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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Uma Sessão de Perguntas - parte 3


Uma sessão de perguntas feitas pelos estudantes a Ryokan Hiroshi



3. O senhor poderia falar mais sobre sua saída do zen e os motivos e que lição trás isso para nós? Pois parece algo muito semelhante á experiência de muitos que chegaram aqui desiludidos com o que estavam seguindo, e não como outros que não deixaram suas doutrinas de antes.

Não, porque eu não deixei o zen e não, ainda, porque eu nunca segui o zen...

É incrível como, de tantas formas de budismo e tantas doutrinas que estudei, o que fascine mais as pessoas seja sempre o zen. Eu não posso falar sobre isso porque seria uma má propaganda, seria um falar mal. Eu já falei outras vezes que o zen é que deixou o zen e isto pode soar mal para algumas pessoas, ou que estou falando mal do zen. [Falou um dito chinês ou japonês, que não podemos entender ao todo, aparentemente sobre surrar um cão de guarda, algo que talvez deva equivaler ao nosso "cuspir no prato que comeu".]

O que eu posso dizer é que o zen não serviu para mim senão como uma ponte, por um tempo. Eu pensava que era meu caminho, mas estava atravessando uma ponte que levou a muitos caminhos para escolher. E eu escolhi não seguir no zen oficial porque muitas coisas não se ajustaram às minhas necessidades na época. Isto é tudo. Boas ou más escolhas, aqui estou.

No zen que eu estive há roupas, ritos, obrigações, recitações, devoções, hierarquia. Na outra escola que segui que também é zen (ou uma derivação do zen que tenta restaurar o princípio) me vi livre dessas coisas e envolto apenas no que interessava, estudo e prática, e fiquei pronto para estar livre títulos e poder ensinar de maneira simples como um monge itinerante, ajudando as pessoas com o que eu sabia. 

Até que casei e fui morar nos Estados Unidos novamente, conheci o cristianismo e algumas ordens e conheci essa ordem aqui, isso aqui nos Estados Unidos e no Japão, e professores em Jerusalém, e principalmente na Inglaterra e Escócia, na Alemanha, Áustria, Holanda e outros lugares. E como um professor itinerante fui pela América do Norte e Central, onde sofri perseguição como em alguns lugares como aqui na América do Sul, há muitas proibições e a intromissão das autoridades nas religiões e ordens, então fui morar no Brasil um tempo e depois fui para Israel, um bebê, recém renascido, tentar viver em Jerusalém e girar por aqueles lugares, ensinando e fazendo missões da ordem. Tudo isso é muito simbolicamente interessante. Porque depois a tentativa era expandir indo ao norte da Índia, Butão, Nepal, Tibet, China, Coreias (se fosse possível na Coreia do Norte) e então voltar ao Japão. E agora aqui estou de volta. Cidadão de muitas terras.

Então veja, eu tive que deixar as outras ordens para fazer isso, elas têm suas regras, seu funcionamento. Então somando tantas sabedorias eu só poderia estar nessa ordem porque eu não iria negar nada que fosse verdade em nome de alguma organização. Eu não podia negar os ensinamentos certos do budismo, que são verdadeiros, nem os da kabalah que são verdadeiros, nem os do zen, nem Jesus, nem Rosacruz, porque eu não poderia negar o que é verdadeiro. Então tive que largar outras ordens sectárias e tive que entrar nesta, até por proteção das perseguições. Minha família não era bem esperada no Japão de volta, vamos dizer, e eu não era bem esperado nesses países cheios de proibições religiosas como os países árabes e as ditadoras e os comunistas aos quais eu queria passar novamente e dar continuidade ao que comecei, então como já estava mais perto de casa voltei do Japão direto para os Estados Unidos. Quer dizer, estive no Hawai também, e toquei com eles e alguns conversei sobre o Dhyana e sobre a ordem e sobre Jesus Cristo... Eles me falavam de religiões ancestrais e eu falava disso... Foi assim.

Eu tinha que voltar para casa e cuidar dos meus pais, não podia mais ser um andarilho, nem um monge muito menos...

Então...

Mas no zen existem muitas coisas que não são muito zen, certas tradições e transmissões, bem como rituais e devoções, muita meditação sentado, longa. Não é como estão pensando. Há muita disciplina, muito rito, muita cerimônia, ao acordar, ao andar, a distância dos passos. Vocês podem está misturando o melhor de cada uma das três tradições mais faladas aqui. Por exemplo o soto e a Rinzai têm muita diferença e tem disciplinas que muitos não conhecem.

Algumas coisas foram acrescentadas depois. Que no chan não tinha. Coisas também no chan. Que no Dhyana não tinha. E eu como vocês queria a verdade logo, e ao contrário de vocês não achava bonito toda essa coisa cultural. Que é exótico para vocês, mas nós já estamos saturados, é feio, muito "enfeite", para pouco resultado. Muito ego, muito orgulho. Não digo da escola nem das escolas, mas as pessoas em todas as escolas, quero dizer. Contendo aquela ira, em sorriso, aquele orgulho em prostrações, entendem? Sim, sabem bem...




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