razão, colocando a criança, embriagada em seu próprio orgulho e auto-desejo, como uma virgem sobre o trono.

14. Mas o mal penetrou suas sete formas de vida do centro, ou seja, em sua própria razão auto-concebida, trazendo seu desejo continuamente para o interior desta virgem, recebida pelas estrelas. Ele é sua besta, na qual se movimenta, bem adornado com os próprios poderes da vida, como observamos no Apocalipse de São João. Desta forma, a criança é entregue em poder do olhar exterior da santidade divina, ou seja, a luz da razão, pretendendo ser a justa criança da casa, embora o mal aí tenha seu abrigo o tempo todo.

15. O mesmo acontece com todos aqueles que já foram, alguma vez, iluminados por Deus e que mais uma vez abandonaram a verdadeira resignação, desmamando, deixando o puro leite de suas mães, ou a verdadeira humildade.