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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Sutra da Total Aniquilação do Dharma Proferido pelo Buda

Traduzido do sânscrito para o chinês por uma pessoa desconhecida. Traduzido do chinês para o português pelo  Upasaka Pundarikakarna no verão de 2014.


Assim ouvi. Naquele momento o Buda estava em Kuśinagara e faltavam apenas três meses
para seu Parinirvāṇa. Junto com ele estavam monges e bodhisattvas. Muitos vieram até o local
onde o Buda estava e curvaram suas cabeças aos seus pés. Porém   o Honrado Pelo  Mundo
permaneceu imóvel, não proferiu nenhum ensinamento e sua radiância luminosa não mais era
emitida.
O Venerável Ānanda então curvou-se em reverência e dirigiu-se ao Buda dizendo, "Honrado
Pelo Mundo, antes e depois de ensinar o Dharma uma poderosa ema nação luminosa era
sempre vista, mas agora a Grande Assembleia não mais vê tal manifestação. Por que isso
acontece? Deve haver uma razão!"
O Buda, porém, permaneceu em silêncio. Apenas após ser questionado pela terceira vez o
Buda dirigiu-se a Ānanda [e disse], "Após o meu nirvāṇa, chegará o tempo em que o Dharma
será aniquilado e extinto. As Cinco Faltas Mortais (1) tornarão o mundo turvo (2) e o Reino de Māra
prosperará. Demônios se tornarão monges para deteriorar meu caminho e torná -lo confuso.
[Esses  monges]   serão apegados a roupas comuns e vão deleitar -se com kaṣāyas de cinco
cores. (3)
Eles beberão álcool e comerão carne, tirando vidas pela ganância de seu sabor. Neles
não haverá [verdadeira] compaixão e serão odiosos e invejosos uns com os outros. Contudo,
naquele tempo também haverá bodhisattvas, praticantes solitários e arhats que se esforçarão
no cultivo de méritos, em tudo sendo respeitosos e pacientes e as pessoas que se submeterem
à disciplina serão guiadas [por eles] sem distinção. Terão piedade dos men os favorecidos e se
lembrarão dos mais velhos, ajudando a erguer os que sofrem de suas adversidades. Eles
sempre orientarão as pessoas a honrarem os sutras e as imagens. Farão votos de gerar méritos
de virtude e bondade. Não causarão dano aos seres humanos , renunciando a si próprios em
prol dos outros seres vivos. Não serão orgulhosos nem pouparão esforços sendo pacientes e
gentis, agindo assim com todas as pessoas.
"Mas os monges servos de Māra, cheios de inveja, arquitetarão maldades para cal uniá-los,
expulsando-os de onde estiverem, não permitindo que fiquem em um único lugar. Nenhum
desses monges vai dar seguimento às práticas das virtudes budistas. Os templos budistas serão
como mausoléus (4) abandonados e nunca mais se recuperarão dos danos s ofridos. Somente
preocupados em acumular bens e posses, [esses monges] não incentivarão a prática de atos
meritórios.  Negociarão  bens,  terão  escravos  e  serviçais  que  lhes  cultivarão  os  campos,
[garantindo-lhes o sustento sem esforço]. Vão atear fogo nas mo ntanhas e florestas(5) ferindo
os seres vivos, sendo completamente desprovidos de compaixão. Seus escravos serão aqueles
que querem se tornar monges e suas serviçais serão aquelas que querem ser monjas. Não
cultivando  as  virtudes  budistas,  serão  depravados  e   indisciplinados, não distinguindo os
homens das mulheres (6). Dessa maneira farão com que o Budismo se torne inconsistente e
insípido para todos [que queiram aprender].
Alguns, para evitar a condenação de alguém, o farão tornar-se monge. Vão se considerar
Śrāvakas, mas sem praticar a disciplina e as regras da moralidade. A cada período lunar eles
repetirão os votos dos Preceitos, mas vão agir com indolência e não desejarão ouvir o Dharma.
Eles vão omitir partes dos sutras, desconsiderando aqui e al i, não querendo ensinar o texto
inteiro, nem terão o hábito de recitar os sutras. Ainda assim, mesmo que alguém os leia, nem
sequer uma palavra ou frase será entendida. Haverá aqueles de palavras fortes e consistentes,
mas [os monges de Māra] não consultarão os mais esclarecidos por serem orgulhosos e só
buscarem fama [ao invés do Dharma]. Não serão objetivos [em suas falas], mas terão trejeitos
suaves e elegantes, pois querem ser homenageados e receber oferendas.
Quando chegarem ao fim de suas vidas, os monges servos de Māra afundarão no Inferno Avici
por terem cometido as Cinco Faltas Mortais, renascerão como Fantasmas Famintos e Animais
sofrendo tudo que causaram por uma quantidade de kalpas iguais  a  quantidade de grãos de
areia do Ganges. E no  dia em que suas faltas se esgotarem eles renascerão em terras distantes
onde os Três Tesouros não existam.
Quando  cessar  o  desejo  pelo  Dharma,  as  mulheres  farão esforços constantes para gerar
Méritos(7), mas os homens serão indolentes e não dando   ouvidos ao Dharma. Vão considerar os
monges como a escória do mundo e serão incapazes de ter uma mente capaz de confiar.
Quando o desejo pelo Dharma declinar chegará o momento em que todos os Reinos Celestiais
chorarão.  O  período  das  secas(8) será  descontrolado  e  os  Cinco  Tipos  de  Grãos(9) não
amadurecerão. Vapores mortíferos se espalharão [pelo ar] causando a morte de muitos. As
pessoas comuns sofrerão duras punições sob o jugo dos governantes, que se oporão aos
princípios do Caminho. Todos pensarão   apenas em prazeres e distrações. As pessoas más
serão  tantas  quanto  as  areias  do  oceano.  Em  compensação,  as  pessoas  boas  serão
extremamente escassas, talvez uma ou duas.
Quando esse kalpa estiver se exaurindo, os dias e noites serão mais curtos   e a vida passará
cada vez mais depressa. Aos quarenta os cabelos já serão brancos. Os homens serão devassos
e sua energia vital vai se exaurir muito cedo, viverão no máximo até aos sessenta. Os homens
viverão menos, mas a vida das mulheres será mais longa . Mesmo que cheguem a setenta,
oitenta ou noventa, poucos chegarão aos cem anos de idade.
Grandes inundações(10) acontecerão de repente e serão imprevisíveis. As pessoas do mundo não
terão mais um coração confiante e desejarão que a existência seja   permanente. Dentre os
seres sencientes não haverá mais diferença entre os de casta superior e inferior e todos se
afundarão sendo arrastados [pela inundação] e devorados por monstros aquáticos.
Naquele tempo, embora existam bodhisattvas, praticantes solitários e arhats, os monges
servos de Māra vão expulsá- los e  persegui-los  não permitindo que participem das assembleias.
Por isso os três tipos de praticantes adentrarão às montanhas(11) cultivando práticas benéficas
em prol da humanidade. Autocontrolados, eles serão felizes e contentes e a duração de sua
vida será prolongada e os seres celestiais os guardarão e protegerão. Então o bodhisattva
Candraprabha(12) surgirá no mundo. Em sua companhia eles reerguerão o Budismo.
Após um período de ci nquenta e dois anos, o Śūraṃgama-sūtra(13) e o Pratyutpanna-samādhi
Sutra(14) serão os primeiros a desaparecer e em seguida são se poderá mais consultar as doze
divisões do cânone Budista, pois elas estarão completamente aniquiladas, nunca mais serão
vistas, nem  suas palavras lidas. [Neste momento, então] o manto monástico espontaneamente
se tornará branco.(15)
Quando meu Dharma cessar, será como uma lamparina cujo azeite está prestes a acabar. Sua
luz é mais e mais brilhante até que de repente é totalmen te  extinta. Assim também será a
aniquilação do meu ensino. Certamente, as dificuldades que virão serão incontáveis e se
perpetuarão por muitos incontáveis milhares  de anos.
Maitreya então descerá no mundo como um Buda. Os vapores venenosos [de o utrora] serão
extintos e o mundo será próspero e pacífico. A chuva cairá suave fazendo os Cinco Tipos de
Grãos crescerem exuberantes. As florestas crescerão novamente. Os seres humanos terão a
altura de oito pés e a vida de todos vai durar oitenta e quatro   mil anos. A quantidade de seres
sencientes salvos será incalculável. ”
O Venerável Ananda fez uma reverência e dirigiu-se ao Buda dizendo, "Qual deve ser o nome
deste sutra para que seja respeitosamente mantido na memória?"
O Buda então respondeu, "Ānanda, ele deve ser chamado de 'Sutra da Total Aniquilação do
Dharma' e deve ser ensinado a todos e seu verdadeiro significado deve ser bem esclarecido.
[Sua correta compreensão] vai gerar méritos incalculáveis."
Os quatro tipos de discípulos  ouviram esse sutra com tristeza e desgosto e todos despertaram
a aspiração pela Suprema e Excelsa Iluminação. Todos eles curvaram -se em reverência ao Buda
e deixaram o local.
Este é o Sutra da Total Aniquilação do Dharma Proferido pelo Buda.
1
pañcānantarya; 五無間業  As cinco  faltas mortais, parricídio, matricídio, assassinar um arhat, derramar
o sangue de um Buda, destruir a harmonia da sangha.
2
濁世  Mundo poeirento ou lamacento. Numa referência a impossibilidade de se enxergar a realidade.
Uma imagem interessante do mundo fenomênico coberto de uma camada de pó ou sujeira , assim não
se  vê  suas  verdadeiras  características.  A  poeira  é  a  ganância,  o desejo descontrolado, a futil idade,
falsidade, fraqueza ética e moral  que deixa tudo desagradável e impossível de definir.
3
O número cinco simbolicamente passa por  várias ideias e conceitos. Aqui, baseado nas regras budistas,
os monges eram proibidos de usar vestes que fossem tingida s com as cinco cores primárias (na cultura
local): azul, vermelho, branco, amarelo, preto.
4
O caractere usado aqui é o mesmo usado para descrever as tumbas imperiais onde os servos eram
enterrados vivos junto com seus senhores. Ou seja, o Budismo estaria  morto e enterrado e seus servos,
os monges malignos  e falsos estariam “sepultados” junto com seu mestre.
5
Achei curioso lembrar que as montanhas e florestas eram os locais onde ficavam os mosteiros.  Vão
prejudicar a capacidade de monges sinceros se agruparem, assim causando dano aos seres sencientes.
6
As mulheres ficavam separadas dos homens nos mosteiros.  Também havia regras diferenciadas no
trato entre homens e mulheres para os monges.
7
Seduzidas   pelo  ar  de  misticismo  do  falso  budismo,  elas  se  interessarão  mais  do  que  os homens.
Considerava -se o sexo feminino mais s uscetível a esse tipo de engodo enquanto o sexo masculino seria
mais voltado à lógica e racionalidade.
8
O Sutra do Lótus compara o Dharma com uma chuva que cai igualmente sobre todos.
9
Como dito acima, o número cinco, simbolicamente, permeia a literatura com vários sentidos. Como os
grãos são uma fonte de força e sustento, pode ser uma associação com os  五力  pañcabala, as cinco
forças, ou cinco poderes que são, confiança, zelo, memória (ou  lembrança), meditação e sabedoria.
10
O  mar,  grandes  águas  são  quase  sempre  símbolos  do  sofrimento  ou  confusão  mental,  medo  e
angústia.
11
Ou  seja,  solitários,  afastados  da  multidão  num  sentido  de  que  não  participariam  das  grandes
congregações.
12
Candraprabha Bodhisattva, ou Gakkō Bosatsu em japonês, Yuèguāng Pusa em chinês, Luz da Lua em
português,  é  um  personagem  que  também  é  visto  ao  lado  de  Nikkō  Bosatsu  (Luz  do  Sol) e servem o
Buda da Medicina.  O disco lunar que ele sustenta representa o conhecimento  penetrante e as  virtudes
do Buda e simboliza a aspiração à Iluminação.
13
O Śūraṅgama Sūtra discute os conceitos de Yogācāra, Tathāgatagarbha e Budismo Esotérico. Faz uso
de lógica budista, com seus métodos de silogismo e Negação Quádrupla (sct. catu ṣ koṭi), popularizada
por Nāgārjuna. É um sutra Mahāyāna especialmente influente na escola Ch'an.
14
O Pratyutpanna Samādhi Sūtra contém a primeira menção conhecida ao Buda Amitabha e sua Terra
Pura,  sendo  dito  que  é  a  origem das práticas da Terra Pura na China. É um   sutra Mahāyāna inicial,
provavelmente escrito por volta do século I AEC na área de Gandhara, noroeste da Índia.
15
Branco era a cor  das vestes dos seguidores leigos. Ou seja, na ausência de verdadeiros monges, só

haverá seguidores leigos e eles tomarão a frente.

A RESOLUÇÃO DO BODHISATVA

 Extraído de O Nobre Sanghatasutra Dharma-Paryaya
Traduzido para o inglês por Damchö Diana Finnegan (Ven. Lhundup Damchö); traduzido do inglês para o português por Marly Ferreira. Esta tradução se baseia em uma tradução incompleta e preliminar. A nova versão traduzida inteiramente do tibetano está disponível em www.sanghatasutra.net.
Homenagem a todos os budas e bodhisattvas!


...
 “Da mesma forma, Bhaishajyasena, o bodhisattva que tomou a resolução inicial [da iluminação] nunca ficará sujeito
à ruína. Ele conhece todos os Dharmas em uma forma condensada.”
Ele disse, “Abençoado, o que vê em sonho um bodhisattva que tomou a resolução inicial?”
O Abençoado disse, “Bhaishajyasena, o bodhisattva que tomou a resolução inicial vê muitos medos em seu sonho.
Por que motivo? Quando medos aparecem em sonhos, então ele purifica todas as ações negativas. Bhaishajyasena,
não é possível para um ser maligno repelir as dores severas. Mas, ao ter um sonho mau, ele nada teme.”
Bhaishajyasena disse, “Abençoado, que medos um bodhisattva que tomou a resolução inicial vê em sonhos?”
O Abençoado disse, “Bhaishajyasena, ele vê um fogo ardente. Lá, aquele bodhisattva deverá produzir um
pensamento assim. ‘Eu queimei todos os desejos.’ Em segundo lugar, Bhaishajyasena, ele sonha com a água
mexida e agitada. Lá, aquele bodhisattva que tomou a resolução inicial nada deve temer. Por que motivo?
Bhaishajyasena, porque tendo retirado todas as amarras dos enganos, todos os males são destruídos pelo
bodhisattva. Em terceiro lugar, Bhaishajyasena, o bodhisattva que tomou a resolução inicial tem um sonho
assustador.”
Ele disse, “Abençoado, que sonho é este?”
“Ele vê que a cabeça de seu próprio corpo está raspada. Lá, Bhaishajyasena, aquele bodhisattva que tomou a
resolução inicial não deve temer. Por que motivo? Porque, então, ele deve produzir um pensamento assim: ‘Paixão,
ódio e enganos, eu raspei fora. Samsara, com os seis estados da existência, eu superei.’ Para ele, de fato, não
haverá qualquer permanência em um inferno. Nem nos reinos de animais, pretas, asuras, nagas e devas.
Bhaishajyasena, o bodhisattva que tomou a resolução inicial recebe o nascimento em campos búdicos puros.
“Bhaishajyasena, tempos depois, em uma ocasião posterior, se uma certa pessoa causar o amadurecimento de um
pensamento bodhi, então ele receberá uma grande reprovação, e ficará em um estado humilhante. Lá,
Bhaishajyasena, o bodhisattva que tomou a resolução inicial não deve produzir nem se fixar em um pensamento de
depressão.
“Bhaishajyasena, muitos são os Dharmas que ensinei. Bhaishajyasena, eu me engajei em práticas árduas durante
muitas centenas de milhares de incontáveis éons, não para usufruir a soberania, não para usufruir um meio de vida,
não para usufruir o poder. Eu me engajei em práticas árduas, Bhaishajyasena, com a finalidade de compreender a
natureza da realidade. E não realizei a insuperável e perfeitamente completa iluminação enquanto não ouvi este
dharma-paryaya.
Bhaishajyasena, naquele exato momento ouvi este Sanghata dharma-paryaya, naquele dia exato eu despertei a
insuperável e perfeitamente completa iluminação. Bhaishajyasena, este dharma-paryaya é profundo.
Bhaishajyasena, ouvir este dharma-paryaya é raro até em centenas de milhares de incontáveis éons.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O MAIS ELEVADO É A DESTRUIÇÃO DAS IMPUREZAS


252. Uma vez que Ananda estava morando perto de Kosambi no Parque Ghosita, Bhaddaji aproximou-se e Ananda perguntou: "Bom Bhaddaji, qual é o mais elevado dos pontos de vista, o mais elevado dos sons, o maior dos prazeres, o mais elevado dos estados conscientes, o mais elevado ? "


"Existe Brahma que é todo-poderoso, nenhum é mais poderoso, tudo vê, com grande poder e domínio. Ver Brahma é a mais elevada visão. Existem os deuses do esplendor radiante em quem a alegria flui e transborda e que proferem um choro de "Alegria! Oh alegria! "Ouvir isso é o mais elevado dos sons. Existem os deuses todo-luminosos que sentem alegria, mas que se regozijam em silêncio, e esta é a mais alta das alegrias. Há os deuses que vão à esfera do nada e este é o mais alto dos estados conscientes. Depois, há os deuses que se dirigem para a esfera da nem-consciência nem-inconsciência, e este é o mais elevado vir a ser ".


"Mas Bhaddaji, o que você diz é apenas a conversa da multidão. Ouça, preste atenção, e eu falo. Se, enquanto se olha, as impurezas são destruídas, esta é a mais elevada das visões. Se, enquanto se alegra, a as impurezas são destruídas, esta é a mais elevada alegria. Se, enquanto alguém está consciente, as impurezas são destruídas, este é o mais elevado dos estados conscientes. Se, enquanto se torna, as impurezas são destruídas, este é o mais elevado vir a ser ".

 Anguttara Nikaya III.202

Tradução por Antonio Gonzaga

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A Mente Única

Huang-po Hsi-yun

Todos os buddhas e todos os seres comuns nada mais são do que a mente única. A mente é sem início e sem fim, não-nascida e indestrutível. Não tem cor nem forma, não existe nem não-existe, não é velha nem nova, longa ou curta, grande ou pequena, já que transcende todas as medidas, limites, nomes e comparações. É o que vocês vêm diante de vocês.

Comecem a pensar sobre isso e imediatamente estarão errados. É como um vazio ilimitado, que não pode ser sondado ou medido. A mente única é o Buddha, e não há distinção entre o Buddha e os seres comuns, exceto pelo fato de que os seres comuns estão apegados às formas, e assim procuram pela natureza búddhica como se ela estivesse fora deles mesmos. Por causa desta procura, eles perdem a natureza búddhica, já que estão usando o Buddha para procurar o Buddha, usando a mente para procurar a mente. Mesmo que continuem por um milhão de éons, nunca serão capazes de encontrá-la. Não sabem que o que todos eles têm de fazer é colocar um fim ao pensamento conceitual, e então o Buddha aparecerá diante deles, pois esta mente é o Buddha e o Buddha são todos os seres sencientes. Não é menos para os seres manifestos nas coisas comuns, nem mais para os seres manifestos nos Buddhas.

Sua natureza verdadeira é algo que nunca se perderá nos momentos da ilusão, nem se ganhará no momento da iluminação. Ela é da natureza da essencialidade. Nela, não há nem a ilusão nem a compreensão correta. Preenche o vazio em todas as partes e é intrinsecamente da substância da mente única. Como, então, os objetos criados pela mente poderiam existir fora do vazio? O vazio é fundamentalmente desprovido de dimensões espaciais, aflições, atividades, ilusões ou da compreensão correta. Vocês têm que compreender claramente que nele não há nem coisas, nem homens e nem Buddhas, pois este vazio não contém o menor fio de cabelo de qualquer coisa que possa ser vista especialmente. De nada depende e a nada está apegado. A tudo embebe e possui beleza imaculada. Existe em si mesmo, é o absoluto não-criado. Então, como poderia haver a discussão, “se o Buddha real não tem boca e não prega qualquer Dharma, ou se o escutar real não requer ouvidos, quem poderia escutá-lo?” Ah, eis uma jóia que está além de qualquer preço!

Esta mente pura, que é a fonte de todas as coisas, brilha eternamente com a radiação de sua própria perfeição. Mas a maioria das pessoas não está consciente disso e pensa que a mente é apenas a faculdade que vê, ouve, sente e conhece. Cegados pela suas próprias visões, audições, sentimentos e conhecimentos, eles não percebem a radiação da fonte. Se pudessem eliminar todo pensamento conceitual, esta fonte apareceria como o sol, brilhando no céu vazio e iluminando todo o universo.

Portanto vocês, estudantes do caminho, que procuram compreender através da visão, da audição, do sentimento e do conhecimento: quando suas percepções são cortadas, seu caminho para a mente será cortado e vocês não encontrarão qualquer lugar para entrar. Apenas realizem que, apesar da mente se manifestar nestas percepções, ela não é parte delas, nem está separada delas. Vocês não devem tentar analisar estas percepções, nem pensar sobre elas; vocês não devem procurar a mente única fora delas. Não se prendam às percepções, nem as deixem para trás; não permaneça nelas, nem as rejeitem. Acima, abaixo e em todos os lugares ao redor de vocês, todas as coisas aparecem espontaneamente, pois não há qualquer coisa que esteja fora da mente do Buddha.

Fonte: Antigo site Dharmanet > Ecos do Silêncio