Dos “conceitos”
mais centrais, essenciais, apresentados pelo Buda, o que mais causa espanto ou
desconcerto no ocidental, geralmente é o de Nibbana (Nirvana em sânscrito). Na verdade
é um tema difícil mesmo para orientais budistas, mesmo para muitos monges. A palavra
conceito está entre aspas porque Nibbana não é um conceito, mas exatamente o
que não pode ser conceituado. Para ser mais fiel às palavras do Senhor Buda
temos que reconhecer que Nibbana não é definível, só pode ser compreendido pela
experiência direta dele (seja gradativa ou imediata). Nibbana
é descrito como “profundo, difícil de ver e difícil de compreender, (...) que
não pode ser alcançado através do mero raciocínio” (MN 26.19).
Muitos ocidentais gostam de equivaler Nibbana à
ideia de um Deus (que apenas não seria criador como o dos monoteístas ocidentais),
seria um deus transcendente, porém mais imanente do que propriamente um fazedor
ou gerador de tudo; seria impessoal, como o deus de alguns gnósticos, por
exemplo. Essa ideia não pode ser facilmente descartada ou admitida, afinal
existem tantas diversas concepções sobre um deus absoluto no ocidente como
existem concepções sobre nirvana no oriente; dizer que nenhuma delas se equivalha
é no mínimo precipitado. Porém mais importante é saber que Nibbana, objetivo
último do budista, não pode ser simplesmente entendido ou definido, mas sim que
nós temos que conhecer pessoalmente, experimentá-lo gradualmente e não nos
conformarmos com as primeiras visões que se nos apresentem ou que experimentamos.
Muito relacionado com esse termo temos anatta,
traduzido comumente como não-eu, que se refere tanto à insubstancialidade de
tudo quanto à impessoalidade; precisamente à ausência de um eu, ego ou egoídade;
de uma entidade ou essência imutável e eterna em qualquer coisa, inclusive em
nós, e, portanto também, de um possuidor de qualquer coisa. Mas Nibbana é a única
coisa que transcende isso. É preciso que se diga que Nibbana é apontado pelo
Senhor Buda como “o imortal”. Buda fala de Nibbana como sendo a outra margem, o
fim do cativeiro, a praia segura, e outras tantas descrições, e em se tratando
do tema em questão, ele é seguro porque é imutável, satisfatório, imortal. Buda
não disse que tudo é transitório, insatisfatório e insubstancial, ele disse que
tudo no mundo tal como vivenciamos é assim, porém que há uma esperança, uma
saída dessa realidade condicionada, mutável, mortal, insatisfatória. Essa saída
é precisamente Nibbana.
Um guia sobre a experiência de Nibbana é a
descrição dada por Buda. Esse pequeno sutta trata disso. Ele mostra como
Nibbana é a saída do cativeiro condicionado, limitado, insatisfatório, ilusório,
mortal; do mundo que vivemos. Ele é uma adaptação das traduções encontradas no
site www.acessoaoinsight.net e de alguns
livros de Antônio Carlos Rocha.
Udana VIII.3
Nibbana Sutta
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contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso.
De outra forma todos os direitos estão reservados.
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Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatthi, no Bosque de Jeta, no
Parque de Anathapindika. Naquela ocasião, o Abençoado estava instruindo,
estimulando, encorajando e motivando os bhikkhus com um discurso do Dhamma
relativo ao Nibbana. Os bhikkhus – receptivos, atentos, focando toda a sua
atenção, ouviam o Dhamma.
Então, dando-se conta do significado disso, o Abençoado nessa ocasião
exclamou:
"Existe, bhikkhus, o não nascido, o que não é advindo, o que não é
feito, o que não é condicionado. Se não existisse o não nascido, o que não é
advindo, o que não é feito, o que não é condicionado, não haveria esperança de
emancipação do nascido - do advindo, do feito, do condicionado. Porém precisamente
porque há o não nascido, o que não é advindo, o que não é feito, o que não é
condicionado, a emancipação do nascido, do advindo, do feito, do condicionado é
possível."