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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Do livro PSICOLOGIA BUDISTA de Ryotan Tokuda

Quinta Palestra-Psicologia Budista
Caros amigos, para encerrar este ciclo de palestras, hoje
à noite eu vou falar sobre o Budismo Zen. O Budismo
Zen começou na Índia com o Buda Gautama e, até o meu
mestre, houveram oitenta e quatro patriarcas. Esta disciplina
e ensinamento foram transmitidos através de mestre
e discípulo, pela Índia, China e Japão, agora nós estamos
aqui na Argentina. A escola Zen é considerada como o
Budismo transmissão correta, uno e puro, porque não é
realizada através de leituras ou livros, mas é transmitida
fisicamente com o mestre e discípulo se encontrando face
a face e transmitindo o Dharma de coração para coração.
A palavra Buddha significa literalmente homem iluminado,
homem desperto. Quando o Buda Gautama ganhou o
Iluminamento embaixo da árvore sob a qual meditava
ficou muito feliz, durante uma semana inteira ele ficou
naquele estado de muita felicidade. Depois surgiu uma
dúvida: eu encontrei esta resposta com muita dificuldade,
mas será que alguém vai ser capaz de compreender
os meus ensinamentos? Todo mundo está dormindo e
tem os Três Venenos: o apego, a raiva e a ignorância.
Assim, mesmo que eu for ensinando por aí, ninguém vai
entender. Este foi justamente o primeiro perigo da vida de
Buda, e nesse momento ele despertou aquela grande compaixão:
se eu falar, talvez algumas pessoas entendam,
pois algumas pessoas têm somente uma fina camadade
poeira nos olhos; essas pessoas serão capazes de compreender
a doutrina.. Jesus Cristo também teve estas
mesmas tentações no deserto antes de começar o seu ensinamento.
Aqui é onde se mostra a diferença entre o mun-
do comum, profano, e o mundo sagrado. Quando o Buda
Gautama viu uma pequena lagoa, várias flores de lótus
estavam embaixo da água, outras estavam no mesmo nível
da água e algumas estavam acima e fora da água. Então
ele compreendeu: se eu falar, algumas pessoas vão entender,
tal qual o sol que doura os lagos cobertos de lotus
e vê quais os botões que estão próximos a se abrirem a
seus raios, e quais os que não sairam ainda das suas raí-
zes. Esta sensação de solidão no Caminho dos mestres,
todos eles já percorreram esta trilha.
Um sapo começou a viajar e chegou a uma outra lagoa
muito distante, mas nesta lagoa moravam sapos dotados
de um só olho. Eles diziam: ah, este tem dois olhos, é um
aleijado. Para nós é uma coisa muito clara, nós temos dois
olhos, mas se a gente encontrar um mundo em que todos
tenham apenas um olho, nós estamos errados. Isto significa
que nós temos percepções limitadas. Por que existe o
sofrimento? Viver é sofrimento, doença é sofrimento, envelhecimento
é sofrimento, e finalmente a morte é um
sofrimento. A separação daqueles a quem amamos é sofrimento,
encontrar com aquelas pessoas a quem odiamos
também é sofrimento. Quando queremos ganhar uma coisa,
e não conseguimos, sofremos. E, finalmente, viver com
saúde também é sofrimento, porque temos desejos para
comer, dormir, sexo, fama, poderes e bens materiais. Então
por quê este sofrimento? Porque tudo é impermanência.
Nós queremos que as coisas durem, mas elas são impermanentes,
mudam constantemente.
Um dia a pessoa começa a procurar religiões. Por quê?
Para viver nós precisamos de comida todos os dias, mas a
cultura por exemplo, algumas pessoas podem viver sem
ela. Para certas pessoas não se pode viver sem cultura,
como literatura, pinturas, ou músicas bonitas; sem isto não
se pode viver. Agora eu pergunto: e quanto à religião?
Algumas pessoas não precisam, mas algumas pessoas,
talvez poucas pessoas, precisem. Uma pessoa viajava, de
repente encontrou um tigre. Então fugiu para o outro lado,
aí encontrou outro animal, um urso, uma onça, um outro
animal muito perigoso. Aí descobriu um poço profundo e
entrou dentro deste poço segurando numa corda. No fundo
do poço havia um jacaré esperando, de boca aberta. Exatamente
esta situação é a nossa vida, não tem jeito de escapar
destes perigos.
Uma pessoa estava segurando com as duas mãos um
cipó trançado sobre um abismo e aí apareceram dois ratos,
um branco e um preto, e começaram a comer aquele cipó.
A pessoa começou a ficar desesperada, mas de repente ela
encontrou na beira do precipício uma flor muito bonita
que deixava cair um néctar doce, “ah que gostoso”, e começou
a beber o néctar que caia em cima de sua língua e
assim esqueceu todos aqueles perigos. Exatamente nós
estamos vivendo neste mundo sem saída, condenados à
morte com o passar dos dias e das noites, mas este mundo
tem muita coisa divertida. Hoje em dia os japoneses dizem:
três S; o primeiro S é speed, velocidade. O segundo é
o sexo, e o terceiro é o suspense. Os jovens usam speed
(droga, ou sexo) e assim esquecem todos os perigos e impermanências, não há outro mundo, então porque não
viver neste? Falando dessa forma, muitos materialistas
vivem como querem e bem entendem. Os jovens estão
procurando pelo Caminho, sem saber onde ele vai. Estão
como que dormindo ou bêbados, sonhando dentro de um
sonho, precisam uma vez pelo menos despertar. Algumas
pessoas têm muita dificuldade de perder o valor que as
coisas representavam para elas. Até ontem, ele dava muita
importância para a casa ou para a esposa ou o marido, mas
de repente perde tudo. Com as guerras, a pessoa pode perder
o seu filho ou marido, com um incêndio sua casa pode
ser destruída. Com esta inflação, o dinheiro também não
vale mais nada. Então estas coisas começam a cair e a
pessoa se sente insegura, porque deseja uma coisa segura e
certa.
O que podemos segurar? Exatamente por isto foi que o
Buda começou a pregar o seu ensinamento. Para quebrar
as percepções distorcidas. A escola Zen coloca algumas
perguntas paradoxais. Por exemplo: as montanhas verdes
estão sempre se movendo e uma mulher de pedra dá a
luz de noite. Falando dessa forma ninguém entende, e então
as pessoas dizem: isto não pode ser compreendido pelo
intelecto. Mas não é isto. Podemos entender isto com o
intelecto sim.
Não são somente as montanhas que estão se movendo,
mas é a Terra também que está a se mover. Antigamente
as pessoas pensavam que o Céu ou o Sol é que estavam se
movendo e a Terra não. Hoje em dia, até crianças do grupo
escolar sabem que não é o Sol, mas a Terra que está se
movendo, como Galileu Galilei, ou como Copérnico descobriram.
Da mesma maneira, um cientista estava vendo o
mapa mundi, de repente descobre que se aproximassem os
continentes da África e da América do Sul, eles se encaixavam
perfeitamente. Então ele percebeu que a América
do Sul estava ligada à África e também à Europa, e que
não havia o Oceano Atlântico, há muito tempo atrás. Aquelas
ilhas do Havaí, a mesma coisa também aconteceu
com elas. Há muitas ilhas surgindo no Havaí hoje em dia,
porque as lavas dos vulcões formam uma ilha, aí a ilha
formada começa a impedir a saída de mais lava, então a
lava empurra esta ilha e ela se desloca, passa para outro
lugar, e então a lava forma uma nova ilha. Uma a uma,
vão aparecendo todas aquelas ilhas do Havaí. Se você declarar
para um peixe, a sua casa está correndo sem parar,
ele vai se assustar. Talvez ele diga, não brinca comigo, a
minha casa sempre esteve firme aqui. Toda a nossa percepção
sobre o mundo é limitada. Mas porque é que isto
acontece? Porque nós temos a idéia de ego, o egocentrismo.
Esta idéia de ego funciona constantemente, mesmo
que a pessoa esteja dormindo ou em estado de coma, esta
idéia já está na inconsciência. Principalmente quando uma
pessoa está próxima da morte, aparece o apego a este corpo,
o apego a este ambiente material, ao que a pessoa julga
lhe pertencer. Não é somente a casa ou o carro, mas a
família, o marido, filho e também experiências e sabedorias.
Até à vida futura a pessoa tem apego. Esta é a nossa
realidade, mas ninguém pode acompanhar quem está morrendo,
a pessoa que está morrendo tem que ir sozinha.
Então, precisa quebrar esta idéia de ego, por isto a prática
Zen diz: o treinamento de Zen é aprender sobre si mesmo.
Aprender sobre si mesmo significa esquecer de si
mesmo. Esquecer de si mesmo significa limpar a idéia
do ego. Limpar a idéia do ego é tornar-se a própria Verdade.
Assim, quando se diz que uma montanha verde está
sempre se movendo, a pessoa se assusta mas quando pensa
um pouco mais, não são somente as montanhas, até a pró-
pria Terra está se movendo. Quem não conhece este movimento
das montanhas verdes, não conhece o movimento
de si próprio. Porque acontece isto? Nós temos lembranças,
desde a infância e mesmo antes dela. Então, dentro
de mim, alguma coisa, aquela idéia de identidade está
continuando. Mas há vinte, trinta anos atrás eu era outro,
era um menino pequeno. Hoje, e depois no futuro, daqui a
vinte ou trinta anos, vou ficar mais velho e aí sou outra
coisa. Assim, cada momento está mudando, mudando sem
parar. Quando acendo uma vela, esta continua acesa. Parece
que a chama é sempre a mesma, mas não é. Quando
você chega perto da chama ela está fazendo um barulho de
dzzz, dzzz que está continuando e por isto nós estamos
enganados em pensar que existimos para sempre.
Um senhor ficou muito velho, ele era milionário e tinha
muitas mulheres, mas estava perto da morte. Ele disse
para a primeira mulher agora eu vou morrer, me acompanha
junto na morte. Não!! Absolutamente não! Até agora,
nós sempre vivemos juntos, por isto eu vou até o cemitério
com você, mais do que isto eu não vou, disse ela. Aí ele
falou para a segunda mulher: eu te amei muito, por isto
você pode me acompanhar na morte. Não, até dentro do
caixão eu vou, mas mais nada, falou a segunda. Disse para
a terceira mulher que era a mais jovem e a mais bonita, eu
amei você de uma forma muito especial, você podia me
acompanhar na morte. Mas também esta mulher disse que
não, ora, a primeira e a segunda mulher recusaram, porque
é que tenho que ir? Ele tinha a quarta mulher, esta era
quase como uma empregada, como uma escrava. Bom, eu
te maltratei e não posso te pedir muito, mas você me acompanharia?
Aí ela disse: claro que eu vou. Onde é que
você vai? Agora eu pergunto: O que é que são estas mulheres?
A primeira mulher talvez sejam os bens materiais,
móveis, cama, espelhos, mesas e coisas assim, isto pode ir
até a morte, mas depois não pode mais ser usado. Agora, a
segunda e terceira mulheres talvez sejam a fama, títulos,
estas coisas que podem acompanhar a pessoa até que ela
entre dentro do caixão, o homem continua com a fama
dentro da caixão. A quarta mulher simboliza o Karma,
aquilo que você fez na sua vida em ações, palavras e pensamentos,
isto vai acompanhando a pessoa até o fim. Os
Budistas pensam da seguinte forma: não é Deus que manda
você ao céu ou ao inferno, mas são os seus próprios
atos, com a lei de causas e efeitos, que fazem com que
você caia no inferno ou no paraíso.
Podemos dizer que quando nascemos, junto conosco
nasce um Deus, e este Deus está sempre nas nossas costas.
Qualquer coisa que eu faça, de bem ou de mal, este Deus
anota tudo. E quando nós morremos, ele começa a contabilizar
nossa vida com um computador, ele tem um espelho
como se fosse uma televisão e nele se mostra tudo
aquilo que a pessoa fez na vida, uma espécie de videocassete,
no qual já está tudo gravado. Já imaginaram, nós
todos vendo aquilo que fizemos durante a vida? É realmente
uma coisa horrorosa. A gente pode enganar a outras
pessoas, não mostrar, esconder, mas àquela lei de causas e
efeitos, ninguém escapa. É desta forma que a montanha
verde está sempre se movendo.
Isto é a impermanência, nós estamos mudando, mudando,
e por isto não existe nada em que possamos nos
segurar. Talvez existam dois tipos de religiões: a primeira
é como se segurar numa coisa, como se fosse um apoio,
um encosto. No outro tipo de religião, não tem nada para
se segurar, não há nada para se agarrar, por isto mesmo é
que tudo é vazio, por isto está tudo tranqüilo.
Esta idéia de vazio, do nada, é a filosofia fundamental
do Budismo. Muitos místicos cristãos também falam no
nada, como Maister Eckhart, ou São João da Cruz, que
fala sobre a noite escura. Então uma montanha verde está
sempre se movendo, e uma mulher de pedra dá a luz de
noite.
Nós precisamos mergulhar para nos encontrarmos conosco
mesmo, naquela noite escura do espírito. Quando
uma pessoa quer ter aquela experiência religiosa, ela precisa
ter uma preparação. Rezar, afastar-se dos demais e
começar a meditar em silêncio. Dentro de qualquer religi-
ão nós podemos encontrar aquele silêncio bem profundo,
através deste silêncio é que começamos a nos preparar
para uma purificação, para poder chegar até aquele estado
místico. Como disse São João da Cruz: a noite dos sentidos,
a noite do espírito, a noite da alma. Através desta
viagem interna começamos a nos afastar do mundo exterior
e começamos a trabalhar sobre o mundo interior, mergulhando,
mergulhando dentro da nossa subconsciência,
da inconsciência. Quando chegar ao fundo desta escuridão,
há aquela união com Deus, com o amor. Para esta
experiência, a escola Zen coloca uma palavra, a Ilumina-
ção, o satori. Este estado, um mestre o expressou da seguinte
maneira: numa noite escura, quando escuto a voz
do corvo sem cantar, tenho saudades do meu pai antes
que eu tivesse nascido. Este verso mostra aquele encontro
no fundo com o verdadeiro eu, a união com Deus. Numa
noite escura, totalmente escura, não dá para ver nada, escuto
a voz do corvo sem que este cante. O corvo é um
pássaro preto, dentro da escuridão não se vê nada e ainda
por cima, ele está sem cantar. E quando escuto a voz do
corvo sem que ele cante, tenho saudades do meu pai antes
que eu tivesse nascido. Pai é masculino, não tem aquela
força de fazer nascer, só a mulher é que pode fazer isto.
Mas quando escuto a voz do corvo sem que este cante,
tenho saudades do meu pai. Esta experiência é muito especial,
é uma coisa sagrada, uma coisa para nós seres humanos.
Nos discursos de grandes místicos cristãos, podemos
encontrar vários tipos de expressões parecidas. Eles
falam sobre essa dificuldade de expressão: inefabilidade,
difícil de expressar com palavras. Mas quando há aquela
experiência, aquela felicidade, aquela alegria, a pessoa
não pode manter-se calada, tem que procurar transmitir
aquilo para os outros. O estado do êxtase, a dificuldade de
expressão é momentânea, mas é muito forte e muito marcante,
e, mesmo assim, os sábios não ficaram calados e
sempre começaram a falar para outras pessoas; felizmente
isto foi transmitido até hoje através de seus sermões e atos.
Neste caso, não há nenhuma diferença entre o Oriente
e o Ocidente. Apesar de haver países diferentes e línguas
diferentes, culturas diferentes, estamos falando do mesmo
estado: Quando a pessoa tem essa experiência mística e
começa a expressá-la em palavras, é aí que aparecem as
diferenças, porque cada pessoa é educada e criada em certa
cultura e com certa religião. Por isto, quando a pessoa
tem esta experiência e começa a se expressar, usa palavras
e termos dos quais ela teve experiência e nos quais ela
viveu. Naturalmente assim, ela usa as palavras do Cristianismo
ou do Budismo ou do Hinduísmo, etc. Hoje em dia
já se iniciou um intercâmbio entre o Cristianismo e o Budismo,
especialmente o Zen. No ano passado sessenta
monges Zen foram convidados para ir à Alemanha, para
praticar meditação junto com os Freis Dominicanos.
O que importa é esta experiência fundamental, através
da meditação ganhar sabedoria. Esta não é uma sabedoria
deste mundo; não importa se a pessoa é doutor, médico,
advogado, etc. Isto não quer dizer sabedoria, apenas conhecimento.
A sabedoria deste tipo de experiência vê uma
outra dimensão deste mundo. Atravessar para mais além
destas percepções limitadas, mas como? Quando tiver esta
experiência da escuridão total, a pessoa faz uma limpeza
total do egocentrismo. Este trabalho é de certa maneira
muito doloroso, porque nós temos muitos apegos, muitas
ignorâncias.
É necessário limpar isto tudo completamente, através
da meditação. A meditação está sempre ligada com a sabedoria.
Há quatro tipos de sabedoria: a primeira sabedoria
é a sabedoria de um espelho redondo e grande, sendo o
tamanho dele o universo inteiro. Ele reflete todos os fenômenos
deste mundo, um espelho muito antigo. De madrugada,
uma senhora cega e de idade encontrou com este
espelho. Então, o que é que acontece? O espelho refletiu
exatamente aquela senhora idosa e cega, mais nada.
Mas isto é difícil de entender, porque nós temos discriminação
ou apego. Se aparecer uma moça bonita, aí
sim, que bom, quando ela vai indo embora ah, não vai
não. Quando o contrário acontece, isto é, a moça é feia,
então não desejamos que ela fique. Mas o espelho nunca
faz esta discriminação. O espelho simplesmente reflete
tudo aquilo que aparece.
O espelho reflete quando aparece a senhora de idade
ou a moça, porque para ele não faz a menor diferença, isto
significa que cada presença que aparece em frente ao espelho
é absoluta, eterna e perfeita. Quando não fazemos
discriminação de qualidade, cada pessoa está perfeita,
assim mesma como ela está. Nós nascemos carregando
todos aqueles Karmas de vidas passadas e podemos mudar
de vida, o presente e o futuro e até o passado, mas o que se
recebeu até agora, ser de naturalidade argentino, brasileiro,
japonês, isto não pode ser mudado nunca, este é o nosso
Karma.
Mas, isto não importa, a única coisa que posso fazer é
aceitar isto, viver isto com a minha responsabilidade total.
Quando eu encontrar dificuldades, problemas, sofrimentos,
é porque estou pagando o meu Karma. Se a pessoa
pode entender isto, o sofrimento não é mais sofrimento, é
muito simples. Por isto, cada um de nós que está aqui presente,
está vivendo totalmente perfeito. O Budismo diz:
nós somos Buda originalmente, mas nós estamos perdidos,
bêbados e dormindo, como se estivéssemos gritando
de sede no meio da água.
Um monge perguntou para o mestre: mestre, por favor,
me ensine o segredo do Budismo. Ah, sim, mas hoje
tem muita gente, quando não tiver mais ninguém eu vou
te ensinar, disse o mestre. No dia seguinte, o monge che-
gou de novo: mestre, não tem mais ninguém, me ensine
agora. Ah, vem cá, e foram para o jardim. Aí o mestre
disse: está vendo? Esta árvore é alta e esta outra árvore é
baixa. Este é que é o segredo do Budismo.
Não há nenhum segredo, tudo está aberto, transparente
e está na frente de todo o mundo, mas o problema é que as
pessoas fazem diferenças, se isto é alto então isto é bom,
essa árvore é grossa então posso vender mais caro, esta
outra árvore é baixa e feia e não vale nada, são as pessoas
que fazem diferença. E tudo isto é Karma que está aparecendo.
Dessa forma, este tipo de sabedoria reflete o que
aparece na frente da pessoa e não faz diferença. Com isto
nós chegamos à segunda sabedoria: a segunda sabedoria é
perceber a igualdade. A natureza de Buda está dentro de
cada um, mas isto é difícil de entender. Cada um pensa
que é diferente. Claro, há diferenças, como a água, que em
uma forma é gelo, e uma outra que é neblina, ou nuvens
ou chuva, mas afinal, tudo é a mesma água.
Descobrir que nós somos água, esta é a sabedoria da
igualdade. Não há diferenças e porque não há diferenças é
tudo igual. Isto não quer dizer por exemplo que o presidente
de um país seja a mesma coisa que um trabalhador
comum, de baixa categoria. O trabalhador comum pode
estar preocupado com o futuro do país, mas talvez ele não
possa fazer nada pelo país, cada um tem a sua função e
papel, cada um faz o que pode no seu trabalho.
Dentro de um mosteiro Zen há várias tarefas diferentes.
Há o cozinheiro, os diretores do mosteiro, o disciplinário,
etc., mas isto não significa que o valor de cada pes-
soa seja diferente. Por isto os Budistas quando se encontram
fazem o Gasshô. Gasshô significa reverenciar a natureza
de Buda que está dentro de você. Estamos vivendo e
sofrendo, com dores, mas no fundo nós temos a mesma
qualidade.
O treinamento de Zen é descobrir o verdadeiro eu, e
depois aplicar isto dentro da vida cotidiana, esta capacidade
e potencialidade são muito grandes. Para se encontrar
esta experiência e esta sabedoria, tem que se viver neste
mundo a vida cotidiana. Temos diferenças, mas no fundo
é tudo igual. Por exemplo, se se colocar o orvalho transparente
em cima de uma folha verde, nós vemos um orvalho
verde. E o mesmo orvalho transparente, se você colocar
em cima de uma flor vermelha, você vê a cor vermelha.
Assim, nós estamos vendo cores e formas diferentes em
cima de cada pessoa, mas neste momento o que ninguém
vê é aquela cor transparente.
A igualdade do vazio está dentro de nós, por isto a
primeira experiência Zen, através da meditação, é encontrar
o corpo do Buda cósmico. Este trabalho é difícil, porque
é necessário limpar tudo aquilo que já se aprendeu
desde que nasceu, e também aqueles Karmas que estamos
carregando. Por isso, o importante é começar a escutar o
ensinamento e experimentar o ensinamento.
O Buda disse, vocês não devem me respeitar apenas
com as aparências, vocês devem experimentar as minhas
palavras como se experimenta e testa o ouro dentro do
fogo. Dessa forma, quando a pessoa tem esta experiência,
a sua fé e a sua confiança se tornam absolutas, e não mu-
dam mais, não importa o que aconteça. Eu falei de dois
tipos de sabedoria: a primeira aquela sabedoria do espelho,
e depois a sabedoria da igualdade. A terceira sabedoria
é a pessoa começar a trabalhar dentro deste mundo
mundano, como uma flor de lótus que desabrocha no meio
das chamas. Como pode uma flor abrir dentro das chamas?
Isto pode acontecer. Moisés atravessou o Mar Vermelho.
Um homem chamado Jesus Cristo, o Nazareno,
mudou o mundo inteiro. Através do treinamento, o que
nós procuramos não são forças sobrenaturais, nós damos
muita importância é à nossa consciência. Através da meditação
nós não vamos voar pelo espaço, mas o nosso intelecto
consegue chegar até à lua. Realmente, isto é uma
coisa milagrosa. Este tipo de trabalho, quando a pessoa
conhece a si mesmo, o seu eu verdadeiro, ela começa a
mudar todos os pontos de vista, cento e oitenta graus.
Este mundo tem muitas compreensões erradas. Pensamos
que existe um eu, mas um eu não existe, apenas os
materiais e elementos estão se unindo provisoriamente,
formando este corpo.
Nós temos a consciência e a inconsciência depositando
todas as lembranças das vidas passadas e com isto se forma
a identidade do eu, mas o eu verdadeiro não é tão pequeno.
É necessário aprender aquilo que é não nascido,
porque quando nasce, morre. Quando não nasce, então não
morre. Quando estamos passando pela praia, nós vemos
ondas chegando e desaparecendo, isto é o nascimento e a
morte da vida. Quando se vê a água do mar, vê-se o aparecimento
e o desaparecimento, mas a água do mar nunca
vai diminuir e nunca vai aumentar; por isto, com experi-
ência, nós mergulhamos neste samadhi de oceano. Neste
caso, não há mais um nascimento e nem morte, é algo
eterno, mas mesmo assim, há nascimento e há morte: isto
é um pouco complicado, isto é sabedoria. Por exemplo: o
meu nome é Tokuda, mas eu não sou Tokuda. Entenda
isto, é muito simples. Tokuda é apenas um nome, como se
fosse um rótulo. Pode colocar um outro nome para facilitar,
pode chamar japonês careca, assim todo mundo entende.
A sabedoria do Zen é esta: eu sou Tokuda mas eu
não sou Tokuda. Eu sou Tokuda, mas eu não sou Tokuda,
e é por isto que eu me chamo Tokuda.
Parece complicado, mas é necessário dobrar duas ou
três vezes as idéias, aí nós chegamos realmente até nossa
identidade e quando nós sabemos isto, nós vivemos a vida
absolutamente. Nesse caso, nossa presença é a manifesta-
ção de todas as nossas vidas passadas.
A pessoa inteligente ou ignorante tem todas as razões
para ser ignorante ou inteligente, ou bonita, ou feia, mas
isto não quer dizer que ela seja melhor ou superior e que o
outro seja inferior. Cada um de nós está vivendo totalmente
dentro do mundo de Buda. Quando se entender isto,
vem o quarto tipo de sabedoria, que é a pessoa não viver
mais neste mundo de uma forma atrapalhada, porque nós
mesmos somos dignos de respeito, temos que respeitar a
nós próprios, não podemos mais viver fazendo tanta confusão..
Mas pensando bem, dentro de mim mesmo, será que
eu mereço este respeito? Nós temos muitas e muitas sujeiras
realmente, mas quando estamos sentados em medita-
ção de pernas cruzadas, mãos cruzadas e com a boca fechada,
nós somos Buda. Por que? Porque com esta posi-
ção não se pode fazer atos maus, com as pernas cruzadas,
com aquela postura e com aquela respiração correta não se
pode mais falar mal dos outros. Com isto, naturalmente
vêm os pensamentos chamados corretos, então você mesmo
é Buda. É difícil aceitar isto, mas quando você senta,
que seja somente vinte minutos, trinta minutos, você é
vinte minutos, trinta minutos de Buda.
Este é o ensinamento de Buda. Reconhecer a si mesmo
como Buda é difícil, mas isto não tem muita importância.
Vamos supor que eu queira ver o meu rosto dormindo,
o olho em frente ao espelho. Quando abro o olho,
já não estou mais dormindo. O treinamento para se chegar
até o estado de Buda é muito difícil, mas a primeira coisa
que a pessoa tem que fazer é começar a imitar. Se você
começa a imitar um ladrão, então você é um ladrão. O
ladrão é aquele que rouba. Então você imita o ladrão, rouba
e é preso pelo guarda, não senhor guarda, estou apenas
imitando um ladrão, ele vai te colocar na cadeia assim
mesmo. Nós temos a idéia de ego, mas é bom imitar, fazer
coisas boas, seguir o exemplo da prática dos sábios.
Diz a Bíblia que a mão esquerda não pode saber o
que a mão direita fez. Realmente esta idéia de ego é muito
forte, mas a única maneira através da qual nós podemos
avançar é imitando as coisas boas, que são melhores do
que as coisas ruins. Quando se faz coisas boas, recebe-se
os efeitos bons, pela lei de causas e efeitos. Estas experi-
ências estão sendo registradas de momento a momento,
dentro de nosso inconsciente, é como uma semente que
está se depositando e quando encontra as condições favoráveis
brota, aí a gente começa a ver este mundo de uma
forma totalmente diferente.
Existem muitas pessoas que pensam que nós nascemos
neste mundo, mas não é isto. Nós nascemos no nosso pró-
prio mundo e estamos vendo a nossa própria consciência.
Por isto quando conseguimos a limpeza total dentro da
nossa inconsciência, começamos a ver então um mundo
maravilhoso. A pessoa está vivendo neste mundo como se
fosse uma guerra, como um inferno, porque isto é um estado
de consciência. Um samurai (samurai é um antigo
guerreiro japonês) chegou a um mestre e perguntou: mestre,
é verdade que realmente existe um inferno e também
um paraíso neste mundo? O mestre disse: idiota, você não
sabe destas coisas até hoje? E ainda tem a audácia de vir
aqui me perguntar?
Antigamente, os guerreiros samurais tinham aquele
orgulho muito forte. Nem meu próprio pai me chama de
idiota. Mesmo o senhor, mestre, caso não se retratar do
que disse, não poderei deixar o senhor viver, e vou te
matar com minha espada, disse o samurai. O mestre disse:
muito interessante, você quer tirar a espada da bainha?
Aí está o inferno. O samurai compreendeu as palavras do
mestre e começou a abrir um grande sorriso. Ah, muito
bem disse o mestre, agora seu sorriso é o paraíso. Dessa
forma, estamos vivendo cada momento no estado de inferno,
apegados como se fôssemos demônios famintos,
temos aquela falta de inteligência como se fôssemos um
animal, e fazemos complicações como se fôssemos Asuras.
Para nós seres humanos, a água é água, claro. Mas para
os peixes, a água não é água. Água para os peixes é
casa, ou é um palácio. Para os seres divinos a água é como
se fosse um espelho, ou uma jóia. Para os demônios e para
os espíritos famintos, água não é mais água, mas sim fezes,
pus e sangue. Assim, a forma como se vive neste
mundo depende do estado de consciência de cada um e
por isto o treinamento de Zen é transformar este corpo
físico de carne e osso no corpo de Buda.
Este corpo quer dizer inclusive a nossa consciência.
Quando o mundo interno se transforma, então o mundo
externo também começa a se transformar. Da maneira que
eu mudo o presente, começo a mudar o futuro e posso até
mudar o passado. Há mais ou menos vinte anos atrás eu
estava treinando no mosteiro no Japão, e lá eu apanhava
muito, este é um método de Zen, mas hoje em dia eu agradeço
aquele tipo de treinamento que passei. Naquela
época eu sofria e pensava porque estou aqui? Tudo isto
que estou fazendo é bobagem. Pensava desta maneira, mas
hoje sou agradecido realmente, foi tudo muito bom para
mim. Eu perdi o meu pai com a última guerra, a segunda
guerra mundial. Meu pai dizia para nós, que somos três
irmãos, que um talvez fosse médico, um monge e o outro
músico. Ele era marinheiro e foi à segunda guerra mundial,
sabia que iria morrer e realmente morreu, mas estava
tranqüilo e hoje em dia eu agradeço o fato dele ter morrido
com a guerra, porque com isto recebi esta mensagem, e
pude realizar pelo menos um de seus desejos.
O médico, o monge, o músico, então pelo menos uma
destas coisas eu cumpri. Com a morte dele, estou aqui e
estou muito contente com aquilo que estou fazendo. Eu
sempre quis este tipo de trabalho no Brasil e agora também
na Argentina. Eu me encontro comigo mesmo, estando
aqui.
O treinamento Zen sempre coloca viver o aqui e o agora.
Se a pessoa consegue viver aqui e agora fazendo bons
trabalhos, não é futuramente que as coisas vão ficar boas.
É neste momento mesmo, imediatamente, que o mundo
inteiro fica bom.
Acho que estou falando já há muito tempo. Faltam doze
minutos para as dez horas, eu vou parar um pouquinho
e se tiverem perguntas sobre alguns assuntos, sobre Budismo
ou Zen, ou sobre outra coisa qualquer, eu gostaria
de conhecer as perguntas.
Pergunta: Como o senhor aplicaria a doutrina Zen para
o ocidental?
Resposta: Ah, sim. A aplicação do Zen para o mundo
ocidental não mudou nada desde que o Zen surgiu. Onde o
Budismo correto é transmitido sempre existe a prática do
Zazen, só isto.
Pergunta: Qual é o mecanismo através do qual este
processo físico produziria uma evolução no homem? Como
poderiam os castigos que o senhor recebeu no seu treinamento
ajudar na sua evolução?
Resposta: Eu acho que qualquer profissão, para que se
consiga alcançar um alto nível, tem muitas dificuldades:
artistas ou dançarinos ou esportistas têm que realizar esforços
ou sacrifícios. Durante este processo de treinamento
Zen estamos tentando conseguir aquele mergulho profundo
e justo neste momento chega o instante do limite
físico e espiritual. O mestre sabendo disto, aplica a pancada
justamente para que se consiga superar aquela dificuldade.
Pergunta: Será que nós neste momento temos a menor
possibilidade de chegarmos à compreensão do Zen?
Resposta: Neste momento é muito importante a confiança
na palavra do Buda: nós somos originalmente Buda.
É isto. Porque Buda, o Buda Gautama pessoalmente realizou
isto e deixou o ensinamento, e com isto muita gente
mudou. Estes são os grandes testemunhos. Pelo menos
com o nome Budismo historicamente nunca houve motivações
para guerras ou escravidão.
Pergunta: Porque foi que o senhor disse que com o intelecto
a pessoa pode chegar até a Lua?
Resposta: Intelecto é a sexta consciência, ainda tem
limites. Com a consciência nós podemos juntar os conhecimentos
cada vez mais, até construir naves espaciais para
ir até a Lua, esta força é muito grande, mas a sexta consci-
ência é limitada à inconsciência que estamos depositando.
O que se pode modificar são as sétima e oitava consciências,
o inconsciente.
Pergunta: Se você estuda o suficiente você pode ir até
a Lua?
Resposta: Chegar até a Lua não interessa, o importante
é que precisamos mudar não só o que estamos vendo, escutando,
como também mudar internamente. O assunto
não é este.
Pergunta: Através do intelecto como prática a pessoa
pode despertar para estes níveis de consciência?
Resposta: Como eu já disse, o aprendizado tem que ser
com o intelecto. Escutar, pensar e experimentar, mas o
aprendizado é estudar não estudando, é desejar para não
mais desejar. Por exemplo, se temos algum problema de
estômago, sentimos a presença do estômago, e por isto
procuramos o médico, e começamos a tomar remédio, mas
quando a pessoa está curada totalmente, então ela não se
lembra mais da presença do estômago. O nosso intelecto
tem limites, mas mesmo assim os Budistas dão muita importância
a ele. Por isto eu coloquei a importância do nosso
intelecto, conseguir chegar até à Lua.
Pergunta: O Buda cósmico é o mesmo que o Cristo
cósmico?
Resposta: Acredito que sim.
Pergunta: Porque os monges mostram apenas um ombro
coberto com o manto?
Resposta: Isto é um costume da Índia. Quando o monge
mostra o ombro direito, isto quer dizer respeito para
todos. Quando os dois ombros estão cobertos com o manto,
isto significa que ele é Buda.
Pergunta: No Zen, o coração espiritual está do lado direito?
Resposta: O Budismo não coloca a direita ou a esquerda,
é o Caminho do Meio.
Pergunta: O que significa este rosário que o senhor
tem sobre a mesa?
Resposta: Este rosário tem 108 contas e nós temos 108
ignorâncias. Este rosário é para lembrar disto. Temos o
costume nos templos Budistas de, no fim do ano, na passagem
do ano, tocarmos 108 gongos. Cada toque é para
esquecer uma ignorância, para receber o ano novo.
Pergunta: O desejo interior é o equivalente da vontade
divina? Não devemos passar pelo desejo para chegarmos à
vontade divina?
Resposta: Nós Budistas não procuramos eliminar os
desejos, mas sim saber que nós temos desejos e refletindo
sobre isto, já se elimina a metade dos desejos.
Pergunta: Há diferença entre o Budismo ortodoxo e o
Zen?
Resposta: Acho que sim.
Pergunta: Por quê?
Resposta: O Budismo Zen surgiu na China, naquela
época alguns imperadores eram Taoístas e começaram a
atacar os Budistas. Queimaram os templos, livros sagrados,
mataram monges e monjas. Por isto alguns monges se
tornaram leigos, alguns outros fugiram para o fundo da
montanha onde não chegava ninguém. Eles começaram a
transmitir os ensinamentos Budistas sem livros, sem imagens
de Buda, sem nada. Apenas transmitiam com este
contato direto entre o mestre e o discípulo. Quando por
exemplo, eu te pergunto de onde você vem, eu não estou
falando sobre se você veio do Brasil ou do Japão. Antes de
você nascer onde você estava? Depois da morte, onde
você vai? Perguntando assim, entre conversas, perguntas e
respostas, foi que surgiu o ensinamento Zen. Um mestre
estava fazendo limpeza na sala, chegou um monge e disse,
“Este mundo originalmente está todo limpo. Porque precisa
varrer?” “Aí vem um outro grão de pó”, disse o
mestre. Assim, vivendo a vida cotidiana e através destes
tipos de diálogos, o Zen mostra o ensinamento e isto geralmente
não se encontra em outras escolas Budistas ortodoxas,
onde tudo depende de sutras, sermões de Buda,
cerimônias. O praticante de Zen não dá muita importância
a livros sagrados Budistas ou exterioridades. A prática do
Zen é a meditação, é entrar no mesmo estado de Iluminamento
que o Buda alcançou. Quando se chega a este ponto
pode-se usar livros sagrados ou sutras ou ensinamentos
livremente.
Pergunta: Para meditar é necessário preparação?
Resposta: Sim, é necessário. Em primeiro lugar é necessário
o desligamento com o mundo exterior, depois
comer e beber com moderação, procurar agir corretamente,
e por aí vai.
Pergunta: Como fazer para deixar tudo de lado?
Resposta: Você deve ver o corpo e a mente como uma
coisa só, por isto há o método de Zazen. Sentar naquela
postura, controlar a respiração, é muito importante. O Zazen
é o barômetro da nossa saúde. Quando a pessoa senta
e sente dores sempre no mesmo lugar, estão este lugar,
fígado, rins, pulmão etc., está com problema. Depois vem
o controle da respiração. A respiração está ligada à emo-
ção diretamente. Quando a pessoa está triste chora, quando
está com muita raiva, fica com a respiração ofegante.
Se se sabe controlar a respiração internamente, naturalmente
consegue-se o estado da mente em paz.
Por exemplo, existe o método de Mu como mantra.
Quando se expira, é utilizado este método. Geralmente a
pessoa respira 17 ou 18 vezes por minuto.
Mesmo que você não tenha experiência, se usar este
método de Zazen, imediatamente a quantidade de respira-
ções baixa à metade ou menos ainda, sem esforço algum.
Eu vou mostrar. Alguém de vocês pode contar
Muuuuuuuuuu (expira). Isto é uma expiração. Geralmente
leva-se 10 segundos para expirar e 5 para inspirar.
Quando se medita desta forma, respira-se cerca de 4 vezes
por minuto, com isto aparece a onda alfa no cérebro. Isto é
o estado tranqüilo, descansado, dessa forma pode-se ver o
mundo tranqüilo e em paz.
Pergunta: Como é que se trabalha um Koan?
Resposta: O trabalho Koan é se tornar uma coisa só
com o Koan. Um monge perguntou, o cachorro tem a
natureza de Buda ou não? O mestre respondeu Mu. Este
é um Koan. O trabalho com Mu é se tornar Mu, o universo
inteiro se tornar Mu. Este corpo pequeno desaparece e
o eu se torna o universo inteiro, o mundo inteiro é só Mu.
Este é o trabalho do Koan. Não sou eu que faço a concentração
do Mu, senão eu e Mu seríamos duas coisas separadas.
Mu é que está fazendo Mu. (A tradutora explica).
Isto já é explicação. Merece trinta pancadas.
Pergunta: O Budismo Zen acredita na encarnação?
Resposta: Sim e ao mesmo tempo não.
Pergunta: Se sim, isto não seria uma prolongação do
ego?
Resposta: Por isto o outro lado é não. Agora quero
perguntar: Porque você pergunta isto?
Pergunta: Para se chegar à perfeição temos que fazer
ascetismo?
Resposta: O treinamento Zen não é ascético. Por exemplo,
quando a moça está cantando, se a corda do vio-
lão está muito tensa ela quebra e se está muito relaxada
não faz som. Isto é o Caminho do Meio. O Buda Shakyamuni
fez vários tipos de treinamento ascético na sua
época. Quando compreendeu que aquilo só iria levá-lo à
exaustão e à morte, ele abandonou o treinamento ascético.
Para chegar à compreensão completa, simplesmente relaxe
todo o corpo e transforme o inconsciente totalmente,
desde a consciência de Alaya até a consciência de Manas.
As pessoas pensaram por três vezes que o Buda tinha
morrido com o treinamento ascético, mas ele não
morreu. Um tipo de treinamento é parar a respiração até
morrer, o ar sai pelo ouvido. As pessoas acreditavam que
se se conseguisse morrer desta forma, depois da morte elas
nasceriam no paraíso, mas a primeira pergunta do Buda,
que deu origem à sua procura, era por quê existe o sofrimento?
O que é a extinção do sofrimento? Isto foi uma
coisa que o treinamento ascético não respondeu, por isto
ele escolheu a meditação e começou a meditar por conta
própria. Dessa forma, o treinamento Budista não é ascético,
é o Caminho do Meio e é normal, a gente fica completamente
normal, não é para ganhar poderes sobrenaturais.
Como Mestre Dogen disse, o nariz está vertical, o olho
está horizontal.

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