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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

A Sabedoria de Fra. L.A.

Apresentação

Fra. L.A. retirou-se no silêncio, antes disso ele nos disse que tinha nos ensinado tudo já, todo o necessário e tudo que ele sabe, no caminho da iluminação, e nos autorizou a ensinar, disponibilizar e transmitir todos os ensinamentos públicos, dos quais temos anotações tanto textuais como resumos e gravações (as quais também transcreveremos). 

Seu nome de iniciado será mantido aqui a não ser que recebamos solicitação direta de que sua identidade no mundo seja revelada, à qual ele não dava a mínima importância, mas pelo contrário dizia "nunca nasci, nunca morri, sou consciência", pois conhece a realidade para muito além da personalidade (personalidade que ele considera uma das maiores prisões do ser humano, porque, em vez de usá-la como ferramenta, nos aferramos a ela, nos identificando com ela, criando um falso eu). Esse tempo que tivemos aprendendo com ele foi bastante precioso, mas ele nos preveniu de sua partida deste mundo muitas vezes antes de entrar em silêncio e nos deixou avisados de quando seria. Por outro lado nós ficamos aguardando que nos desse novamente o presente de sua presença antes disso.

Digo aqui ensinos "públicos" porque ele nos instruiu também com duas espécies de ensinos particulares:

a) aqueles que não devem ser dados a pessoas sem a devida preparação (instrução e experiência), pois levarão fatalmente a interpretação errada, incompreensão e confusão devido ao não domínio correto dos significados das palavras nem a devida experiência correspondente ao seu significado e

b) aqueles dirigidos especialmente a cada um individualmente, ensinamentos, práticas, meios, válidos apenas para cada pessoa ou determinada situação que estava passando.

Para ter acesso a esse segundo tipo de ensino é preciso estar nos estudos preliminares, que ele descreveu como "estar sob a árvore". Assim, só as pessoas sob acompanhamento, que já dominam o significado de certas palavras e com uma mínima experiência, poderiam receber estes outros poucos e definitivos. Depois disso a pessoa deveria "sair de debaixo da árvore" e percorrer seu próprio caminho. Estes ensinos mais particulares nós disponibilizamos nos grupos entre participantes assíduos.

Os públicos, preliminares e essenciais vamos procurar expô-los todos aqui por escrito na medida do possível. Eles são universais, servem para budistas ou não budistas, agnósticos ou cristãos, cegos ou com pouca poeira nos olhos, pois devem levar a pessoa a ver por si mesmo e a constatar por suas próprias investigações, meditações e experiências, e diante disso fazer suas próprias escolhas e interpretações dos fatos. Estes não são apenas básicos, mas também a essência, o miolo, os fundamentos amplos sem os quais não se pode de modo algum chegar aos mais avançados. Eles são mais numerosos e os particulares são os mais preciosos.



Num primeiro momento Fra. L.A. conversou conosco sobre assuntos gerais e de nossas experiências, num segundo momento ele nos transmitiu o ensino particular do Mahamudra, estudando três vezes seguidas, cada uma por uma ou mais traduções devido a não existirem boas traduções nem em português nem em inglês, das duas versões mais antigas existentes, em sânscrito e tibetano. Durante esse período, ele nos falava de cada frase, em seu sentido ordinário e prático e nos sentidos para estudantes e para amadurecidos. Conversávamos, fazíamos perguntas, e formulávamos também maneiras de dizer aquilo para outros de uma forma que todos pudessem compreender (apesar de em muitos casos ele lamentava tanto por não haverem muitas pessoas no mundo capazes de ter esse tipo de conversa quanto por ele mesmo não ter como expressar suas experiências que ainda não compartilhávamos).

Num terceiro momento voltamos a todos os tipos de tema incluindo também o Mahamudra, e especialmente os ensinamentos e leis herméticas, os ensinamentos do Tao e o caminho da "não-ação", e também sobre os ensinos dos santos, a Filocalia, e textos cristãos (canônicos, doutrinários e apócrifos), assim como secundariamente sobre muitas outras coisas como os destinos políticos da humanidade, as ideologias e seus malefícios, as questões sobre a liberdade individual e a libertação final, os estados para além da mente ou puramente espirituais, os condicionamentos e os problemas da psicologia comum, o legado da filosofia antiga e os problemas de como se entende a filosofia na atualidade, etc.. 

Falo secundariamente, porque apesar de se dedicar com o mesmo afinco a essas questões ele já havia dito serem diferentes da realidade última e que é realmente importante e eterna, em contraste com o que é passageiro, algo momentâneo e desse mundo. E também porque apesar desses conhecimentos todos falava-nos como uma pessoa muito simples e se dizia estar agora analfabeto. Era como se classificasse suas falas internamente em coisas da personalidade e coisas da iluminação, mas nós é que teríamos que fazer a separação. 

Da mesma forma trataremos as anotações aqui, elas não obedecerão ordem nem cronológica nem por tópicos e nem por esses três momentos, cabendo a cada um arrumar em si; e assim fazer as ligações e relações, pois acredito que só assim a pessoa se apossa do assunto, ou seja, torna aquele conhecimento realmente seu, em vez de mera repetição de informações previamente organizadas didaticamente.

A didática de Fra. L.A. consiste precisamente nisso, não ter nada a dizer, nada preparado nem organizado, mas fluir como um rio de sabedoria, estreito, pois em poucas palavras e com falas curtas ele disse tudo que é necessário nesse veículo. Ele preferia ficar em silêncio e ouvir ou que fizéssemos perguntas e nos disse que o silêncio é o melhor professor. Com esse exemplo também nos instruiu sobre o que chegou muitas vezes a dizer: que sem atingir o silêncio interior não podemos de fato conhecer nada.

"Você vê uma flor [fazia a imitação de uma flor com a mão], se pensar que ela é bonita, já foi, já entrou o julgamento".

Por Fra. I.L.I.V.