“Quatro esforços. O esforço
de (a) contenção, (samvara-padhanam), (b) abandono, (pahana-padhanam),
(c) desenvolvimento, (bhavana-padhanam), (d) preservação, (anurakkharana-padhanam).
Qual é (a) o esforço de contenção? Aqui um bhikkhu ao ver uma forma com o olho,
ele não se agarra aos seus sinais ou detalhes. Visto que, se permanecer com a
faculdade do olho descuidada, ele será tomado pelos estados ruins e
prejudiciais de cobiça e tristeza. Ele pratica a contenção, ele protege a
faculdade do olho, ele se empenha na contenção da faculdade do olho (do mesmo
modo com os sons, aromas, sabores, tangíveis e objetos mentais). Qual é (b) o
esforço de abandono? Aqui um bhikkhu não aceita um pensamento de cobiça, de
raiva, de crueldade que tenha surgido, mas o abandona, dissipa, destrói, faz
com que desapareça. Qual é (c) o esforço de desenvolvimento? Aqui um bhikkhu
desenvolve o fator da iluminação da atenção plena, que tem como base o
afastamento, desapego e cessação que amadurece no abandono. Ele desenvolve o
fator da iluminação da investigação dos fenômenos ... Ele desenvolve o
fator da iluminação da energia ... Ele desenvolve o fator da iluminação do
êxtase ... Ele desenvolve o fator da iluminação da tranqüilidade ... Ele
desenvolve o fator da iluminação da concentração ... Ele desenvolve o
fator da iluminação da equanimidade, que tem como base o afastamento, desapego
e cessação que amadurece no abandono . Qual é (d) o esforço de preservação?
Aqui um bhikkhu mantém com firmeza na sua mente um objeto de concentração
favorável que tenha surgido, assim como um esqueleto, ou um cadáver cheio de
vermes, azulado, cheio de buracos, inchado." - Digha Nikaya 33, 10.
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terça-feira, 27 de dezembro de 2016
CITTA-KKHANA: ‘Momento-de-Consciência’
Do DICIONÁRIO BUDISTA de Nyanatiloka
Manual de Termos Budistas e Doutrinários
Manual de Termos Budistas e Doutrinários
Terceira edição revisada e ampliada editada por Nyanaponika
Tradução: Teresa Kerr e Revisão: Arthur Shaker
Tradução: Teresa Kerr e Revisão: Arthur Shaker
CITTA-KKHANA: ‘Momento-de-Consciência’, é o tempo ocupado por um
único
estágio no processo de percepção ou série cognitiva (cittavithi; v. viññana-kicca). Esse
momento por sua vez é subdividido em momento genético (uppada), estático (thiti) e
dissolvente (bhanga). Um momento desses é dito nos comentários ser de duração
imensamente curta e não durando mais do que uma bilionésima parte do tempo de um
flash de luz. Como quer que seja, nós sabemos por experiência que é possível dentro de
um simples segundo sonhar inumeráveis coisas e eventos. No A. I, 10 é dito: “Nada, Oh
monges, sei que muda tão ràpidamente como a consciência. Dificilmente alguma coisa
pode ser encontrada que pode ser comparada com esta mudança tão rápida da
consciência”. – (App.: khana).
estágio no processo de percepção ou série cognitiva (cittavithi; v. viññana-kicca). Esse
momento por sua vez é subdividido em momento genético (uppada), estático (thiti) e
dissolvente (bhanga). Um momento desses é dito nos comentários ser de duração
imensamente curta e não durando mais do que uma bilionésima parte do tempo de um
flash de luz. Como quer que seja, nós sabemos por experiência que é possível dentro de
um simples segundo sonhar inumeráveis coisas e eventos. No A. I, 10 é dito: “Nada, Oh
monges, sei que muda tão ràpidamente como a consciência. Dificilmente alguma coisa
pode ser encontrada que pode ser comparada com esta mudança tão rápida da
consciência”. – (App.: khana).
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
AKASA
Do DICIONÁRIO BUDISTA de Nyanatiloka
Manual de Termos Budistas e Doutrinários
Manual de Termos Budistas e Doutrinários
Terceira edição revisada e ampliada editada por Nyanaponika
Tradução: Teresa Kerr e Revisão: Arthur Shaker
Tradução: Teresa Kerr e Revisão: Arthur Shaker
AKASA: ‘Espaço’, de acordo com os Comentários
existe 2 tipos: 1. espaço limitado
(paricchinnakasa ou paricchedakasa), 2. espaço sem fim (anantakasa), i.e., espaço
cósmico.
1. Espaço Limitado, sob o nome de akasa-dhatu (elemento espaço), pertence à
Corporeidade Derivada (v. khandha, Sumário I; Dhs. 638) e à sextupla classificação dos
Elementos (v. dhatu; M. 112, 115, 140). É também um objeto da meditação de Kasina
(q.v.) – É definido como se segue: “O elemento espaço tem as características de
delimitação da matéria. Sua função é indicar as fronteiras da matéria. Manifesta-se
como os limites da matéria; ou sua manifestação consiste em ser intocado (pelos 4
grandes elementos), e nos buracos e aberturas. A causa aproxima é a matéria delimitada.
É por conta do elemento espaço que se pode dizer das coisas materiais delimitadas que
‘isto está acima, abaixo, ao redor, daquilo’. (Vis. XIV, 63)
2. Espaço sem fim é chamado em Asl. ajatakasa, ‘desembaraçado’, i.e., espaço sem
obstrução ou vazio. É o objeto da primeira Absorção Imaterial (v. jhana), a Esfera do
Espaço sem limite (akasanañcayatana). De acordo com a filosofia do Abhidhamma, o
Espaço sem Limite não tem realidade objetiva (sendo puramente conceitual), o qual está
indicado pelo fato que não está incluído na Tétrade do Saudável (kusala-tika) o qual
compreende a realidade inteira. As escolas budistas posteriores o consideram como um
dos diversos Estados Incondicionados ou Não criados (asankhata dharma), - uma visão
que é rejeitada no Kv. (v. Guia p. 70). O budismo Theravada reconhece somente o
Nibbana como o Elemento Incondicionado (asankhata-dhatu; v. Dhs. 1084).
(paricchinnakasa ou paricchedakasa), 2. espaço sem fim (anantakasa), i.e., espaço
cósmico.
1. Espaço Limitado, sob o nome de akasa-dhatu (elemento espaço), pertence à
Corporeidade Derivada (v. khandha, Sumário I; Dhs. 638) e à sextupla classificação dos
Elementos (v. dhatu; M. 112, 115, 140). É também um objeto da meditação de Kasina
(q.v.) – É definido como se segue: “O elemento espaço tem as características de
delimitação da matéria. Sua função é indicar as fronteiras da matéria. Manifesta-se
como os limites da matéria; ou sua manifestação consiste em ser intocado (pelos 4
grandes elementos), e nos buracos e aberturas. A causa aproxima é a matéria delimitada.
É por conta do elemento espaço que se pode dizer das coisas materiais delimitadas que
‘isto está acima, abaixo, ao redor, daquilo’. (Vis. XIV, 63)
2. Espaço sem fim é chamado em Asl. ajatakasa, ‘desembaraçado’, i.e., espaço sem
obstrução ou vazio. É o objeto da primeira Absorção Imaterial (v. jhana), a Esfera do
Espaço sem limite (akasanañcayatana). De acordo com a filosofia do Abhidhamma, o
Espaço sem Limite não tem realidade objetiva (sendo puramente conceitual), o qual está
indicado pelo fato que não está incluído na Tétrade do Saudável (kusala-tika) o qual
compreende a realidade inteira. As escolas budistas posteriores o consideram como um
dos diversos Estados Incondicionados ou Não criados (asankhata dharma), - uma visão
que é rejeitada no Kv. (v. Guia p. 70). O budismo Theravada reconhece somente o
Nibbana como o Elemento Incondicionado (asankhata-dhatu; v. Dhs. 1084).
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
ANAPANA-SATI
Do DICIONÁRIO BUDISTA de Nyanatiloka
Manual de Termos Budistas e Doutrinários
Manual de Termos Budistas e Doutrinários
Terceira edição revisada e ampliada editada por Nyanaponika
Tradução: Teresa Kerr e Revisão: Arthur Shaker
Tradução: Teresa Kerr e Revisão: Arthur Shaker
Muitas pessoas querem saber como é a prática
profunda, completa e correta da meditação budista e em que ela é tão diferente
das outras, na prática e em seus resultados. Eu digo que existe uma forma entre
as várias ensinadas pelo Buda que é bastante profunda e mesmo assim pode ser
aos poucos assimilada por qualquer iniciante, desde que a estude e pratique
diariamente, tendo como resultado o Nirvana.
Por favor, aprenda a meditar através das
palavras do próprio Buda. Nesse verbete Nyanatiloka organizou de forma bastante
completa e didática toda esta instrução como foi dado pelo próprio Buda.
Em seguida, como se fosse um apêndice
auxiliar, coloquei os conceitos básicos usados nesse ensinamento, extraídos do mesmo
dicionário. Para mais detalhes e demais termos você pode adquirir o dicionário
ou mesmo baixá-lo gratuitamente na internet.- Kalyanadhamma
ANAPANA-SATI: ‘Plena atenção na Inspiração e
Expiração’, é um dos exercícios mais
importantes para atingir a concentração mental e as 4 absorções (jhana, q.v.).
No Satipatthana Sutta (M. 10, D. 22) e em outros lugares, 4 métodos de prática são
dados, os quais podem também servir como base para a meditação do insight. O
“Discurso da Plena Atenção na Respiração” (Anapanasati Sutta, M. 118) e outros
textos, tem 16 métodos de prática, os quais são divididos em 4 grupos de 4. Os primeiros três se aplicam tanto à tranquilidade (samatha, q.v.) quanto para a meditação
do insight, enquanto o quarto se refere à prática do puro insight apenas. O segundo e o
terceiro grupo requerem o atingimento das Absorções.
“Com a mente atenta ele inspira, com a mente atenta ele expira”.
I. (1) “Quando fazendo uma longa inspiração ele sabe: “Eu faço uma longa inspiração”;
quando fazendo uma longa expiração ele sabe: “Eu faço uma longa expiração”.
(2) “Quando fazendo uma curta inspiração ele sabe: “Eu faço uma curta inspiração”;
quando fazendo uma curta expiração ele sabe: “Eu faço uma curta expiração”.
(3) “Claramente percebendo o corpo inteiro (da respiração) eu inspiro”, assim ele
treina a si mesmo; “claramente percebendo o corpo inteiro (da respiração) eu expiro”,
assim ele se treina.
(4) “Acalmando essa função corporal eu inspiro”, assim ele se treina; “acalmando essa
função corporal eu expiro”, assim ele se treina.
II. (5) “Sentindo êxtase (piti) eu inspiro”, assim ele se treina; “sentindo êxtase eu
expiro”, assim ele se treina.
(6) “Sentindo alegria eu inspiro”, assim ele se treina; “sentindo alegria eu expiro”,
assim ele se treina.
(7) “Sentindo a formação mental (citta-sankhara) eu inspiro”, assim, ele se treina;
“sentindo a formação mental eu expiro assim”, ele se treina.
(8) “Acalmando a formação mental eu inspiro”, assim ele se treina; “acalmando a
formação mental eu expiro”, assim ele se treina.
III. (9) “Claramente percebendo a mente (citta) eu inspiro”, assim ele se trein;
“claramente percebendo a mente eu expiro”, assim ele se treina.
(10) “Alegrando a mente eu inspiro”, assim ele se treina; “alegrando a mente eu
expiro”, assim ele se treina.
(11) “Concentrando a mente eu inspiro”, assim ele treina a mente; “concentrando a
mente eu expiro, assim ele se treina.
(12) “Libertando a mente eu inspiro”, assim ele se treina; “libertando a mente eu
expiro”, assim ele se treina.
IV. (13) “Refletindo sobre a impermanência (anicca) eu inspiro”; assim ele se treina;
“refletindo sobre a impermanência eu expiro”, assim ele se treina.
(14) “Refletindo sobre o desapego (viraga) eu inspiro”, assim ele se treina;
“refletindo sobre o desapego ele expira”, assim ele se treina.
(15) “Refletindo sobre a extinção (nirodha) eu inspiro”, assim ele se treina;
“refletindo sobre a extinção eu expiro”, assim ele se treina.
(16) “Refletindo sobre o abandono (patinissagga) eu inspiro”, assim ele se treina;
“refletindo sobre o abandono eu expiro”, assim ele se treina.
No M. 118 é mostrado como esses 16 exercícios levam às 4 Fundações da Plena
Atenção (satipatthana, q.v.), a saber: 1-4 contemplação do corpo, 5-8 contemplação das
sensações, 9-12 contemplação da mente (consciência), 13-16 contemplação dos objetos
mentais. Então é mostrado como esses 4 Fundamentos da Plena Atenção conduzem aos
7 fatores da iluminação (bojjhanga, q.v.); então estes levam à libertação da mente (cetovimutti, q.v.) e à libertação através da sabedoria (pañña-vimutti, q.v.)
Literatura: Anapanasati Samyutta (V. LIV) – Pts. Anapanakatha – Completa explicação da prática no Vis. VIII, 145
ff. – Para a antologia compreensiva dos textos canônica e comentários, ver Mindfulness of Breathing, Nanamoli
Thera (Kandy 1964, B.P.S.).
importantes para atingir a concentração mental e as 4 absorções (jhana, q.v.).
No Satipatthana Sutta (M. 10, D. 22) e em outros lugares, 4 métodos de prática são
dados, os quais podem também servir como base para a meditação do insight. O
“Discurso da Plena Atenção na Respiração” (Anapanasati Sutta, M. 118) e outros
textos, tem 16 métodos de prática, os quais são divididos em 4 grupos de 4. Os primeiros três se aplicam tanto à tranquilidade (samatha, q.v.) quanto para a meditação
do insight, enquanto o quarto se refere à prática do puro insight apenas. O segundo e o
terceiro grupo requerem o atingimento das Absorções.
“Com a mente atenta ele inspira, com a mente atenta ele expira”.
I. (1) “Quando fazendo uma longa inspiração ele sabe: “Eu faço uma longa inspiração”;
quando fazendo uma longa expiração ele sabe: “Eu faço uma longa expiração”.
(2) “Quando fazendo uma curta inspiração ele sabe: “Eu faço uma curta inspiração”;
quando fazendo uma curta expiração ele sabe: “Eu faço uma curta expiração”.
(3) “Claramente percebendo o corpo inteiro (da respiração) eu inspiro”, assim ele
treina a si mesmo; “claramente percebendo o corpo inteiro (da respiração) eu expiro”,
assim ele se treina.
(4) “Acalmando essa função corporal eu inspiro”, assim ele se treina; “acalmando essa
função corporal eu expiro”, assim ele se treina.
II. (5) “Sentindo êxtase (piti) eu inspiro”, assim ele se treina; “sentindo êxtase eu
expiro”, assim ele se treina.
(6) “Sentindo alegria eu inspiro”, assim ele se treina; “sentindo alegria eu expiro”,
assim ele se treina.
(7) “Sentindo a formação mental (citta-sankhara) eu inspiro”, assim, ele se treina;
“sentindo a formação mental eu expiro assim”, ele se treina.
(8) “Acalmando a formação mental eu inspiro”, assim ele se treina; “acalmando a
formação mental eu expiro”, assim ele se treina.
III. (9) “Claramente percebendo a mente (citta) eu inspiro”, assim ele se trein;
“claramente percebendo a mente eu expiro”, assim ele se treina.
(10) “Alegrando a mente eu inspiro”, assim ele se treina; “alegrando a mente eu
expiro”, assim ele se treina.
(11) “Concentrando a mente eu inspiro”, assim ele treina a mente; “concentrando a
mente eu expiro, assim ele se treina.
(12) “Libertando a mente eu inspiro”, assim ele se treina; “libertando a mente eu
expiro”, assim ele se treina.
IV. (13) “Refletindo sobre a impermanência (anicca) eu inspiro”; assim ele se treina;
“refletindo sobre a impermanência eu expiro”, assim ele se treina.
(14) “Refletindo sobre o desapego (viraga) eu inspiro”, assim ele se treina;
“refletindo sobre o desapego ele expira”, assim ele se treina.
(15) “Refletindo sobre a extinção (nirodha) eu inspiro”, assim ele se treina;
“refletindo sobre a extinção eu expiro”, assim ele se treina.
(16) “Refletindo sobre o abandono (patinissagga) eu inspiro”, assim ele se treina;
“refletindo sobre o abandono eu expiro”, assim ele se treina.
No M. 118 é mostrado como esses 16 exercícios levam às 4 Fundações da Plena
Atenção (satipatthana, q.v.), a saber: 1-4 contemplação do corpo, 5-8 contemplação das
sensações, 9-12 contemplação da mente (consciência), 13-16 contemplação dos objetos
mentais. Então é mostrado como esses 4 Fundamentos da Plena Atenção conduzem aos
7 fatores da iluminação (bojjhanga, q.v.); então estes levam à libertação da mente (cetovimutti, q.v.) e à libertação através da sabedoria (pañña-vimutti, q.v.)
Literatura: Anapanasati Samyutta (V. LIV) – Pts. Anapanakatha – Completa explicação da prática no Vis. VIII, 145
ff. – Para a antologia compreensiva dos textos canônica e comentários, ver Mindfulness of Breathing, Nanamoli
Thera (Kandy 1964, B.P.S.).
PITI: ‘Êxtase’, entusiasmo, (traduzido também como deleite,
felicidade); interesse. É
um dos fatores mentais ou concomitantes (cetasika) e pertence ao Grupo das Formações
Mentais (sankhara-kkhandha). Como, nos textos dos Suttas, está frequentemente ligado
a uma palavra composta, com ‘alegria’ (pamojja) ou ‘felicidade’ (sukha), alguns
tradutores ocidentais têm erroneamente tomado essa palavra como sinônimo desses 2
termos. Piti, entretanto, não é uma sensação ou um sentimento, e, portanto, não pertence
ao Grupo das Sensações (vedana-kkhandha), mas pode ser descrito psicològicamente
como ‘interesse jubiloso’. Como tal pode estar associado com os estados de consciência
saudáveis, assim como os estados não-saudáveis ou neutros.
Um elevado nível de Êxtase é característico de certos estágios na meditação de
concentração, na prática de Insight (vipassana), bem como nas primeiras duas
Absorções (jhana, q.v.) No último aparece como um dos Fatores de Absorção
(jhananga; v. jhana), e é mais forte na segunda Absorção. Cinco níveis de intensidade
na meditação do Êxtase são descritos no Vis. IV, 94ff – É um dos Fatores de Iluminação
(bojjhanga, q.v.).
um dos fatores mentais ou concomitantes (cetasika) e pertence ao Grupo das Formações
Mentais (sankhara-kkhandha). Como, nos textos dos Suttas, está frequentemente ligado
a uma palavra composta, com ‘alegria’ (pamojja) ou ‘felicidade’ (sukha), alguns
tradutores ocidentais têm erroneamente tomado essa palavra como sinônimo desses 2
termos. Piti, entretanto, não é uma sensação ou um sentimento, e, portanto, não pertence
ao Grupo das Sensações (vedana-kkhandha), mas pode ser descrito psicològicamente
como ‘interesse jubiloso’. Como tal pode estar associado com os estados de consciência
saudáveis, assim como os estados não-saudáveis ou neutros.
Um elevado nível de Êxtase é característico de certos estágios na meditação de
concentração, na prática de Insight (vipassana), bem como nas primeiras duas
Absorções (jhana, q.v.) No último aparece como um dos Fatores de Absorção
(jhananga; v. jhana), e é mais forte na segunda Absorção. Cinco níveis de intensidade
na meditação do Êxtase são descritos no Vis. IV, 94ff – É um dos Fatores de Iluminação
(bojjhanga, q.v.).
CITTA: ‘Mente’, ‘Consciência’, ‘Estado de Consciência’, é um
sinônimo de mano
(q.v.) e viññana (v. khandha e Tab. I) – Dhs. divide todos os fenômenos em consciência
(citta), concomitantes mentais (cetasika, q.v.) e corporeidade (rupa).
Em adhicitta, ‘Mentalidade Elevada’, significa a mente concentrada, apaziguada, e um
dos 3 Treinamentos (v. sikkha). A concentração (ou intensificação) da consciência é um
dos 4 Caminhos para o Poder. (v. iddhipada).
(q.v.) e viññana (v. khandha e Tab. I) – Dhs. divide todos os fenômenos em consciência
(citta), concomitantes mentais (cetasika, q.v.) e corporeidade (rupa).
Em adhicitta, ‘Mentalidade Elevada’, significa a mente concentrada, apaziguada, e um
dos 3 Treinamentos (v. sikkha). A concentração (ou intensificação) da consciência é um
dos 4 Caminhos para o Poder. (v. iddhipada).
SANKHARA: Esse termo tem, de acordo com seu contexto, diferentes
formas de
significação, as quais devem ser distinguidas cuidadosamente.
(I) No seu mais frequente uso (v. a seguir 1-4) o termo geral ‘Formação’ pode ser
aplicado, com as qualificações requeridas pelo contexto. Esse termo pode se referir
tanto ao ato de ‘formar’ ou ao estado passivo de ‘tendo sido formado’ ou a ambos.
1. Como segundo elo da fórmula da ‘Originação Dependente’ (paticca-samuppada,
q.v.), sankhara tem o aspecto ativo ‘formando’ e significa Karma (q.v.), i.e., atividades
volitivas saudáveis e não-saudáveis do corpo (kaya-s.), fala (vaci-s.) ou mente (citta-ou
mano-s.). Essa definição ocorre, por ex., no S. XII, 2, 27. Para s. nesse sentido, a
palavra ‘Formação-Kármica’ tem sido cunhada pelo autor. Em outras passagens, no
mesmo contexto, s. é definido em referência a (a) Formações-Kármicas meritórias
(puññ’abhisankhara), (b) demeritórios K. (apuññ’abhisankhara), (c) Imperturbáveis K.
(aneñj’abhisankhara), por ex. no S. XII, 51; D. 33. Essa tripla divisão cobre a atividade
kármica em todas as esferas da existência: as Formações Kármicas meritórias estendidas
à Esfera Sensual e à Matéria Sutil, as demeritórias somente à Esfera Sensual e a
‘imperturbável’ somente à Esfera do Imaterial.
2. Os acima mencionados 3 termos, kaya-, vaci- e citta (ou mano)-s., são algumas vezes
usados num sentido um pouco diferente, a saber, como (1) função corporal, i.e.,
inspiração e expiração (por ex., M. 10), (2) função verbal, i.e., pensamento conceitual e
pensamento discursivo, (3) função mental, i.e., sensação, percepção, etc. (por ex. M.
118). Ver nirodha-samapatti.
3. Também denota o Quarto Grupo da Existência (sankhara-kkhandha), e inclue todas
as ‘Formações Mentais’, seja que pertençam à consciência ‘karmicamente formada’ ou
não. Ver khandha, Tab. II, e S. XXII, 56, 79.
4. Ocorre mais além no sentido de qualquer coisa formada (sankhata, q.v.) e
condicionada, e inclue todas as coisas que existem no mundo, todos os fenômenos da
existência. Esse significado se aplica, por ex., à bem conhecida passagem “Todas as
formações são impermanentes. . . sujeitas ao sofrimento” (sabbe sankhara anicca. . .
dukkha). Nesse contexto, entretanto, s. está subordinado ao termo amplo e que a tudo
abarca, dhamma (coisa); pois dhamma inclue também o Elemento Incondicionado ou
Não-formado (asankhata-dhatu), i.e., Nibbana (por ex., em sabbe dhamma anatta,
“todas as coisas são sem um self”).
(II) Sankhara significa também algumas vezes ‘esforço volitivo’, por ex., na fórmula
dos Caminhos para o Poder (iddhi-pada, q.v.); no sasankhara-, e asankharaparinibbayi (v. anagami, q.v.); e nos têrmos do Abhidhamma, asankharika- (q.v.) e
sasankharika-citta, i.e., sem esforço = espontaneamente, e com esforço = induzido.
Na literatura ocidental, na inglesa bem como na alemã, sankhara é às vezes mal
traduzido como ‘tendências subconscientes’ ou similarmente (por ex., Prof Beckh:
‘unterbewusste Bildekraefte’, i.e., forças formativas subconscientes). Essa má
interpretação deriva talvez do uso similar na literatura sânscrita não-budista, e é
inteiramente inaplicável à conotação do termo no Budismo Páli, como listada acima sob
I, 1-4. Por exemplo, dentro da Originação Dependente, s. não é nem subconsciente nem
uma mera tendência, mas é uma volição kármica completamente ativa e consciente. No
contexto dos 5 Grupos da Existência (v. acima I, 3), alguns poucos dos fatores do Grupo
das Formações Mentais (sankhara-kkhandha) estão também presentes como
concomitantes da subconsciência (v. Tab. I-III), mas certamente não são restritos a ela,
nem são meras tendências.
significação, as quais devem ser distinguidas cuidadosamente.
(I) No seu mais frequente uso (v. a seguir 1-4) o termo geral ‘Formação’ pode ser
aplicado, com as qualificações requeridas pelo contexto. Esse termo pode se referir
tanto ao ato de ‘formar’ ou ao estado passivo de ‘tendo sido formado’ ou a ambos.
1. Como segundo elo da fórmula da ‘Originação Dependente’ (paticca-samuppada,
q.v.), sankhara tem o aspecto ativo ‘formando’ e significa Karma (q.v.), i.e., atividades
volitivas saudáveis e não-saudáveis do corpo (kaya-s.), fala (vaci-s.) ou mente (citta-ou
mano-s.). Essa definição ocorre, por ex., no S. XII, 2, 27. Para s. nesse sentido, a
palavra ‘Formação-Kármica’ tem sido cunhada pelo autor. Em outras passagens, no
mesmo contexto, s. é definido em referência a (a) Formações-Kármicas meritórias
(puññ’abhisankhara), (b) demeritórios K. (apuññ’abhisankhara), (c) Imperturbáveis K.
(aneñj’abhisankhara), por ex. no S. XII, 51; D. 33. Essa tripla divisão cobre a atividade
kármica em todas as esferas da existência: as Formações Kármicas meritórias estendidas
à Esfera Sensual e à Matéria Sutil, as demeritórias somente à Esfera Sensual e a
‘imperturbável’ somente à Esfera do Imaterial.
2. Os acima mencionados 3 termos, kaya-, vaci- e citta (ou mano)-s., são algumas vezes
usados num sentido um pouco diferente, a saber, como (1) função corporal, i.e.,
inspiração e expiração (por ex., M. 10), (2) função verbal, i.e., pensamento conceitual e
pensamento discursivo, (3) função mental, i.e., sensação, percepção, etc. (por ex. M.
118). Ver nirodha-samapatti.
3. Também denota o Quarto Grupo da Existência (sankhara-kkhandha), e inclue todas
as ‘Formações Mentais’, seja que pertençam à consciência ‘karmicamente formada’ ou
não. Ver khandha, Tab. II, e S. XXII, 56, 79.
4. Ocorre mais além no sentido de qualquer coisa formada (sankhata, q.v.) e
condicionada, e inclue todas as coisas que existem no mundo, todos os fenômenos da
existência. Esse significado se aplica, por ex., à bem conhecida passagem “Todas as
formações são impermanentes. . . sujeitas ao sofrimento” (sabbe sankhara anicca. . .
dukkha). Nesse contexto, entretanto, s. está subordinado ao termo amplo e que a tudo
abarca, dhamma (coisa); pois dhamma inclue também o Elemento Incondicionado ou
Não-formado (asankhata-dhatu), i.e., Nibbana (por ex., em sabbe dhamma anatta,
“todas as coisas são sem um self”).
(II) Sankhara significa também algumas vezes ‘esforço volitivo’, por ex., na fórmula
dos Caminhos para o Poder (iddhi-pada, q.v.); no sasankhara-, e asankharaparinibbayi (v. anagami, q.v.); e nos têrmos do Abhidhamma, asankharika- (q.v.) e
sasankharika-citta, i.e., sem esforço = espontaneamente, e com esforço = induzido.
Na literatura ocidental, na inglesa bem como na alemã, sankhara é às vezes mal
traduzido como ‘tendências subconscientes’ ou similarmente (por ex., Prof Beckh:
‘unterbewusste Bildekraefte’, i.e., forças formativas subconscientes). Essa má
interpretação deriva talvez do uso similar na literatura sânscrita não-budista, e é
inteiramente inaplicável à conotação do termo no Budismo Páli, como listada acima sob
I, 1-4. Por exemplo, dentro da Originação Dependente, s. não é nem subconsciente nem
uma mera tendência, mas é uma volição kármica completamente ativa e consciente. No
contexto dos 5 Grupos da Existência (v. acima I, 3), alguns poucos dos fatores do Grupo
das Formações Mentais (sankhara-kkhandha) estão também presentes como
concomitantes da subconsciência (v. Tab. I-III), mas certamente não são restritos a ela,
nem são meras tendências.
ANICCA: ‘Impermanência’ (ou como nome abstrato, aniccata,
‘impermanência’) é a
primeira das três Características da existência (tilakkhana, q.v.) É do fato da
impermanência que, na maioria dos textos, as outras duas Características, sofrimento
(dukkha) e não-self (anatta), são derivados (S. XXII, 15; Ud. IV, 1).
“Impermanência das coisas é o surgimento, o desaparecimento e mudança das coisas, ou
o desaparecimento das coisas que vieram a aparecer. O significado é que essas coisas
nunca persistem da mesma forma, mas que elas estão desaparecendo e se dissolvendo
momento a momento”. (Vis. VII, 3).
A impermanência é o aspecto encontrado em todos os fenômenos, seja material ou
mental, grosseiro ou sutil, interno ou externo: “Todas as formações são impermanentes”
(sabbe sankhara anicca; M. 35, Dhp. 277). Que a totalidade da existência é
impermanente é algo frequentemente apontado em termos dos 5 Agregados (khandha,
q.v.), as 12 Bases Sensoriais pessoais e externas (ayatana, q.v.), etc. Somente o Nibbana
(q.v.) o qual é incondicionado e não uma formação (asankhata), é permanente (nicca,
dhuva).
O insight que leva ao primeiro estágio da libertação, Entrante-na-Corrente (sotapatti, v.
ariya-puggala), é frequentemente expresso em termos de impermanência: “O que quer
que seja sujeito da originação, está sujeito à cessação” (v. Dhammacakkappavattana
Sutta, S. XLVI, 11). Em sua última exortação, antes do Parinibbana, o Buddha lembra
seus monges da impermanência da existência como um estímulo para o esforço
determinado: “Atenção agora, bhikkhus, eu os exorto: Formações estão sujeitas ao
desaparecimento. Empenhem-se determinadamente!” (vayadhamma sankhara,
appamadena sampadetha; D 16).
Sem o insight profundo na impermanência e na insubstancialidade de todos os
fenômenos da existência, não há o atingimento da libertação. Por isso, a compreensão
da impermanência obtida pela experiência meditativa direta, encabeça duas listas de
Conhecimentos do Insight: (a) Contemplação da Impermanência (aniccanupassana) é o
primeiro dos 18 principais tipos de Insight (q.v.), (b) a Contemplação do Surgimento e
do Desaparecimento (udayabbayanupassana-ñaña) é o primeiro dos 9 tipos de
conhecimento os quais levam a “Purificação pelo Conhecimento e Visão do Progresso
do Caminho” (v. visuddhi VI). – Contemplação da Impermanência leva à Libertação
Incondicionada (animitta-vimokkha; v. vimokkha). Aqui colocada como excelente a
faculdade da confiança (saddhindriya), aquele que atinge dessa forma o Caminho de
Entrante-na-Corrente, é chamado de Devoto- da-Fé (saddhanusari; v. ariyapuggala) e
nos sétimos estágios superiores ele é chamado de Liberado-pela-Fé (saddha-vimutta). –
Veja também anicca-sañña.
primeira das três Características da existência (tilakkhana, q.v.) É do fato da
impermanência que, na maioria dos textos, as outras duas Características, sofrimento
(dukkha) e não-self (anatta), são derivados (S. XXII, 15; Ud. IV, 1).
“Impermanência das coisas é o surgimento, o desaparecimento e mudança das coisas, ou
o desaparecimento das coisas que vieram a aparecer. O significado é que essas coisas
nunca persistem da mesma forma, mas que elas estão desaparecendo e se dissolvendo
momento a momento”. (Vis. VII, 3).
A impermanência é o aspecto encontrado em todos os fenômenos, seja material ou
mental, grosseiro ou sutil, interno ou externo: “Todas as formações são impermanentes”
(sabbe sankhara anicca; M. 35, Dhp. 277). Que a totalidade da existência é
impermanente é algo frequentemente apontado em termos dos 5 Agregados (khandha,
q.v.), as 12 Bases Sensoriais pessoais e externas (ayatana, q.v.), etc. Somente o Nibbana
(q.v.) o qual é incondicionado e não uma formação (asankhata), é permanente (nicca,
dhuva).
O insight que leva ao primeiro estágio da libertação, Entrante-na-Corrente (sotapatti, v.
ariya-puggala), é frequentemente expresso em termos de impermanência: “O que quer
que seja sujeito da originação, está sujeito à cessação” (v. Dhammacakkappavattana
Sutta, S. XLVI, 11). Em sua última exortação, antes do Parinibbana, o Buddha lembra
seus monges da impermanência da existência como um estímulo para o esforço
determinado: “Atenção agora, bhikkhus, eu os exorto: Formações estão sujeitas ao
desaparecimento. Empenhem-se determinadamente!” (vayadhamma sankhara,
appamadena sampadetha; D 16).
Sem o insight profundo na impermanência e na insubstancialidade de todos os
fenômenos da existência, não há o atingimento da libertação. Por isso, a compreensão
da impermanência obtida pela experiência meditativa direta, encabeça duas listas de
Conhecimentos do Insight: (a) Contemplação da Impermanência (aniccanupassana) é o
primeiro dos 18 principais tipos de Insight (q.v.), (b) a Contemplação do Surgimento e
do Desaparecimento (udayabbayanupassana-ñaña) é o primeiro dos 9 tipos de
conhecimento os quais levam a “Purificação pelo Conhecimento e Visão do Progresso
do Caminho” (v. visuddhi VI). – Contemplação da Impermanência leva à Libertação
Incondicionada (animitta-vimokkha; v. vimokkha). Aqui colocada como excelente a
faculdade da confiança (saddhindriya), aquele que atinge dessa forma o Caminho de
Entrante-na-Corrente, é chamado de Devoto- da-Fé (saddhanusari; v. ariyapuggala) e
nos sétimos estágios superiores ele é chamado de Liberado-pela-Fé (saddha-vimutta). –
Veja também anicca-sañña.
VIRAGA, ‘Desaparecendo’, desapego, ausência de desejo sensual,
desapaixonamento.
Aparece frequentemente junto com nirodha, ‘cessação’ (1) como um nome para
Nibbana, (2) nas contemplações (a) formando a quarta tétrada nos exercícios da Plena
Atenção na Respiração (v. anapanasati 14), (b) dos 18 Principais Insights (No. 5); v.
vipassana.
De acordo com os Com., pode significar (1) destruição momentânea do fenômeno, ou
(2) o absoluto ‘desaparecimento’, i.e., Nibbana. Nas acima mencionadas 2
contemplações, significa a compreensão de ambas, e o Caminho atingido por tal
compreensão.
Aparece frequentemente junto com nirodha, ‘cessação’ (1) como um nome para
Nibbana, (2) nas contemplações (a) formando a quarta tétrada nos exercícios da Plena
Atenção na Respiração (v. anapanasati 14), (b) dos 18 Principais Insights (No. 5); v.
vipassana.
De acordo com os Com., pode significar (1) destruição momentânea do fenômeno, ou
(2) o absoluto ‘desaparecimento’, i.e., Nibbana. Nas acima mencionadas 2
contemplações, significa a compreensão de ambas, e o Caminho atingido por tal
compreensão.
VIRAGA, ‘Desaparecendo’, desapego, ausência de desejo sensual,
desapaixonamento.
Aparece frequentemente junto com nirodha, ‘cessação’ (1) como um nome para
Nibbana, (2) nas contemplações (a) formando a quarta tétrada nos exercícios da Plena
Atenção na Respiração (v. anapanasati 14), (b) dos 18 Principais Insights (No. 5); v.
vipassana.
De acordo com os Com., pode significar (1) destruição momentânea do fenômeno, ou
(2) o absoluto ‘desaparecimento’, i.e., Nibbana. Nas acima mencionadas 2
contemplações, significa a compreensão de ambas, e o Caminho atingido por tal
compreensão.
Aparece frequentemente junto com nirodha, ‘cessação’ (1) como um nome para
Nibbana, (2) nas contemplações (a) formando a quarta tétrada nos exercícios da Plena
Atenção na Respiração (v. anapanasati 14), (b) dos 18 Principais Insights (No. 5); v.
vipassana.
De acordo com os Com., pode significar (1) destruição momentânea do fenômeno, ou
(2) o absoluto ‘desaparecimento’, i.e., Nibbana. Nas acima mencionadas 2
contemplações, significa a compreensão de ambas, e o Caminho atingido por tal
compreensão.
ANUPUBBA-NIRODHA: As 9 ‘Extinções Sucessivas’, são as 8 extinções
alcançadas através das 8 absorções (jhanas, q.v.) e a ‘extinção” da sensação e percepção’ (v.
nirodha-samapatti), como é dito no A. IX. 31 e D. 33: “Para o que entrou na primeira absorção, as Percepções Sensoriais (kama-sañña) se extinguiram. Tendo entrado na segunda absorção, o Pensamento Conceitual e Pensamento Discursivo (vitakka-vicara, q.v.) se extinguiram. Tendo entrado na terceira absorção, o Êxtase (piti, q.v.) é extinto. Tendo entrado na quarta absorção, a inspiração e a expiração (assasa-passasa, q.v.) são extintas. Tendo entrado na Esfera do Espaço Sem limite (akasañancayatana), as percepções da Corporeidade (rupa-sañña) são extintas. Tendo entrado na Esfera da Consciência Sem Limites (viññanancayatana), a percepção da Esfera do Espaço Sem Limites é extinta. Tendo entrado na Esfera do Nada (akincaññayatana), a percepção da esfera da Consciência Sem Limites está extinta. Tendo entrado na Esfera da Nem-Percepção-Nem-Não-Percepção (neva-sañña
nasaññayatana) a percepção da Esfera do Nada está extinta. Tendo entrado na Extinção da Percepção e Sensação” (sañña-vedayitanirodha), percepção e sensação são extintas”. Para maiores detalhes v. jhana, nirodha-samapatti.
nirodha-samapatti), como é dito no A. IX. 31 e D. 33: “Para o que entrou na primeira absorção, as Percepções Sensoriais (kama-sañña) se extinguiram. Tendo entrado na segunda absorção, o Pensamento Conceitual e Pensamento Discursivo (vitakka-vicara, q.v.) se extinguiram. Tendo entrado na terceira absorção, o Êxtase (piti, q.v.) é extinto. Tendo entrado na quarta absorção, a inspiração e a expiração (assasa-passasa, q.v.) são extintas. Tendo entrado na Esfera do Espaço Sem limite (akasañancayatana), as percepções da Corporeidade (rupa-sañña) são extintas. Tendo entrado na Esfera da Consciência Sem Limites (viññanancayatana), a percepção da Esfera do Espaço Sem Limites é extinta. Tendo entrado na Esfera do Nada (akincaññayatana), a percepção da esfera da Consciência Sem Limites está extinta. Tendo entrado na Esfera da Nem-Percepção-Nem-Não-Percepção (neva-sañña
nasaññayatana) a percepção da Esfera do Nada está extinta. Tendo entrado na Extinção da Percepção e Sensação” (sañña-vedayitanirodha), percepção e sensação são extintas”. Para maiores detalhes v. jhana, nirodha-samapatti.
Observações pessoais:
Citta seria bem melhor
traduzido como consciência. Mente e consciência são coisas muito diferentes no
budismo, como alma e espírito respectivamente , que são diferentes no
cristianismo. Isso tem gerado confusões históricas terríveis. Existem várias
palavras que são traduzidas como consciência no cânone, sendo que elas falam de
coisas completamente diferentes umas das outras. Isto se dá pela deficiência
dos idiomas ocidentais quanto a esses termos, que simplesmente não existem na
maioria dos idiomas. E mesmo o termo citta se refere também a vários tipos
diferentes de consciência. Mas também porque muitos aspectos psicológicos e
tipos de consciência diferentes em nós também não foram notados em nossa
cultura.
Extinção se refere normalmente
à extinção das impurezas que só é alcançada completamente ao atingir o
despertar completo, por sua vez o despertar completo só pode ser alcançado com
a extinção das impurezas. A extinção é do sofrimento, das impurezas e da
ignorância. Então “A ignorância foi extirpada e surgiu o verdadeiro
conhecimento, a escuridão foi extinta e surgiu a luz, como ocorre com aquele que
permanece diligente, com esforço correto e decidido.” – MN4. Eis todo o
caminho, o método, o objetivo e sua realização numa única sentença. Outros métodos
fora dos suttas são especulações posteriores. Para mais detalhe veja o Majjhima
Nikaya 8 no qual Buda ensina o caminho da extinção. Outras explicações e
comentários parecem destoar com o ensinamento do cânone em que Buda fala
explicitamente que a extinção não é aniquilação. Auto aniquilação inclusive é
uma das ideias errôneas, ou heresias, que conduz a estados aflitivos. Isso é
falado pelo Buda no MN2.22.- Kalyanadhamma
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Ambattha e o Orgulho Ferido
Digha Nikaya 3
Ambattha Sutta
Somente para
distribuição gratuita
1.1 Assim ouvi. Em certa ocasião
o Abençoado estava perambulando por Kosala com uma grande sangha de bhikkhus
até que por fim acabou chegando num vilarejo brâmane denominado Icchanankala,
ficando na densa floresta de Icchanankala. Naquela ocasião, o Brâmane
Pokkharasati estava vivendo em Ukkhattha, uma propriedade real com muitos
habitantes, rica em pastagens, árvores, rios e grãos, uma concessão real, uma
doação sagrada que lhe foi dada pelo rei Pasenadi de Kosala.[1]
1.2. E Pokkharasati ouviu:
“Gotama, o contemplativo, o filho dos Sakyas, que adotou a vida santa deixando
o clã dos Sakyas, está na densa floresta de Icchanankala. E acerca desse mestre
Gotama existe essa boa reputação: ‘Esse Abençoado é sublime, digno,
perfeitamente iluminado, consumado no verdadeiro conhecimento e conduta,
bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder insuperável de pessoas
preparadas para serem treinadas, mestre de devas e humanos, iluminado, sublime.
Ele declara - tendo realizado por si próprio com o conhecimento direto - este
mundo com os seus devas, maras e brahmas, esta geração com seus contemplativos
e brâmanes, seus príncipes e povo. Ele ensina o Dhamma, com o significado e
fraseado corretos, que é admirável no início, admirável no meio, admirável no
final; e ele revela uma vida santa que é completamente perfeita e imaculada. É
bom poder encontrar alguém tão nobre.’
1.3. Agora, naquela época
Pokkharasati tinha um pupilo, o jovem Ambattha, que era um estudante dos Vedas,
um mestre dos três Vedas com os seus mantras, liturgia, fonologia e etimologia
e as histórias como quinto elemento; hábil em filologia e gramática, um perito
em filosofia natural [2]
e nas marcas de um grande homem, [3] reconhecido e aceito
pelo seu mestre nos três Vedas, através das palavras: ‘O que eu sei, você sabe;
o que você sabe, eu sei.’
1.4. E Pokkharasati disse para
Ambattha: “Estimado Ambattha, Gotama o contemplativo .... está habitando na densa floresta de
Icchanankala. E acerca desse mestre Gotama existe essa boa reputação ... Agora,
estimado Ambattha, vá ver o contemplativo Gotama para descobrir se esse relato
é correto ou não, e se o Mestre Gotama é como dizem dele. Assim conheceremos o
Mestre Gotama por seu intermédio.
1.5. “Senhor, como irei descobrir
se esse relato é correto ou não e se o Mestre Gotama é como dizem?”
“Estimado Ambattha, as trinta e
duas marcas de um grande homem foram transmitidas através dos nossos mantras e
o grande homem que as possuir tem apenas duas opções. Se ele viver a vida em
família ele se tornará um regente, um monarca justo que irá governar de acordo com o Dhamma; [4] conquistador dos quatro
pontos cardeais, que estabelecerá a segurança no seu reino e que possuirá os
sete tesouros.[5] Que
são: a Roda Preciosa, o Elefante Precioso, o Cavalo Precioso, a Jóia Preciosa,
a Mulher Preciosa, o Tesoureiro Precioso e como sétimo o Conselheiro Precioso.
Ele terá mais de mil filhos que serão corajosos e heróicos e que aniquilarão os
exércitos inimigos. Ele governará, tendo conquistado esta terra circundada pelo
mar, sem bastão ou espada, através do Dhamma. Mas se ele deixar a vida em
família e seguir a vida santa, então ele se tornará um arahant, um Buda perfeitamente
iluminado, aquele que remove o véu do mundo. [6] E eu, Ambatha, sou o
transmissor dos mantras e você é o recebedor.
1.6. “Sim, senhor,” ele
respondeu. Ele se levantou e depois de homenagear Pokkharasati, mantendo-o à
sua direita, subiu na sua carruagem puxada por um jovem garanhão, acompanhado
por vários jovens brâmanes, ele foi em direção à densa floresta de
Icchanankala. Ele foi até onde a estrada permitia o acesso das carruagens e
depois desmontou da sua carruagem e seguiu a pé.
1.7. Agora, naquela ocasião
muitos bhikkhus estavam caminhando para cá e para lá ao ar livre. Então,
Ambattha foi até eles e perguntou: “Veneráveis senhores, onde ele está agora, o
Mestre Gotama? Nós queremos ver o Mestre Gotama.”
1.8. Os bhikkhus pensaram: “Esse
Ambattha é um jovem de boa família e um pupilo do respeitado Brâmane
Pokkharasati. O Abençoado não se importaria em ter uma conversa com um jovem
como esse.” E eles responderam para Ambattha: “Aquela, com a porta fechada, é a
habitação dele. Vá até lá em silêncio, sem pressa, entre na varanda, limpe a
garganta e bata na porta. O Abençoado abrirá a porta.”
1.9. Ambattha foi até a habitação
com a porta fechada, entrou na varanda, limpou a garganta e bateu na porta. O
Abençoado abriu a porta, Ambattha entrou, ambos se cumprimentaram com cortesia
e o Abençoado sentou a um lado. Mas Ambattha ficou caminhando para cá e para lá
enquanto o Abençoado estava ali sentado, dizendo de modo indistinto algumas
palavras de cortesia, ficando em pé ante o Abençoado enquanto assim falava.
1.10. E o Abençoado disse para
Ambattha: “Estimado Ambattha, você se comportaria dessa forma se estivesse
conversando com os veneráveis e eruditos Brâmanes, mestres de mestres, assim
como você se comporta comigo, caminhando e ficando em pé enquanto eu estou
sentado, e dizendo de modo indistinto algumas palavras de cortesia?” “Não,
Mestre Gotama. Um Brâmane deve caminhar com um brâmane que esteja caminhando,
ficar em pé com um Brâmane que esteja em pé, sentar com um Brâmane que esteja
sentado e deitar com um Brâmane que esteja deitado. Mas com relação aos
contemplativos carecas, esses subalternos com a tez escura, descendentes dos
pés do Ancestral, com eles é apropriado que se converse da forma como faço com
o Mestre Gotama.”
1.11. “Mas, Ambattha, você veio
até aqui em busca de algo. Qualquer que seja a razão pela qual você aqui veio,
você deveria dar atenção para poder ouvir. Ambattha, o seu treinamento não é
perfeito. A sua presunção por estar em treinamento se deve apenas à sua
inexperiência.”
1.12. Mas Ambattha ficou furioso
e irritado por ter sido chamado de mal-treinado e se dirigiu ao Abençoado com
insultos e grosserias. Pensando: “O contemplativo Gotama tem má vontade em
relação a mim,” ele disse: “Mestre Gotama, os Sakyas são cruéis, com a
linguagem grosseira, irritáveis e violentos. Tendo uma origem servil,
sendo servos, eles não honram,
respeitam, estimam, veneram ou homenageiam os Brâmanes. Com relação a isso não é
apropriado que ... eles não homenageiem os Brâmanes.’ Essa foi a primeira vez
que Ambattha acusou os Sakyas de serem servos.
1.13. “Mas, Ambattha, que mal lhe
fizeram os Sakyas?”
“Mestre Gotama, certa vez fui a
Kapilavatthu para tratar de negócios do meu mestre, o Brâmane Pokkharasati,
indo para o salão de reuniões dos Sakyas. Naquela ocasião um grande número de
Sakyas estavam sentados sobre assentos elevados no salão de reuniões, cutucando
uns aos outros com os dedos, rindo e gracejando juntos, tive a impressão de que
eles só estavam se divertindo às minhas custas, e ninguém me ofereceu um
assento. Com relação a isso, não é apropriado que ... eles não homenageiem os
Brâmanes.” Essa foi a segunda vez que Ambattha acusou os Sakyas de serem
servos.
1.14. “Mas, Ambattha, até mesmo a
codorna, essa pequena ave, pode piar o quanto quiser no seu próprio ninho.
Kapilavatthu é o lar dos Sakyas, Ambattha. Eles não merecem censura por tão
pouco.”
“Mestre Gotama, há quatro castas:
[7] os Khattiyas, os
Brâmanes, os comerciantes e os trabalhadores. E dessas quatro castas, três, os
Khattiyas, os comerciantes e os trabalhadores, são totalmente subservientes aos
Brâmanes. Com relação a isso, não é apropriado que .. eles não homenageiem os
Brâmanes.” Essa foi a terceira vez que Ambattha acusou os Sakyas de serem
servos.
1.15. Então, o Abençoado pensou:
“Este jovem está se excedendo na ofensa aos Sakyas. E se eu lhe perguntasse o
seu nome de clã?” Assim ele disse: “Ambattha, qual é o seu clã?” “Eu sou
um Kanha, Mestre Gotama.”
“Ambattha, em tempos passados, de
acordo com aqueles que se recordam da linhagem ancestral, os Sakyas eram os
senhores e você descende de uma escrava dos Sakyas. Pois os Sakyas consideram o
Rei Okkaka como seu ancestral. Certa ocasião, o Rei Okkaka, que amava e
estimava a rainha, desejando transferir o reino para o filho dela, baniu os
seus irmãos mais velhos do reino - Okkamukha, Karandu, Hatthiniya e Sinipura. E
estes, tendo sido banidos, se estabeleceram aos pés do Himalaia junto a uma
lagoa com flores de lótus na qual havia um grande bosque de árvores teca. [8] E por temer contaminar a
estirpe, eles coabitavam com as próprias irmãs. Então, o Rei Okkaka perguntou
aos seus ministros e conselheiros: “Onde estão vivendo os príncipes agora?” e
eles lhe disseram. Ouvindo isso o Rei Okkaka exclamou: “Eles são fortes como
teca (saka), esses príncipes, eles são verdadeiros Sakyas!” E assim foi
como os Sakyas obtiveram o seu conhecido nome. E o Rei foi um ancestral dos
Sakyas.
1.16. “Agora, o Rei Okkaka tinha
uma escrava chamada Disa, que deu à luz a um bebê negro. Esse bebê negro, ao
nascer, exclamou: ‘Lave-me, mãe! Banhe-me, mãe! Livre-me dessa sujeira, assim
irei lhe proporcionar muito benefício!’ Porque, Ambatha, assim como as pessoas,
hoje, usam o termo demônio, (pisaca), como designação ofensiva, assim
naquela época elas diziam negro, (kanha). E elas diziam: ‘Nem bem
nasceu, ele falou. É um Kanha que nasceu, um negro!’ Assim em tempos passados
... os Sakyas eram os senhores e você descende de uma escrava dos Sakyas.”
1.17. Ao ouvir isso, os outros
jovens disseram: “Mestre Gotama, não humilhe Ambatha com essa conversa dele ser
descendente de uma escrava: Ambatha é bem nascido, de boa família, ele é muito
estudado, bom orador, um erudito, capaz de se sair muito bem numa discussão com
o Mestre Gotama!”
1.18. Então, o Abençoado disse
para esses jovens: “Se vocês consideram que Ambattha é malnascido, não é de boa
família, não é estudado, orador medíocre, não é um erudito, incapaz de se sair
muito bem numa discussão com o Mestre Gotama, então deixem que Ambattha
permaneça em silêncio, vocês discutirão comigo. Mas se vocês pensam que ele é
... capaz de se sair muito bem numa discussão com o Mestre Gotama, então deixem
que ele discuta comigo.”
1.19. “Ambattha é bem nascido,
Mestre Gotama ... Nós ficaremos em silêncio, ele prosseguirá.”
1.20. Então, o Abençoado disse
para Ambattha: “Ambattha, eu lhe farei uma pergunta que você talvez não queira
responder. Se você não responder ou evadir o assunto, ou ficar em silêncio, ou
for embora, a sua cabeça irá se partir em sete pedaços. O que você pensa
Ambattha? Você ouviu de veneráveis anciãos Brâmanes, mestres de mestres, de
onde vieram os Kanhas, quem era o ancestral deles?” Nisso, Ambattha permaneceu em silêncio. O Abençoado
perguntou uma segunda vez. Novamente Ambattha permaneceu em silêncio e o
Abençoado disse: “Responda agora, Ambattha, agora não é o momento de ficar em silêncio. Se alguém
for questionado com uma pergunta razoável pela terceira vez pelo Tathagata e
ainda assim não responder, a sua cabeça se partirá em sete pedaços no mesmo instante.
[9]
1.21. Agora, naquele momento o
yakkha Vajirapani [10]
segurando nas mãos um raio de ferro em chamas, incandescente e brilhante,
apareceu no ar sobre a cabeça de Ambattha, pensando: “Se esse jovem Ambattha,
que foi questionado com uma pergunta razoável pela terceira vez pelo Tathagata,
ainda assim não responder, partirei a sua cabeça em sete pedaços neste
instante.” O Abençoado viu Vajirapani e Ambattha também o viu. Então, Ambattha
ficou amedrontado, alarmado e aterrorizado. Buscando abrigo, proteção e refúgio
no Abençoado, ele disse: “Pergunte, Mestre Gotama, eu responderei.” “O que você
pensa Ambattha? Você ouviu quem era o ancestral dos Kanhas?” “Sim, eu ouvi tal
qual foi dito pelo Mestre Gotama, essa é a origem dos Kanhas, aquele foi o
ancestral deles.”
1.22. Ao ouvir isso, os demais
jovens fizeram ruído e vociferaram: “Então, Ambattha é malnascido, não é de boa
família, nascido de uma escrava dos Sakyas, e os Sakyas são os senhores de
Ambattha! Nós menosprezamos o contemplativo Gotama, pensando que ele não falava
a verdade!”
1.23. Então, o Abençoado pensou:
“É excessiva a forma como esses jovens estão humilhando Ambattha por este ser o
filho de uma escrava. Devo ajudá-lo a sair disso.” Assim, ele disse para
aqueles jovens: “Não menosprezem Ambattha em demasia por ele ser o filho de uma
escrava! Aquele Kanha era um sábio poderoso. [11] Ele foi para o sul, [12] aprendeu os mantras
com os Brâmanes de lá e depois foi até o Rei Okkaka e pediu a filha dele,
Maddarupi, em
casamento. O Rei Okkaka, furiosamente enraivecido, exclamou:
‘Então esse sujeito, filho de uma escrava, quer a minha filha!’ e colocou uma
flecha no arco. Mas ele foi incapaz de disparar a flecha ou de removê-la. [13] Então, os ministros e
conselheiros foram até o sábio Kanha e disseram: ‘Poupe o rei, Venerável
Senhor, poupe o rei!’
‘O rei estará a salvo, mas se ele
disparar a flecha para baixo, a terra irá tremer em toda a extensão do reino.”
‘Venerável Senhor, poupe o rei,
poupe o reino!’
‘O rei e o reino estarão salvos,
mas se ele disparar a flecha para cima, em toda a extensão do reino os devas
não permitirão que a chuva caia por sete anos.’ [14]
‘Venerável Senhor, poupe o rei e
o reino, e que os devas da chuva façam chover!’
‘O rei e o reino estarão salvos e
os devas da chuva farão chover, mas se o rei apontar a flecha para o príncipe
herdeiro, o príncipe estará completamente a salvo.’
Então os ministros exclamaram:
‘Que o Rei Okkaka aponte a flecha para o príncipe herdeiro, o príncipe estará
completamente a salvo!’ O rei assim fez, e o príncipe ficou ileso. Então, o Rei
Okkaka, aterrorizado e temeroso do castigo divino, [15] deu a sua filha
Maddarupi em
casamento. Portanto , jovens, não menosprezem Ambattha em
demasia por ser um filho de uma escrava! Aquele Kanha era um sábio poderoso.”
1.24. Então, o Abençoado disse:
“Ambattha, o que você pensa? Suponha que um jovem Khattiya se casasse com uma
jovem Brâmane, e que dessa união nascesse um filho. Esse filho de um jovem
Khattiya e uma jovem Brâmane receberia um assento e água dos Brâmanes?” “Ele
receberia, Mestre Gotama.”
“Eles permitiriam que ele
participasse nos banquetes nas cerimonias funerárias ou nos alimentos cozidos
no leite, ou nas oferendas para os devas, ou nos sacrifícios?” “Eles
permitiriam, Mestre Gotama.”
“Eles ensinariam para ele os
mantras ou não?” “Eles ensinariam, Mestre Gotama.”
“Eles manteriam as suas esposas
cobertas ou descobertas?” “Descobertas, Mestre Gotama.”
“Mas os Khattiyas permitiriam que
ele recebesse a consagração Khattiya?” “Não, Mestre Gotama.”
“Porque não?” “Porque, Mestre
Gotama, ele não é bem-nascido por parte da mãe.”
1.25. “O que você pensa,
Ambattha? Suponha que um jovem Brâmane se casasse com uma jovem Khattiya, e que
dessa união nascesse um filho. Esse filho de um jovem Brâmane e uma jovem
Khattiya receberia um assento e água dos Brâmanes?” “Ele receberia, Mestre
Gotama.” ... (igual ao verso 24) “Mas os Khattiyas permitiriam que ele
recebesse a consagração Khattiya?” “Não, Mestre Gotama.”
“Porque não?” “Porque, Mestre
Gotama, ele não é bem-nascido por parte do pai.”
1.26. “Portanto Ambattha, quer
seja comparando um homem com um homem ou uma mulher com uma mulher, os
Khattiyas são superiores e os Brâmanes são inferiores. O que você pensa,
Ambattha? Suponha que um certo Brâmane, por ter cometido alguma ofensa, tenha
sido declarado pelos Brâmanes como um fora-da-lei, tendo a cabeça raspada, com
cinzas espalhadas sobre a cabeça, sendo banido do país ou cidade. Ele receberia
um assento e água dos Brâmanes?” “Não, Mestre Gotama.”
“Eles permitiriam que ele
participasse ... nos sacrifícios?” “Não, Mestre Gotama.”
“Eles lhe ensinariam os mantras
ou não?” “Eles não ensinariam, Mestre
Gotama.”
“Eles manteriam as suas esposas
cobertas ou descobertas?’ ‘Cobertas, Mestre Gotama.”
1.27. “Mas o que você pensa,
Ambattha? Se os Khattiyas tivessem do mesmo modo declarado um Khattiya como um
fora-da-lei ... banido do país ou cidade, ele receberia um assento e água dos
Brâmanes?” “Ele receberia, Mestre Gotama.” ... (igual ao verso 24) “Eles
manteriam as suas esposas cobertas ou descobertas?” “Descobertas, Mestre
Gotama.”
“E esse Khattiya teria sofrido a
mais extrema humilhação ao ser declarado como um fora-da-lei ... banido do país
ou cidade. Portanto, mesmo que um Khattiya tenha sofrido a mais extrema
humilhação, ainda assim ele é superior e os Brâmanes são inferiores.
1.28. “Ambattha, estes versos
foram recitados pelo Brahma Sanankumara:
‘Os khattiya
são os melhores dentre as pessoas
Para aqueles
cujo padrão é o clã,
Mas aquele com
a conduta e o conhecimento consumados
É o melhor
dentre devas e humanos.’[a]
Esses versos foram recitados da
forma correta, não incorreta, ditos da forma correta, não incorreta, conectados
com o benéfico, não desconectados. E, Ambattha, eu também digo isso:
Os khattiya
são os melhores dentre as pessoas
Para aqueles
cujo padrão é o clã,
Mas aquele com
a conduta e o conhecimento consumados
É o melhor
dentre devas e humanos.”
[Fim da primeira seção]
2.1. “Mas, Mestre Gotama, o que é
essa conduta, o que é esse conhecimento?”
“Ambattha, com relação à suprema
conduta-e-conhecimento não há nenhuma referência à questão do nascimento ou do
clã, ou à presunção que diz: ‘Você é tão digno quanto eu sou, você não é tão
digno quanto eu sou!’ Onde há conversa sobre um matrimônio, sobre dar em
casamento, é que há referência a esse tipo de coisa. Pois todo aquele,
Ambattha, que está escravizado à noção de nascimento ou de clã, ou ao orgulho
de uma posição social, ou de parentesco através do casamento, está muito
distante da suprema conduta-e-conhecimento. Só com o abandono desses vínculos é
que alguém pode compreender por si mesmo a suprema conduta-e-conhecimento.”
2.2 “Mas, Mestre Gotama, o que é
essa conduta, o que é esse conhecimento?”
“Ambattha, um Tathagata surge no
mundo, sublime, digno, perfeitamente iluminado, consumado no verdadeiro
conhecimento e conduta, bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder
insuperável de pessoas preparadas para serem treinadas, mestre de devas e humanos,
iluminado, sublime. Ele declara - tendo realizado por si próprio com o
conhecimento direto - este mundo com os seus devas, maras e brahmas, esta
geração com seus contemplativos e brâmanes, seus príncipes e povo. Ele ensina o
Dhamma, com o significado e fraseado corretos, que é admirável no início,
admirável no meio, admirável no final; e ele revela uma vida santa que é
completamente perfeita e imaculada. Um discípulo segue a vida santa e pratica a
virtude (veja o DN
2, versos 41-62); ele guarda as portas dos meios dos sentidos, etc. (veja o
DN 2, versos 64-74);
alcança os quatro jhanas (veja o DN 2, versos 75-82).
Assim ele desenvolve a conduta. Ele alcança vários insights, (veja o DN 2, versos 83-95),
e a destruição das impurezas (veja o DN 2, versos 97 )
... E além disso, não há nenhum desenvolvimento adicional de conhecimento e
conduta que seja mais elevado ou mais perfeito.
2.3. “Mas, Ambattha, no desenvolvimento
da suprema conduta-e-conhecimento há quatro caminhos que levam ao fracasso.
Quais são esses? Em primeiro lugar, um contemplativo ou Brâmane que ainda não
logrou alcançar a suprema conduta-e-conhecimento, toma o seu bastão de carga [16] e mergulha nas
profundezas da floresta pensando: ‘A partir de agora serei um daqueles que vive
apenas das frutas caídas.’ Mas assim, deveras, ele só se torna digno de ser um
servente daquele que já alcançou a suprema conduta-e-conhecimento. Esse é o
primeiro caminho que leva ao fracasso. Outra vez, um contemplativo ou Brâmane
que ainda não logrou alcançar a suprema conduta-e-conhecimento, sendo incapaz
de viver apenas das frutas caídas, toma uma pá e um cesto e mergulha nas
profundezas da floresta pensando: ‘A partir de agora serei um daqueles que vive
apenas de raízes e tubérculos.’ [17] Mas assim, deveras,
ele só se torna digno de ser um servente daquele que já alcançou a suprema
conduta-e-conhecimento. Esse é o segundo caminho que leva ao fracasso. Outra
vez, um contemplativo ou Brâmane que ainda não logrou alcançar a suprema
conduta-e-conhecimento, sendo incapaz de viver apenas das frutas caídas, sendo
incapaz de viver de raízes e tubérculos, prepara um santuário para o fogo,
próximo a um vilarejo ou vila, e ali permanece servindo ao fogo.[18] Mas assim, deveras,
ele só se torna digno de ser um servente daquele que já alcançou a suprema
conduta-e-conhecimento. Esse é o terceiro caminho que leva ao fracasso. Outra
vez, um contemplativo ou Brâmane que ainda não logrou alcançar a suprema
conduta-e-conhecimento, sendo incapaz de viver apenas das frutas caídas, sendo
incapaz de viver de raízes e tubérculos, sendo incapaz de servir ao fogo,
constrói uma casa com quatro portas numa encruzilhada pensando: ‘Qualquer
contemplativo ou Brâmane que venha dos quatro pontos cardeais, eu irei serví-lo
e honrá-lo da melhor forma que possa.’ Mas assim, deveras, ele só se torna
digno de ser um servente daquele que já alcançou a suprema
conduta-e-conhecimento. Esse é o quarto caminho que leva ao fracasso.
2.4. “O que você pensa, Ambattha?
Você e o seu mestre vivem de acordo com a suprema conduta-e-conhecimento?” “De
fato não, Mestre Gotama! Quem em comparação somos meu mestre e eu? Nós estamos
distantes disso!”
“Muito bem, Ambattha, então você
e o seu mestre, incapazes de alcançar a suprema conduta-e-conhecimento,
poderiam ir com os seus bastões de carga e mergulhar nas profundezas da
floresta, com a intenção de viver das frutas caídas?” “De fato não, Mestre
Gotama.”
“Muito bem, Ambattha, então você
e o seu mestre, incapazes de alcançar a suprema conduta-e-conhecimento ...
viver de raízes e tubérculos ... servir ao fogo ... construir uma casa ... ?”
“De fato não, Mestre Gotama.”
2.5. “Portanto, Ambattha, não só
você e o seu mestre são incapazes de alcançar a suprema conduta-e-conhecimento,
mas mesmo os quatro caminhos que levam ao fracasso estão além do seu alcance. E
no entanto, você e o seu mestre, o Brâmane Pokkharasati, dizem estas palavras:
‘Esses contemplativos carecas, esses subalternos com a tez escura, descendentes
dos pés do Ancestral, que conversa podem eles ter com os Brâmanes estudados nos
Três Vedas?’ – muito embora você mesmo não seja capaz nem de dar conta das
tarefas de alguém que fracassou. Veja, Ambattha, como o seu mestre o iludiu!
2.6. “Ambattha, o Brâmane
Pokkharasati vive da generosidade e favor do Rei Pasenadi de Kosala. E no
entanto, o Rei não permite que ele tenha uma audiência face a face. Quando
conversa com o Rei ele assim o faz por trás de uma cortina. Com pode ser,
Ambattha, que o mesmo Rei, de quem ele aceita essa renda legal e honesta, o Rei
Pasenadi de Kosala, não o receba pessoalmente? Veja, Ambattha, como o seu
mestre o iludiu!
2.7. “O que você pensa, Ambattha?
Suponha que o Rei Pasenadi de Kosala estivesse montado num elefante ou num
cavalo, ou na sua carruagem, em conferência com os seus ministros e príncipes
sobre algum assunto. E suponha que o Rei se afastasse e um trabalhador ou o
escravo de algum trabalhador viesse e, ficando ali em pé, dissesse: ‘Isto é o
que o Rei Pasenadi de Kosala diz!’ Embora ele possa falar como o Rei falou ou
discutir como o Rei discutiu, ele por isso seria o Rei ou mesmo um dos
ministros do Rei?” “Com certeza não, Mestre Gotama.”
2.8. “Bem então, Ambattha, é
exatamente a mesma coisa. Aqueles que foram, como você diz, os antigos brâmanes
videntes, os criadores dos mantras, os compositores dos mantras antigos que
antigamente eram cantados, falados e compilados, e que ainda hoje os brâmanes
cantam e repetem, repetindo o que foi dito e recitando o que foi recitado –
isto é, Atthaka, Vamaka, Vamadeva, Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja,
Vasettha, Kassapa e Bhagu [19]
– e cujos mantras se diz foram passados para o seu mestre e para você: no
entanto, através disso você não se torna um sábio ou alguém que tenha
habilidade no caminho de um sábio – tal coisa não é possível.
2.9. “O que você pensa, Ambattha?
O que você ouviu ter sido dito pelos Brâmanes que são veneráveis, anciãos, os
mestres dos mestres? Esses antigos brâmanes videntes ... Atthaka, ... Bhagu –
eles desfrutavam banhados, perfumados, com o cabelo e barba aparados,
enfeitados com grinaldas e coroas de flores, vestidos de branco, entregando-se
aos prazeres dos cinco sentidos, assim como você e seu mestre agora fazem?”
“Não, Mestre Gotama.”
2.10. “Ou eles comiam um arroz de
primeira e muitos tipos de molhos e tipos de caril, assim como você e seu
mestre agora fazem?” “Não, Mestre Gotama.”
“Ou eles se divertiam com
mulheres enfeitadas com toucados, colares e longas saias, assim como você e seu
mestre agora fazem?” “Não, Mestre Gotama.”
“Ou eles passeavam em carruagens
puxadas por garanhões com os rabos e crinas trançadas, incitando-os com longas
aguilhadas?” “Não, Mestre Gotama.”
“Ou eles se mantinham guardados
em cidades fortificadas com estacas e valas, protegidos por homens com longas
espadas ... ?” “Não, Mestre Gotama.”
“Portanto, Ambattha, nem você e
tampouco o seu mestre são sábios, ou vivem de acordo com as condições que os
sábios viviam. Mas com relação às suas dúvidas e perplexidades no que diz
respeito a mim, você pode me perguntar que eu irei esclarecê-las.”
2.11 Então, saindo da sua
habitação, o Abençoado começou a andar para cá e lá e Ambattha fez o mesmo. E enquanto andava com o
Abençoado, Ambattha procurou pelas trinta e duas marcas de um Grande Homem no
corpo do Abençoado. E ele pode ver todas exceto duas. Ele ficou em dúvida e não
podia ter certeza sobre duas dessas marcas, e não pôde chegar a uma conclusão
sobre elas: sobre a genitália contida numa bainha e sobre o tamanho da língua.
2.12. Então, ocorreu ao Abençoado
que: “Ambattha vê mais ou menos as trinta e duas marcas de um Grande Homem no
meu corpo, exceto duas; ele tem dúvida e incerteza sobre duas dessas marcas e
não pode chegar a uma conclusão sobre elas: sobre a genitália contida numa
bainha e sobre o tamanho da língua.” Então, o Abençoado através dos seus
poderes supra-humanos fez com que Ambattha pudesse ver a sua genitália contida
numa bainha. Em seguida, o Abençoado esticou a língua para fora, lambendo ambas
as orelhas e ambas as narinas e depois cobriu toda a extensão da sua testa com a língua. Então,
Ambattha pensou: “O contemplativo Gotama é dotado de todas as trinta e duas
marcas de um Grande Homem, completas, sem faltar nenhuma.” Assim, ele disse
para o Abençoado: “Mestre Gotama, posso ir agora? Eu tenho muitos afazeres,
muitas coisas para tratar.” “Ambattha, faça aquilo que você julgar adequado.”
Em seguida, Ambattha montou na carruagem puxada por um jovem garanhão e partiu.
2.13. Nesse ínterim, o Brâmane
Pokkharasati estava sentado no seu parque com um grande número de Brâmanes,
apenas esperando por Ambattha. Então, Ambattha chegou no parque e foi até onde
a estrada permitia o acesso das carruagens e depois desmontou da sua carruagem
e seguiu a pé até onde se encontrava Pokkharasati, cumprimentando-o e sentando
a um lado. Então Pokkharasati disse:
2.14. “Bem, estimado jovem, você
viu o Mestre Gotama?” “Eu vi, senhor.”
“O relato sobre o Mestre Gotama é
correto ou não, o Mestre Gotama é como dizem ?” “O relato sobre o Mestre Gotama
é correto, não incorreto; e o Mestre Gotama é como dizem, não de outra forma.
Ele possui as trinta e duas marcas de um Grande Homem.”
“Mas houve alguma conversa entre
você e o contemplativo Gotama?” “Houve, senhor.”
“E sobre o que foi a conversa?”
Assim, Ambattha relatou a Pokkharasati tudo que havia ocorrido entre e ele e o
Abençoado.
2.15. Em vista disso Pokkharasati
exclamou: “Bem, que belo pequeno erudito, que belo homem sábio, que belo
experto nos Três Vedas! Qualquer um que trate dos seus assuntos dessa forma
deve com a dissolução do corpo, após a morte, renascer num estado de privação,
num destino infeliz, no inferno! Você encheu o Venerável Gotama de insultos e
como resultado disso ele apresentou mais e mais coisas contra nós! Você é um
belo pequeno erudito ... !” Ele estava tão furioso e enraivecido que chutou
Ambattha e queria de uma vez ir ver o Abençoado.
2.16. Mas os Brâmanes disseram:
“É demasiado tarde, senhor, para ir ver hoje o Contemplativo Gotama. O
Venerável Pokkharasati deve ir vê-lo amanhã.”
Então, Pokkharasati, tendo
preparado vários tipos de boa comida na sua casa, saiu iluminado por tochas de
Ukkattha para a floresta de Icchanankala. Ele foi até onde a estrada permitia o
acesso das carruagens e depois desmontou da sua carruagem e seguiu a pé até
onde se encontrava o Abençoado e ambos se cumprimentaram. Quando a conversa
cortês e amigável havia terminado, ele sentou a um lado e disse:
2.17. “Venerável Gotama, o nosso
pupilo Ambattha veio vê-lo?” “Ele veio, Brâmane.” “E houve uma conversa entre
vocês?” “Sim houve.” “E a respeito do que foi essa conversa?”
Então, o Abençoado relatou a Pokkharasati tudo que havia acontecido entre
ele e Ambattha. Em vista disso, Pokkharasati disse para o Abençoado: “Venerável
Gotama, Ambattha é um jovem tolo. Que o Venerável Gotama o perdoe.” “Brâmane,
que Ambattha seja feliz.”
2.18-19. Então, Pokkharasati
procurou pelas trinta e duas marcas de um Grande Homem no corpo do Abençoado. E
ele pode ver todas exceto duas. Ele ficou em dúvida e não podia ter certeza
sobre duas dessas marcas, e não pôde chegar a uma conclusão sobre elas: sobre a
genitália contida numa bainha e sobre o tamanho da língua; mas o Abençoado
pacificou a mente dele com relação a isso (igual aos versos 11-12). E
Pokkharasati disse para o Abençoado: “Que o Venerável Gotama aceite de mim hoje
uma refeição junto com a Sangha dos bhikkhus!” E o Abençoado concordou em
silêncio.
2.20. Então, sabendo que o
Abençoado havia concordado, Pokkharasati, fez com que se anunciasse a hora para
o Abençoado: “É hora, Mestre Gotama, a refeição está pronta.” E o Abençoado
carregando a sua tigela e o manto externo, foi com a Sangha dos bhikkhus até a
casa de Pokkharasati e sentou num assento que havia sido preparado. Então, com
as próprias mãos Pokkharasati serviu e satisfez o Abençoado com os vários tipos
de boa comida, e os jovens brâmanes serviram os bhikkhus. Em seguida, quando o
Abençoado havia terminado de comer e retirado a mão da sua tigela, Pokkharasati
sentou a um lado, num assento mais baixo.
2.21 Então, o Abençoado
transmitiu o ensino gradual ao Brâmane Pokkharasati, isto é, ele falou sobre a
generosidade, sobre a virtude, sobre o paraíso; ele explicou o perigo, a
degradação e as contaminações dos prazeres sensuais e as vantagens da renúncia.
Quando ele percebeu que a mente do Brâmane Pokkharasati estava pronta,
receptiva, livre de obstáculos e confiante, ele explicou o ensinamento
particular dos Budas: o sofrimento, a sua origem, a sua cessação e o caminho.
Tal qual um pano limpo, com todas as manchas removidas, irá absorver um corante
de modo adequado, assim também, enquanto o Brâmane Pokkharasati estava ali
sentado, a visão imaculada do Dhamma surgiu nele: “Tudo que está sujeito ao
surgimento está sujeito à cessação.”
2.22. E Pokkharasati, tendo visto
o Dhamma, alcançado o Dhamma, compreendido o Dhamma, examinado a fundo o
Dhamma, superou a dúvida, eliminou a perplexidade, obteve a intrepidez e se
tornou independente dos outros na Revelação do Mestre, dizendo: “Magnífico,
Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! O Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de
várias formas, como se tivesse colocado em pé o que estava de cabeça para
baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que
estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem
visão pudessem ver as formas. Eu, junto com meu filho, minha esposa, meus
ministros e conselheiros, buscamos refúgio no Mestre Gotama, no Dhamma e na
Sangha dos bhikkhus. [20]
Que o Mestre Gotama nos aceite como discípulos leigos que nele buscaram refúgio
para o resto da vida. E sempre que o Venerável Gotama visitar outras famílias e
discípulos leigos em Ukkattha, que ele também visite a família de Pokkharasati!
Qualquer jovem brâmane que ali se encontre irá então homenagear e reverenciar o
Venerável Gotama, arrumará para ele um assento e água, e se sentirá feliz por
isso; e isso será para o benefício dele por muito tempo.”
“Muito bem dito, Brâmane.”
Abreviações:
DA Digha
Nikaya Atthakatha
Notas:
[1] Uma frase padrão que aparece com freqüência nos suttas, tal como
no DN 4.1, 5.1, MN 95.1, etc. [Retorna]
[2] Outra frase padrão. [Retorna]
[3] Para uma descrição dessas marcas (pré Budistas) veja o DN 30. Claramente elas
são importantes para os Brâmanes para estabelecer as credenciais do
‘contemplativo Gotama.’ Veja também o MN 91. [Retorna]
[6] Loke vivattacchado: uma expressão difícil. O ‘véu' é a
ignorância, etc.[Retorna]
[7] Esta divisão em quatro grupos mostra um estágio inicial do sistema de
castas. Na época do Buda, na sua terra natal, os Khattiyas, (Nobres
guerreiros), aos quais ele pertencia, ainda constituíam a primeira casta, com
os Brâmanes em segundo lugar, embora estes últimos já tivessem se estabelecido
como a casta superior nas regiões mais a oeste e estavam claramente lutando por
esta posição na terra natal do Buda. O Buda com freqüência se refere a um
agrupamento distinto: Khattiyas, Brâmanes, chefes de família e contemplativos.
[Retorna]
[8] Sakasanda. A palavra saka também pode significar
‘erva,’ mas neste caso com certeza tem o outro significado de ‘teca.’ [Retorna]
[9] Uma ameaça curiosa que nunca é concretizada e deve certamente ser
pré-Budista. [Retorna]
[10] Este yakkha, equiparado a Indra no DA, está preparado, igual ao MN 35.14, para concretizar a ameaça. Dessa forma, uma das antigas divindades é
vista apoiando a nova religião. Em textos Mahayana encontramos um Bodisatva com o
mesmo nome. [Retorna]
[11]Isi (em Sânscrito rsi, ocidentalizado como ‘rishi’).
Deve ele ser identificado com Krishna (Sânscrito Krsna = Pali Kanha)?[Retorna]
[12]Dakkhina janapada: ocidentalizado como Deccan.[Retorna]
[13] De acordo com o DA, este era chamado o ‘feitiço Ambattha’.[Retorna]
[14] Um blefe de acordo com DA: na
verdade o feitiço era capaz apenas de evitar que a flecha fosse disparada.[Retorna]
[16] Um bastão ou canga para carregar os pertences.[Retorna]
[17] Isto é, cavando as raízes e tubérculos, algo que o primeiro não
fez.[Retorna]
[18] O fogo sagrado, ou talvez Aggi (Agni) o deus do fogo.[Retorna]
[19] Os antigos rishis associados com os mantras dos Vedas (de acordo com
o DN 13.13). Com relação ao que segue veja também o
DN 27.22. [Retorna]
[20] Pokkharasati ao que parece não havia consultado a esposa, família e
dependentes. Quando Uruvela-Kassapa quis juntar-se à Sangha, o Buda fez com que
ele primeiro consultasse os seus 500 discípulos. Mas é lógico que há uma grande
diferença entre tornar-se um discípulo leigo e juntar-se à Sangha. [Retorna]
quarta-feira, 22 de junho de 2016
NIBBANA SUTTA
-Nibbana Sutta -ANIII.55
Então o brâmane Janussoni foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-losentou a um lado e disse:
"Mestre Gotama, é dito: 'Nibbana visível no aqui e agora, Nibbana visível no aqui e agora.' De que modo Nibbana é visível no aqui e agora,
com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentadopelos sábios por eles mesmos?"
(1) "Brâmane, alguém excitado pela paixão, subjugado pela paixão, com a mente obcecada pela paixão intenciona pela própria aflição, pela
aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele experimenta sofrimento mental e angústia. Mas quando a paixão é abandonada, ele não
intenciona pela própria aflição, pela aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele não experimenta sofrimento mental e angústia, É
desse modo que Nibbana é visível no aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser
experimentado pelos sábios por eles mesmos.
(2) "Alguém tomado pela raiva, subjugado pela raiva, com a mente obcecada pela raiva intenciona pela própria aflição, pela aflição dos
outros, ou pela aflição de ambos, e ele experimenta sofrimento mental e angústia. Mas quando a raiva é abandonada, ele não intenciona
pela própria aflição, pela aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele não experimenta sofrimento mental e angústia. É desse modo
queNibbana é visível no aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos
sábios por eles mesmos.
(3) "Alguém deludido, subjugado pela delusão, com a mente obcecada pela delusão intenciona pela própria aflição, pela aflição dos outros,
ou pela aflição de ambos, e ele experimenta sofrimento mental e angústia. Mas quando a delusão é abandonada, ele não intenciona pela
própria aflição, pela aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele não experimenta sofrimento mental e angústia. É desse modo que
Nibbana é visível no aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos
sábios por eles mesmos.
"Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado
em pé o que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou
segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Eu busco refúgio no Mestre Gotama, no
Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre Gotama me aceite como discípulo leigo que buscou refúgio para o resto da vida.".
Então o brâmane Janussoni foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-losentou a um lado e disse:
"Mestre Gotama, é dito: 'Nibbana visível no aqui e agora, Nibbana visível no aqui e agora.' De que modo Nibbana é visível no aqui e agora,
com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentadopelos sábios por eles mesmos?"
(1) "Brâmane, alguém excitado pela paixão, subjugado pela paixão, com a mente obcecada pela paixão intenciona pela própria aflição, pela
aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele experimenta sofrimento mental e angústia. Mas quando a paixão é abandonada, ele não
intenciona pela própria aflição, pela aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele não experimenta sofrimento mental e angústia, É
desse modo que Nibbana é visível no aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser
experimentado pelos sábios por eles mesmos.
(2) "Alguém tomado pela raiva, subjugado pela raiva, com a mente obcecada pela raiva intenciona pela própria aflição, pela aflição dos
outros, ou pela aflição de ambos, e ele experimenta sofrimento mental e angústia. Mas quando a raiva é abandonada, ele não intenciona
pela própria aflição, pela aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele não experimenta sofrimento mental e angústia. É desse modo
queNibbana é visível no aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos
sábios por eles mesmos.
(3) "Alguém deludido, subjugado pela delusão, com a mente obcecada pela delusão intenciona pela própria aflição, pela aflição dos outros,
ou pela aflição de ambos, e ele experimenta sofrimento mental e angústia. Mas quando a delusão é abandonada, ele não intenciona pela
própria aflição, pela aflição dos outros, ou pela aflição de ambos, e ele não experimenta sofrimento mental e angústia. É desse modo que
Nibbana é visível no aqui e agora, com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos
sábios por eles mesmos.
"Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado
em pé o que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou
segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Eu busco refúgio no Mestre Gotama, no
Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre Gotama me aceite como discípulo leigo que buscou refúgio para o resto da vida.".
BHAVANGA-SOTA e BHAVANGA-CITTA
Do Dicionário Budista - Manual de Termos Budistas e Doutrinários de Nyanatiloka.
Terceira edição revisada e ampliada editada por Nyanaponika.
Tradução: Teresa Kerr
Revisão: Arthur Shaker
BHAVANGA-SOTA e BHAVANGA-CITTA: O primeiro termo pode ser
aproximadamente interpretado como ‘Corrente subterrânea que forma a Condição dos
Seres, ou Existência’, o segundo como ‘Subconsciência’, apesar de, como ficará
evidenciado a seguir, diferir, em diversos aspectos, do uso do termo comum na
psicologia Ocidental. Bhavanga (bhava-anga), o qual nos trabalhos canônicos, é
mencionado duas ou três vezes no Patthana, é explicado nos comentários do
Abhidhamma como a fundação ou condição (karana) da existência (bhava), como
condição sine qua non da vida, tendo a natureza de um processo, lit. um fluxo ou
corrente (sota). Assim, desde tempos imemoriais, todas as impressões e experiências
são, como assim dizer, armazenadas, ou melhor dizendo, estão funcionando, mas
ocultas para a consciência plena, de onde ocasionalmente emergem como fenômeno
subconsciente e se aproximam do limiar da plena consciência, ou cruzando-a se tornam
completamente conscientes. Esta assim chamada ‘corrente subconsciente da vida ou
corrente subterrânea da vida’ é aquilo através da qual pode ser explicada a faculdade da
memória, os fenômenos psíquicos paranormais, crescimento mental e físico, Karma e
Renascimento, etc – Uma tradução alternativa seria ‘continuum-da-vida’.
Deve-se notar que bhavanga-citta é um karma- resultante estado de consciência (vipaka,
q.v.) e que, no nascimento como um ser humano ou nas formas superiores de existência,
ele é sempre resultado de karma bom ou saudável (kusalakamma-vipaka), embora em
vários níveis de força (v. patisandhi, final do artigo). O mesmo é aplicado para a
Consciência-Renascimento (patisandhi) e Consciência da Morte (cuti), as quais são
somente manifestações particulares da Subconsciência. – No Vis. XIV é dito:
“Logo que a consciência-renascimento (no embrião no momento da concepção) cessou,
então surge uma similar Subconsciência com exatamente o mesmo objeto, seguindo
imediatamente sobre a consciência-renascimento e sendo o resultado deste ou daquele
Karma (ação volitiva feita no nascimento anterior e lembrada no momento antes da
morte). E novamente um posterior estado semelhante de subconsciência surge. Agora,
não surgindo outra consciência para interromper a continuidade da corrente-da-vida, a
corrente-da-vida, como o fluxo de um rio, surge da mesma forma novamente e
novamente, mesmo durante o sono sem sonho e em outros momentos. Dessa forma
deve-se entender o contínuo surgimento desses estados de consciência na corrente-davida.” Cf. viññana-kicca. Para maiores detalhes v. Fund. II (App).
Terceira edição revisada e ampliada editada por Nyanaponika.
Tradução: Teresa Kerr
Revisão: Arthur Shaker
BHAVANGA-SOTA e BHAVANGA-CITTA: O primeiro termo pode ser
aproximadamente interpretado como ‘Corrente subterrânea que forma a Condição dos
Seres, ou Existência’, o segundo como ‘Subconsciência’, apesar de, como ficará
evidenciado a seguir, diferir, em diversos aspectos, do uso do termo comum na
psicologia Ocidental. Bhavanga (bhava-anga), o qual nos trabalhos canônicos, é
mencionado duas ou três vezes no Patthana, é explicado nos comentários do
Abhidhamma como a fundação ou condição (karana) da existência (bhava), como
condição sine qua non da vida, tendo a natureza de um processo, lit. um fluxo ou
corrente (sota). Assim, desde tempos imemoriais, todas as impressões e experiências
são, como assim dizer, armazenadas, ou melhor dizendo, estão funcionando, mas
ocultas para a consciência plena, de onde ocasionalmente emergem como fenômeno
subconsciente e se aproximam do limiar da plena consciência, ou cruzando-a se tornam
completamente conscientes. Esta assim chamada ‘corrente subconsciente da vida ou
corrente subterrânea da vida’ é aquilo através da qual pode ser explicada a faculdade da
memória, os fenômenos psíquicos paranormais, crescimento mental e físico, Karma e
Renascimento, etc – Uma tradução alternativa seria ‘continuum-da-vida’.
Deve-se notar que bhavanga-citta é um karma- resultante estado de consciência (vipaka,
q.v.) e que, no nascimento como um ser humano ou nas formas superiores de existência,
ele é sempre resultado de karma bom ou saudável (kusalakamma-vipaka), embora em
vários níveis de força (v. patisandhi, final do artigo). O mesmo é aplicado para a
Consciência-Renascimento (patisandhi) e Consciência da Morte (cuti), as quais são
somente manifestações particulares da Subconsciência. – No Vis. XIV é dito:
“Logo que a consciência-renascimento (no embrião no momento da concepção) cessou,
então surge uma similar Subconsciência com exatamente o mesmo objeto, seguindo
imediatamente sobre a consciência-renascimento e sendo o resultado deste ou daquele
Karma (ação volitiva feita no nascimento anterior e lembrada no momento antes da
morte). E novamente um posterior estado semelhante de subconsciência surge. Agora,
não surgindo outra consciência para interromper a continuidade da corrente-da-vida, a
corrente-da-vida, como o fluxo de um rio, surge da mesma forma novamente e
novamente, mesmo durante o sono sem sonho e em outros momentos. Dessa forma
deve-se entender o contínuo surgimento desses estados de consciência na corrente-davida.” Cf. viññana-kicca. Para maiores detalhes v. Fund. II (App).
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