Continuando a série de estudos sobre o
desejo no budismo eis um texto que deve ser sempre levado em conta, talvez até
como uma breve introdução ao tema. Outro detalhe a ser notado é a questão do
prazer que normalmente se fazem falsas associações negativas, tanto ou mais até
que na palavra desejo.
Só posso atribuir isso a dois motivos:
(1) uma confusão com as traduções especialmente feitas do inglês, pois a língua
brasileira não dispõe de tamanha quantidade de termos equivalentes e traduz
várias palavras em apenas duas, “desejo” e “ânsia”, desejo tem sido usado como
tradução, não só de desire, mas também de wish, craving, yearning, longing,
thirst e outras chegando até às mais absurdas, e, no caso de “prazer”, tem sido
muito usada a tradução felicidade, não quando a origem é happiness ou blis, mas
até mesmo quando é pleasure ou principalmente delight, ou a própria palavra
pali que seria mais propriamente traduzida como prazer ou deleite; (2) outro
motivo pode ser uma confusão ou tentativa de universalização de certos valores
que na verdade seriam cristãos ou hindus e não budistas.
A solução para esse dilema seria que
mais pessoas estudassem as línguas originais dos textos como o pali e o
sânscrito. O budismo não condena nem o desejo nem o prazer, mas certo tipo de
desejo e certo tipo de prazer. Entenda mais lendo o texto.
Extraído de:
ABC do Budismo
Por
Michael Beisert
Respostas a algumas das dúvidas mais
freqüentes sobre o Budismo
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O Buda disse que as pessoas não são felizes devido ao
desejo e que o desejo é a causa do sofrimento humano. Isso significa que no
Budismo todo desejo é considerado ruim?
O Buda reconheceu que o desejo é uma força poderosa nas
nossas vidas e que a busca pelo prazer está profundamente enraizada na nossa
mente. O Buda não negou isso, mas o que ele descobriu é que existem distintos
tipos de desejo e distintos tipos de prazer.
Ele observou que não vale a pena buscar alguns tipos de
prazer, pois eles acabam se revelando insatisfatórios pelo fato de sempre
terminarem. Como diz o ditado, ‘tudo que é bom dura pouco.’ E quando termina, a
reação natural é buscar mais, e como esse novo prazer também terminará, então essa
busca acaba se tornando inútil e inglória. Além da impermanência, uma das
características de todas as coisas, o Buda também descobriu que esses tipos de
prazer, que não vale a pena buscar, apresentam perigos e desvantagens enormes,
um deles, apesar da satisfação proporcionada, é o de despertar uma busca
contínua por prazeres ainda mais intensos e duradouros. Uma boa ilustração
desse processo são todos os tipos de obsessões e vícios que podem ser
observados na sociedade. O outro tipo de perigo é o preço a ser pago e as
consequências decorrentes da busca por esses tipos de prazer. E elas vão desde
o esforço individual para ganhar o dinheiro para a obtenção desse tipo de
prazer, depois o trabalho de protegê-lo e preservá-lo, chegando à criminalidade
e outras enfermidades sociais; sem falar no impacto ambiental e nos conflitos
interpessoais que podem até mesmo levar a guerras entre nações, etc.
Esses tipos de prazer são aqueles provenientes dos
sentidos, os prazeres sensuais na terminologia Budista. Ao notar as
desvantagens dos prazeres sensuais, o Buda se perguntou se haveria algum outro
tipo de prazer que não sofresse dos mesmos tipos de problemas.
Ele descobriu duas coisas. Primeiro,
há um outro tipo de prazer que não é sensual e que produz uma satisfação muito
superior àquela dos prazeres sensuais, mas que ainda assim é impermanente. É o
prazer dos jhanas. Os jhanas são estados de absorção profunda que produzem
um intenso prazer na mente. As vantagens desse tipo de prazer em relação aos
prazeres dos sentidos é que ele está sempre acessível, não pode ser comprado,
ninguém poderá tirá-lo de você e que, portanto, não gera nenhum tipo de
conflito.
Segundo, além dos jhanas, o Buda
descobriu que há um prazer ainda maior, e o melhor de tudo é que ele não está
sujeito à impermanência. É o prazer da libertação completa - nibbana.
Com relação ao desejo, o Buda
identificou que há dois tipos de desejo, os hábeis e os inábeis. A melhor
maneira de ilustrar a diferença entre esses dois é através de um símile
empregado pelo próprio Buda. Imagine uma galinha que está chocando os ovos. Se
ela desejar que os pintinhos rompam as cascas e nasçam com saúde, mas não
cobrir os ovos e não os mantiver aquecidos da forma necessária, os pintinhos
não irão nascer não importa quanto a galinha deseje isso. Por outro lado, se
ela não desejar que os pintinhos nasçam, mas mesmo assim, se ela cobrir e
aquecer os ovos da maneira necessária, os pintinhos, certamente, irão nascer.
Ou seja, para obter certos resultados, há uma forma correta de fazer as coisas.
Ter desejos que contrariam a maneira correta de fazer as coisas acaba sendo um
obstáculo para a concretização do objetivo. No entanto, se o desejo for
coerente com a maneira correta de fazer as coisas, então as chances de alcançar
o objetivo serão maiores ainda.
O Buda identificou que os desejos
pelos prazeres sensuais nos afastam de um prazer ainda maior e melhor, que são
os jhanas; e por isso ele recomendou o abandono dos prazeres sensuais e a busca
do prazer dos jhanas. E mais ainda, ele recomendou o abandono do prazer dos
jhanas por um prazer ainda maior e melhor, que é nibbana.
Portanto, não há problema nenhum em desejar
o prazer superior dos jhanas ou de nibbana. Mas é absolutamente tolo desejá-los
e não fazer aquilo que é necessário para alcançá-los.