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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

No Budismo Todo Desejo é Ruim?



         Continuando a série de estudos sobre o desejo no budismo eis um texto que deve ser sempre levado em conta, talvez até como uma breve introdução ao tema. Outro detalhe a ser notado é a questão do prazer que normalmente se fazem falsas associações negativas, tanto ou mais até que na palavra desejo.

         Só posso atribuir isso a dois motivos: (1) uma confusão com as traduções especialmente feitas do inglês, pois a língua brasileira não dispõe de tamanha quantidade de termos equivalentes e traduz várias palavras em apenas duas, “desejo” e “ânsia”, desejo tem sido usado como tradução, não só de desire, mas também de wish, craving, yearning, longing, thirst e outras chegando até às mais absurdas, e, no caso de “prazer”, tem sido muito usada a tradução felicidade, não quando a origem é happiness ou blis, mas até mesmo quando é pleasure ou principalmente delight, ou a própria palavra pali que seria mais propriamente traduzida como prazer ou deleite; (2) outro motivo pode ser uma confusão ou tentativa de universalização de certos valores que na verdade seriam cristãos ou hindus e não budistas.

         A solução para esse dilema seria que mais pessoas estudassem as línguas originais dos textos como o pali e o sânscrito. O budismo não condena nem o desejo nem o prazer, mas certo tipo de desejo e certo tipo de prazer. Entenda mais lendo o texto.

 

No Budismo todo desejo é ruim?

Extraído de:

ABC do Budismo

Por

Michael Beisert

Respostas a algumas das dúvidas mais freqüentes sobre o Budismo

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O Buda disse que as pessoas não são felizes devido ao desejo e que o desejo é a causa do sofrimento humano. Isso significa que no Budismo todo desejo é considerado ruim?

O Buda reconheceu que o desejo é uma força poderosa nas nossas vidas e que a busca pelo prazer está profundamente enraizada na nossa mente. O Buda não negou isso, mas o que ele descobriu é que existem distintos tipos de desejo e distintos tipos de prazer.

Ele observou que não vale a pena buscar alguns tipos de prazer, pois eles acabam se revelando insatisfatórios pelo fato de sempre terminarem. Como diz o ditado, ‘tudo que é bom dura pouco.’ E quando termina, a reação natural é buscar mais, e como esse novo prazer também terminará, então essa busca acaba se tornando inútil e inglória. Além da impermanência, uma das características de todas as coisas, o Buda também descobriu que esses tipos de prazer, que não vale a pena buscar, apresentam perigos e desvantagens enormes, um deles, apesar da satisfação proporcionada, é o de despertar uma busca contínua por prazeres ainda mais intensos e duradouros. Uma boa ilustração desse processo são todos os tipos de obsessões e vícios que podem ser observados na sociedade. O outro tipo de perigo é o preço a ser pago e as consequências decorrentes da busca por esses tipos de prazer. E elas vão desde o esforço individual para ganhar o dinheiro para a obtenção desse tipo de prazer, depois o trabalho de protegê-lo e preservá-lo, chegando à criminalidade e outras enfermidades sociais; sem falar no impacto ambiental e nos conflitos interpessoais que podem até mesmo levar a guerras entre nações, etc.

Esses tipos de prazer são aqueles provenientes dos sentidos, os prazeres sensuais na terminologia Budista. Ao notar as desvantagens dos prazeres sensuais, o Buda se perguntou se haveria algum outro tipo de prazer que não sofresse dos mesmos tipos de problemas.

 

Ele descobriu duas coisas. Primeiro, há um outro tipo de prazer que não é sensual e que produz uma satisfação muito superior àquela dos prazeres sensuais, mas que ainda assim é impermanente. É o prazer dos jhanas. Os jhanas são estados de absorção profunda que produzem um intenso prazer na mente. As vantagens desse tipo de prazer em relação aos prazeres dos sentidos é que ele está sempre acessível, não pode ser comprado, ninguém poderá tirá-lo de você e que, portanto, não gera nenhum tipo de conflito.

Segundo, além dos jhanas, o Buda descobriu que há um prazer ainda maior, e o melhor de tudo é que ele não está sujeito à impermanência. É o prazer da libertação completa - nibbana.

Com relação ao desejo, o Buda identificou que há dois tipos de desejo, os hábeis e os inábeis. A melhor maneira de ilustrar a diferença entre esses dois é através de um símile empregado pelo próprio Buda. Imagine uma galinha que está chocando os ovos. Se ela desejar que os pintinhos rompam as cascas e nasçam com saúde, mas não cobrir os ovos e não os mantiver aquecidos da forma necessária, os pintinhos não irão nascer não importa quanto a galinha deseje isso. Por outro lado, se ela não desejar que os pintinhos nasçam, mas mesmo assim, se ela cobrir e aquecer os ovos da maneira necessária, os pintinhos, certamente, irão nascer. Ou seja, para obter certos resultados, há uma forma correta de fazer as coisas. Ter desejos que contrariam a maneira correta de fazer as coisas acaba sendo um obstáculo para a concretização do objetivo. No entanto, se o desejo for coerente com a maneira correta de fazer as coisas, então as chances de alcançar o objetivo serão maiores ainda.

O Buda identificou que os desejos pelos prazeres sensuais nos afastam de um prazer ainda maior e melhor, que são os jhanas; e por isso ele recomendou o abandono dos prazeres sensuais e a busca do prazer dos jhanas. E mais ainda, ele recomendou o abandono do prazer dos jhanas por um prazer ainda maior e melhor, que é nibbana.

Portanto, não há problema nenhum em desejar o prazer superior dos jhanas ou de nibbana. Mas é absolutamente tolo desejá-los e não fazer aquilo que é necessário para alcançá-los.

 

 

 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Cinco dicas para quem está começando a meditar


03/20/2013 —

Alice Boyes

Sem dúvida você já ouviu dizer que meditar faz bem. No entanto, para muitas pessoas as descrições de meditação não são muito atraentes e parece ser uma coisa a mais para a qual você não tem tempo.

Aqui estão cinco dicas para quem está começando a meditar que ajudam a superar os problemas de (1) a falta de atrativo, e (2) parecer muito assustador.

1. Comece com 3-5 minutos (ou menos)

Alguns excelentes dados coletados de novos usuários do aplicativo *Lift goal-tracking app mostram que a maioria dos meditadores iniciantes começou com 3-5 minutos. Mesmo três minutos, pode parece um tempo enorme quando você começa a meditar; mas você pode começar com tempos até menores. Por exemplo, prestando atenção às sensações de três respirações completas.

2. Entenda o quê a meditação pode fazer por você, se tem problemas com estresse, ansiedade, irritabilidade ou ruminação

A meditação é uma ótima maneira de aumentar a capacidade de resistência ao estresse. Se sofre de ansiedade, a meditação irá ajudar a reduzir a sua tendência geral de super excitação fisiológica e a acalmar o sistema nervoso.

Na minha prática de terapia, os clientes que mais consideram a meditação útil são geralmente as pessoas que são propensas à ruminação. Isso faz sentido, uma vez que a meditação é basicamente focar sua atenção em alguma sensação (por exemplo, as sensações de respiração) e trazer de volta sua atenção a este foco, quando percebe que se afastou para “avaliar” (por exemplo, “Estou respirando muito rápido ? “) ou para outro assunto (por exemplo,” Eu tenho tanta coisa para fazer amanhã”).

A meditação pode ajudar a lidar com a irritabilidade, em parte, porque o ajuda a aprender a reconhecer que está tendo pensamentos negativos antes que você os deixe escapar de uma forma que acaba por gerar mais estresse para você (por exemplo, picuinhas com seu parceiro que acabam gerando uma briga) .

3. Compreenda os princípios da meditação

Meditadores iniciantes geralmente acham que o objetivo da meditação é chegar ao ponto em que podem se concentrar sem se distrair.

Um objetivo mais útil é tornar-se consciente mais rapidamente de quando sua mente se distrai.

Tornar-se consciente do que você está pensando é a base do sucesso da Terapia Cognitiva. Você não será capaz de reestruturar seus pensamentos se não tiver inicialmente desenvolvido a capacidade de identificá-los.

Outra meta útil para novatos na meditação é a de ser capaz de redirecionar sua atenção de volta para seu foco, sem criticar a si mesmo.

4. Faça meditação do seu próprio jeito

A maioria dos meus clientes não gostam de mp3 para meditar. Eles acham que são muito “new age”.

Como caminhar ajuda as pessoas a se concentrar e reduz a distração, uma meditação que envolve caminhada pode ser um ótimo ponto para começar.

Kelly McGonigal sugere uma meditação caminhando de 10 minutos, começando com alguns minutos prestando atenção a (1) as sensações do seu corpo ao caminhar, (2) as sensações de sua respiração, (3) as sensações de ar ou vento em sua pele, (4) o que você pode ouvir, e (5) o que você pode ver.

A seguir com 5 minutos de atenção aberta, onde se permite perceber e sentir tudo o que se apresentar à sua consciência. Não vá à procura de coisas para ouvir, ver, sentir etc. Basta observar o que quer que se apresente à sua consciência e deixar que seja naturalmente substituído por o que quer que surja na sequência, sempre que isso acontecer.

Durante esses momentos de  atenção aberta, se sua atenção derivar para pensamentos sobre o passado, o futuro ou avaliativos, volte o mais rápido possível a um dos pontos de foco para estabilizar a sua atenção.

Você pode adaptar estas instruções como quiser. Faça a sua própria prática. Você está no comando! Por exemplo, faça uma meditação caminhando em que você se concentra em um dos pontos de foco acima por 3 minutos e depois faça 3 minutos de atenção aberta.

5. Reduza o “tudo ou nada”

Realisticamente, há apenas uma pequena quantidade de pessoas que estará disposta a meditar de forma regular.

Outra abordagem é fazer a prática diária de meditação formais (como a meditação caminhando) por um período inicial, e então começar a incorporar a meditação em seu dia-a-dia de maneira informal.

Incorporar a meditação informal em seu dia pode incluir, por exemplo, prestar atenção às sensações de algumas respirações cada vez que for alternar tarefas.

Sustentar uma prática diária formal quando é iniciante (1) permite que você experimente diferentes tipos de meditação, (2) gera conforto e familiaridade suficientes com a meditação para que possa reiniciar a prática formal, caso esteja passando por uma fase de maior estresse ou ruminação, e (3) desenvolve compreensão suficiente sobre meditação para que possa desenvolver suas próprias idéias para práticas de meditação informais.

O gráfico abaixo (também de usuários do aplicativo *Lift goal-tracking app mostra que os meditadores iniciantes que praticaram durante 11 dias apresentaram mais de 90% de probabilidade de continuar. Perceba que a inclinação da curva começa a ficar mais plana em torno do dia 8. Cumprir a prática da meditação, pelo menos, por esse tempo é importante. Fazer um plano de 21 ou 30 dias de meditação é uma ótima maneira de começar.



Alice Boyes

 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

SATI

O ensinamento fundamental, a prática que está presente em todas as meditações, em todas as horas do dia e da noite, aquilo que levará a ver por si mesmo:

"Aquilo que vigia os vários fatores que podem surgir na meditação é sati, atenção vigilante. Essa qualidade sati é uma condição que, através da prática, pode ajudar os outros fatores a surgirem. Sati é vida. Sempre que não temos sati, quando estamos desatentos, é como se estivéssemos mortos. Se não tivermos sati, então o nosso discurso e ações são sem significado. Sati é simplesmente contemplação. É uma causa para o surgimento da conscientização de si e sabedoria. Quaisquer virtudes cultivadas serão imperfeitas se sati estiver em falta. Sati é aquilo que permite observar-nos enquanto estamos de pé, andando, sentados ou deitados. Mesmo quando não estamos em samādhi, sati deve estar presente inteiramente". ~ Ajahn Chah