Hoje vou explicar aos senhores a compreensão daimoru, que chamo daimoru porque é a compreensão que eu adoto.
Antes devo dizer que uma compreensão não é uma escola, uma filosofia, nem uma religião. No japão existem várias compreensões dentro de uma mesma escola, parecido com os católicos que têm os agostinianos, os franciscanos e assim por diante, ou em uma denominação cristã existem pós-tribulacionistas e pre-tribulacionistas ou em escolas diferentes, assim como existem judeus hassidistas, ortodoxos, nazarenos, messiânicos e entre os messiânicos exitem os unitaristas e trinitaristas, por exemplo. Não é uma divisão drástica como os hindus impessoalistas e os personalistas. Uma compreensão é um ponto de vista. Que pode ser adotados por uma escola, ou muitas escolas, ou parte de uma escola ou pessoas de fora da escola ou fora do budismo. Explicado esse ponto, para que ninguém pense que fundei uma escola a partir desse ponto de vista... Vamos ao que interessa.
Daimoru é uma recuperação moderna do ponto de vista da escola dhyana antiga. Essa compreensão surgiu recentemente, mas talvez seja bem mais antiga, talvez até ela seja mais ortodoxa que a própria ortodoxia ou que se tem como ortodoxia. Ela diz sobre o ato de comer, de se alimentar de uma doutrina, de preencher os quadrantes da mente com uma doutrina. Ela passa primeiro pela boca onde precisa ser mastigada depois engolida, depois vai ao estômago onde é digerida e ao intestino onde é absorvida e o excesso é excluído através do anus. Ela trata o ensinamento como linguagem operacional e a linguagem como alimento da mente (o que Buda chamou de meios hábeis e de preenchimento dos quadrantes mentais).
Daimoru significa grande molar. É um detalhamento do primeiro momento da digestão na boca. Você pega um bocado, não dá para pegar tudo de uma vez certo? Você corta com os dentes da frente, depois você mastiga. E lá atrás existem grandes molares e muita força onde se tritura e mistura formando uma pasta que vai ser engolida. Então você pega outro bocado e a mesma coisa e assim por diante e adiante, vai se alimentando, compreendendo. Isto é essa compreensão.
O que vai ser feito pelo intestino é outro trabalho, digamos, é individual, particular. Nós oferecemos o prato cheio, e ensinamos a mastigar bem, isso que é importante nessa compreensão. Ou seja se a pessoa vai praticar profundamente, tomar aquilo como religião ou filosofia ou apenas intelectualmente, sobre isso não é da nossa conta porque nada podemos fazer, a decisão é dela. Mas quando ela está comendo nós dizemos "olhe como se mastiga" e aí vem o grande molar que deve pulverizar, triturar, misturar, gerar uma pasta. As outras horas da digestão nós não podemos ver certo? Então é nisso que podemos ajudar.
E o que significa essa visão, essa compreensão, essa abordagem? É uma abordagem. Significa que tomamos o dharma como dharma, isto é, como um ensinamento prático e ponto final, nós chamamos de terapêutica ou procedimento, mas aqui no ocidente tem sido chamado de psicologia budista e alguns livros dentro dessa abordagem ou mesmo muito fora dela levam um título parecido com isso. Não está incorreto, porque são várias psicologias diferentes. Porque é como a psicanálise. Existe Freud e vários continuadores que diferem dele, temos Jung, Reich, Winnicott, no Brasil existe a psicanálise integrativa que faz uso de várias correntes teóricas. É parecido com isso.
E o que é isso? Hoje aqui numa reunião onde só vemos homens é algo como se via no tempo de Buda na maioria dos casos, monges, todos homens, reunidos... E num momento Buda mudou isso. Buda foi adaptando seus procedimentos às situações conforme iam acontecendo. É isso. Nossa visão é que existem muitos budas, isto é muitos despertos, e entre esses muitos graus de despertamento, e eles deixaram ensinamentos, linhagens, tradições, até livros. Não estou dizendo que tudo isso é canônico, não estou falando de religião, definitivamente. Estou falando de uma realidade que aconteceu e continuou acontecendo. Então temos muitos procedimentos, e muitos budas, é muita coisa, muita informação, muitas práticas, muitos métodos. Nós precisamos saber qual é o alimento certo e além disso mastigar corretamente e digerir, porque muito dele ainda será inútil e terá que ser jogado fora. Se você simplesmente vem aqui e engole não é bom, será pouco o proveito.
Então nós separamos ao longo de milênios os componente mais nutritivos e indispensáveis desse alimento, precisa que haja um cozinheiro experiente que tenha aprendido de outro e assim por diante. Então oferecemos esse prato, que evoluiu ao longo dos séculos e de acordo com o que temos hoje, das comidas, das regiões, das limitações alimentares dos indivíduos, mas o mais importante é mastigar bem. Ou seja, fazer a nossa parte consciente da digestão, plenamente e corretamente para aproveitar ao máximo esse alimento. O importante é o que faz com isso. Então nós damos algo intensivo, intencional e consciente. Então a pessoa deve praticar. Porque é uma auto-psicanálise profunda, uma terapia que a pessoa é que deve administrar a si mesma.
Em que consiste isso? Em praticar a essência da terapia do Buda, dhyana, de instante a instante. No theravada se chama sati. Mas nós vamos além de sati que é atenção vigilante: nós vamos integrar sati a tudo, toda ação, todo pensamento, toda fala, toda percepção, etc.. Mas todos não já fazem isso? Eu devolvo a pergunta: fazem? Ou ainda, com que regularidade? Constante ou intermitentemente? Não serve. Esse é o treino, sati desse jeito serve de treino. Dhyana é a realização do que se propôs a treinar, estar desperto, acordado, percebendo a realidade como ela é. É difícil? E de instante a instante? Aí sim, agora pode dizer que é difícil. O resto e fácil. Ou você não acha fácil? Se você acha difícil atenção vigilante então isso aqui deve ser uma maratona para você. Por isso que o centro é o grande molar, mastigar e mastigar a essência do método. O grande molar esmaga, destrói, pulveriza os obstáculos. Consiste nisso.
E qual é a essência do método? Bom, há duas partes. Uma é esta, estar acordado. E para isso você tem que ter sido levado a acordar por alguns instante para saber como é, precisa ter despertado, visto o que é ilusão e o que é real, visto o que é bom e o que é mal. Então veja que isso é muito diferente daquele método de ficar se olhando como um buda, tentando agir como um buda, acreditando já ser um buda, é o oposto, é encarar a realidade feia, discernir a corrupção, é como a contemplação de cadáveres, é ver os animais em luta dentro de si mesmo e saber separa-se deles, é o contrário de se unir tudo, de dizer que tudo é luz e paz e amor.
Dhyana é estar separado, abandonar, largar, toda visão condicionada do mundo, todo prazer e desprazer, todo desejo de ganho e perda, Buda chama de abandonar, aqui chamam de desapegar (um termo impreciso), nós falamos de se separar de toda corrupção. Então no primeiro procedimento já são dua partes: primeiro abandonar a visão condicionada e segundo permanecer acordado na visão incondicionada. Sim é um intensivo senhores.
A outra parte é que para a pessoa receber isso, a única coisa que pode parecer com algo religioso é isso: para receber ela tem que tomar oito ou dez preceitos ou votos durante o aprendizado e depois os cinco ao sair do período de recebimento. Mas porque isso? Porque essa terapia tem uma parte moral, sem a qual não é completa e não sendo completa não dá certo é perda de tempo, não adianta. Então para a pessoa receber essa instrução ela precisa apenas ter um compromisso ético, com dana, sila e bhavana.
O que ´´e isso, o outro lado da terapia, tanto para aplicar em outros, se não não tem sentido, quem quiser a libertação e o bem apenas para si por favor vá embora nesse momento, não é bem vindo e está correndo risco aqui (pois o seu ego vai crescer um pouco mais com isso em vez de diminuir). Então são três coisas básicas que o primeiro buda ensinou, a moral, a generosidade e o despertar ou o processo para ele que vulgarmente se tem chamado ou adotado a meditação.
Quais são esses compromisso? Geralmente há uma lista, chamados de paramitas. Mas vamos ao básico para qualquer um começar hoje mesmo. Existe primeiro metta-karuna. Veja que estou usando a linguagem do cânone pali, isto é comum a todos, não adianta os theravadins, se aqui há algum quererem fugir de praticar paramis. Metta é amor incondicional, agape, é traduzido como amor benevolente porque é uma atitude e se torna ação, não é simplesmente um sentimento como costumam pensar no ocidente. E karuna é compaixão, mas é novamente uma atitude compassiva que se torna ação, diferente de pena, piedade, empatia, é bem mais além do que estas. Ok, então temos o terceiro ponto, generosidade, mas é uma generosidade de abrir mão, de colocar o outro primeiro, é uma generosidade desinteressada, inclusive de resultados, é traduzido normalmente como dar, mas é melhor dizer "se dar", "se doar". Porque dana é dar e se dar. Então temos esses três elementos do segundo ponto. Que é preciso concordar, é condicional. Para receber essa compreensão é preciso concordar com os termos.
Depois temos o compromisso de não matar, não roubar, não mentir, não ter relações sexuais indevidas nem se embriagar. São os cinco preceitos, que se vai treinado até levar ao máximo. Tem que concordar também. "Ah! gosto de beber, não acho que seja mal!", então tchau! É condicional, se você costuma se embriagar não deve vir aprender isso, não, muito mal. É discutível, pois existem exceções nessas regras, mas elas tem que ser aceitas e cumpridas, a exceção não pode se tornar a regra. Outras formas de budismo religioso ou budismo light estão muito em moda. Lixo. Budismo de salão. Melhor não se aproximar disso.
Então existe a maneira de ficar acordado, de dirigir a atenção, de ficar atento, vigilante de instante a instante e isso é todo um curso, isso é toda a terapia. O que você vai encontrar lá, o que vai ver e o que vai observar é tudo que deve ser tratado, e tudo isso descrito até aqui são apenas elementos auxiliares do tratamento, remédios. A terapia mesmo é feita consigo mesmo, a digestão e o mastigar, e com seu orientador, o ensinar, o ruminar e retroalimentar-se [feedback].
Então veja que definitivamente não religião nem uma filosofia, é uma terapia para os que se reconhecem doentes.
Muito criticado por outros que pensam diferente e dizem que não é budismo é apenas uma psicologia ocidental adaptada pelos japoneses ao budismo. Aí eu pego eles num salto. Buda disse que a essência do ensinamento é o caminho óctuplo, é o que vou falar agora, Buda diz que enquanto houver o caminho óctuplo há o dharma. No mahayana se atrela também os paramitas e se coloca até como mais importante que o caminho óctuplo, pois bem, veja que é bem mais um caminho moral do que um caminho religioso ou uma psicologia apenas. Mas assim ficou conhecido e é uma boa divulgação, psicologia budista, porque é uma psicologia, científica, criada por Buda, desenvolvida por vários budas e professores, que tem se comprovado eficaz há milênios. Enquanto religião não se comprova nada, claro, é matéria de fé, o Nirvana, os doze elos, os devas, mundos, kalpas, tudo isso é matéria de crença, ou cada um algum dia vai comprovar ou não, mas apenas a si mesmo. Mas a psicologia, a terapia se comprova eficaz. Então veja de que se trata, não de provas nem crença, mas de eficácia. Essa é a compreensão daimoru.
Que é a essência do ensinamento, comprovada em sua eficácia, constitui uma terapia universal, independente de religião e filosofia, que pode ser utilizada por qualquer pessoa através dos meios eficazes para chegar ao resultado satisfatório esperado a saber, visão clara, libertação dos sofrimentos e das limitações da visão condicionada de realidade, e a prática voluntária e prazerosa do bem, a evitação do mal, visto como coisa temida e vergonhosa, e a purificação da mente em paralelo com o desenvolvimento de virtudes apreciáveis.
Qualquer outra psicologia pode fazer uso desta para alcançar os mesmo fins, qualquer religião pode fazer uso desses procedimentos para que seus seguidores alcancem mais eficientemente estes fins, qualquer filosofia de vida pode se utilizar desses procedimentos desde que mantenha os compromissos éticos para que seus adeptos sejam pessoas melhores e mais benéficas. Essa é a compreensão daimoru. Que o dharma é uma terapia criada por uma pessoa e desenvolvida vivida e experimentada por várias outras que transmitiram a essência eficaz dessa terapia para o bem da humanidade e de todos os seres, para aguentarmos pelo menos esse período de vida nesse mundo conturbado, limitante onde estamos todos condenados à morte, velhice, doença e sofrimento e então superarmos o esquecimento e a inconsciência. Para a diminuição do sofrimento. como um presente, como medicos que dão remédios. Porque você não será cobrado, nem você receberá um certificado, uma formatura ou qualquer outro símbolo, mas um procedimento. Em resumo, em apresentação, está dito. Isto é a compreensão daimoru.
P. Eu ouvi dizer que daimoru é uma seita secreta do Japão ou uma escola esotérica, ou herética, isso procede?
R. Não. Daimoru é público, é muito praticado, é uma estética, é uma análise clínica no Japão, é uma psicoterapia, tanto pessoal como de aconselhamento, existe também a psicologia japonesa, que também tem um pé no budismo e a terapia morita [(japonesa também)] que é centrada na atenção consciente, e na observação das experiências internas ou mentais, ou seja, na atenção vigilante. São muitas variantes. O que acontece é que ninguém usa mais esse nome, daimoru, porque nem conhece, porque foi tomado por uma seita secreta, e agora está mais associado a ela, então ninguém quer usar esse nome, por não saber do que trata interiormente, se é uma heresias ou outra coisa. Outros relacionam aos remanescentes dos licchavis, um clã da antiga Índia, talvez mais proeminente onde é a região da Mongólia, de origem uralo-altaico, que espalhou pelo Tibet, e hoje está no norte de Bihar e de Terai, uma região do Nepal. O Mahaparinibbana Suttanta se refere a eles como os Kshatriyas, que reclamaram as relíquias do Buda. Como existem hoje escolas que adoram as relíquias, e como existem escolas chamadas de Budismo Primordial que consideram o uso de estátuas errado ou heresia, mas veneram ou adoram relíquias do Buda, o que é considerado por outros uma heresia... Enfim, há toda essa confusão, mas apenas confusão das pessoas, que pensam coisas sobres as outras ou deduzem sem realmente saberem, mas aposto que isso não acontece por aqui. [Riso generalizado]
P. Em que essa terapia participa em nossa ordem?
R. Uma pergunta de ordem técnica, muito bem. A atenção vigilante é uma das práticas fundamentais da ordem. O curso é para todos que querem aprofundar o estado de atenção, ou chegar, a samadi, a dhyana, ao satori... Isto é, um curso de aperfeiçoamento e aprofundamento nessa terapia. Não se chega a isso sem destruir os obstáculos. Serve para as pessoas praticarem por si mesmas num nível mais avançado até viverem acordados, alguns mesmo quando o corpo está dormindo, ou seja, está consciente de todas as suas experiências, de onde está, do que está acontecendo, do que está vivendo, do que está em sua mente. Por que? Para chegar ao significado, que é a proposta da escola, ler o librum naturae, compreender tudo como ensinamento. Então, nesse caso o curso é auxiliar para isso. Mas é, como sabem, obrigatório para os professores, pois precisam conhecer todas as técnicas e todas as ramificações para ensinar e para aplicar quando se faz necessário.
P. E como é que se faz isso, que se fica acordado ou em dhyana?
R. Isto é todo o curso de daimoru. Sati é facil, você aprende num instante, agora, mas dhyana é o fim de um processo. E não é bem assim... Ficar em dhyana o tempo inteiro já é um completamente desperto.
P. O senhor não poderia resumir o procedimento em passos?
R. Já fiz. Vou resumir mais ainda então. 1, acordar a atenção vigilante, consciente; 2, detectar e esmagar e digerir e destruir os obstáculos, abandonar todos, todo o tempo e 3, permanecer no estado acordado, generoso e claro gerado por essa ausência de obstáculos até que venha outro ou volte o mesmo e você repete o 2, o abandono. Mas há todo um aprendizado, método, muitos detalhes, muitos momentos, é um curso inteiro, longo.
P. Está parecendo a escola da limpeza do espelho, é isso?...
R. Essa escola é parecida porque também deriva da nossa antiga escola Dhyana, é em outros termos a mesma escola ou filosofia da consciência-apenas, antes da divisão da escola da não mente, todas são derivadas de Dhyana, o zen, rinzai, o chan, a soto...
P. E aquelas pessoas que vêem isso como algo religioso, ou vindo de uma religião ou que são de outras religiões?
R. Veja, não é algo religioso. Seria o mesmo que recusar a fazer psicanálise, quando se precisa, porque Freud era um leitor de Nietzsche que dizem que era ateu (mas não era, ouviu?), ou porque a pessoa era cristão e Freud era judeu (também não era...). Estou com péssimas comparações, mas vamos lá. Seria o mesmo que não tomar um remédio que se precisa porque se sabe que seu inventor era ateu ou contra sua religião. Seria o mesmo que sendo um religioso a pessoa tivesse medo de estudar Platão quando está fazendo um curso de filosofia, porque Platão tinha relações homossexuais. Existem entendimentos necessários dentro de uma ciência e o daimoru, ou a psicologia budista, como queiram (porque Buda não parece ter proposto uma ciência, nem uma filosofia, nem uma religião, nem uma psicologia, mas de todas essas "psicologia" é o que me soa mais próximo à proposta de Buda), é uma matéria necessária na ciência que estudamos.
P. O senhor pratica elementos de várias religiões, já se mostrou aqui cristão e taoista algumas vezes. Isso não aumenta o risco de chamarem a nossa ordem de sincretismo ou de religiosa?
R. O que? O fato de eu adotar essas disciplinas ou da ordem estudar a psicologia budista?
P. Fale sobre as duas coisa então, por favor.
R. Veja, eu discordo do ponto de vista religioso, do uso da palavra religião aqui. Todo cristão por exemplo, o que estuda teologia, sabe que Yeshua HaMashiach não teve intensão de ensinar religião, é uma questão de comunicação de Deus e de salvação, não de religiosidade, certo? Da mesma forma penso eu, Buda não teve intensão de ensinar uma nova religião ou religiosidade: existem essas disciplinas, entre elas algumas psicologias, minha parte aqui é essa psicologia, não outra, é minha matéria. A visão aqui é filosófico-científica, a ordem se declara científica no sentido de sua metodologia, se seu objeto de estudo passa pela religião isso não a torna sincretismo, seria o mesmo que dizer que a antropologia é uma religião sincrética ou um sincretismo, certo?. Isso é uma desorganização no pensamento, a pessoa que pensar assim não está organizando seu pensamento ou desconhece a ordem e quem desconhece pode pensar milhares de coisas erradas sobre. E o que podemos fazer?
Quanto ao fato de eu adotar posições cristãs, taoista e budistas isso é um critério que só cabe a mim, eu não preciso me definir para o mundo, o mundo não precisa de minha definição. Quem sou eu? Ninguém precisa, na verdade, isso é o ego tentando se segurar em alguma coisa, tentando se auto afirmar, não precisamos disso, pelo contrário, precisamos colocá-lo no seu devido lugar ou na inexistência, que é do mundo da ilusão. A ordem utiliza elementos judaico-cristãos, budistas, herméticos-kabalistas, taoistas e yogues, mas num âmbito de ciência, se a pessoa escolhe uma ou outra religião desse tipo é assunto dela suas escolhas, é um efeito colateral desse estudo, que na verdade não tem esse objetivo. É o mesmo que a ineficácia de um curso de filosofia para muitos: eles não aprendem a filosofar por si mesmos, mas sim aderem a visão de algum filósofo e param nisso. Eu uso as ferramentas que trouxe e que ainda me são úteis e as ferramentas que a ordem me deu. Porque é para isso que estudamos essas coisas, como ferramentas para objetivos. Não é que eu tenha me posicionado como sendo de uma religião ou de outra, tecnicamente falando, não estou aqui para isso, embora vocês, alguns, saibam qual minha posição. Não se pode confundir as coisas, misturar o pensamento e voltar ao velho "eu sou isso ou aquilo". Isto seria voltar ao reducionismo e a auto-identificação egocêntrica de novo. Nós estudamos ciência meu rapaz, por isso nos escondemos (também por isso), porque nossa ciência às vezes estuda a religião dos outros e descobre seus erros fatais, e não estamos aqui para destruir as religiões dos outros, mas para ajudá-los a verem a verdade, não se pode perder de vista esse objetivo.
P. Mas para ver a verdade não é preciso saber o que é mentira?
R. Isso não tem lógica. É um argumento falso. Muito usado eu compreendo. Ai o maligno vai semear mentiras uma depois da outra e você nunca verá a verdade distraído em desmascarar mentiras. Veja, se você demonstrar que algo é mentira não quer dizer que encontrou a verdade sobre aquilo, quer dizer apenas que aquela era uma mentira. Digamos, Deus, se você demonstrar que uma religião está mentindo sobre Deus e comprovar isso, você automaticamente descobre ou revela o que é na verdade Deus? Não. Então essa postura é errada.
E qual é a certa? Descobrir a verdade e demonstrar a verdade: Quando você comprova e demonstra a verdade sobre uma coisa a mentira sobre ela cai. Todas as mentiras caem automaticamente. Esse é o caminho. Não adianta sair criticando as religiões se você não consegue demonstrar a verdade, está apenas sendo um arrogante egoísta tão ignorante quanto os iludidos pela mentira, pois você também não sabe a verdade. É hipócrita. A razão de nossa ordem é a verdade, descobrir a verdade é o caminho. "Conhecei a verdade e a verdade vos libertará". Simples, prático, direto, no alvo.